3 formas como funcionários aprendem suas habilidades mais valiosas

Como proteger e aprimorar suas habilidades para o futuro do trabalho

Créditos: Thor Alvis/ Unsplash/ DNY59/ iStock

Matt Beane 6 minutos de leitura

Pense na sua habilidade mais valiosa. Aquilo que você é capaz de fazer mesmo sob pressão, entregando resultados e fazendo parecer mágica para quem está por perto. Como aprendeu isso? Décadas de pesquisa sugerem que o domínio de uma habilidade é alcançado trabalhando com alguém que sabe mais do que você.

Bem-vindo à relação mestre-aprendiz – algo que existe desde antes da maioria das civilizações. Mestres só conseguem fazer o que fazem com ajuda, e aprendizes querem ajudar e aprender.

O ensino formal, na melhor das hipóteses, só te ensina as regras do jogo. Permite que você comece a jogar. Ter conhecimento conceitual ou fazer exercícios práticos é bem diferente de ser capaz de fazer o trabalho sob pressão. Para chegar lá, a maioria de nós ainda depende principalmente da colaboração com um mestre.

Nos últimos 10 anos pesquisando sobre tecnologia e trabalho, descobri o segredo do sucesso dessa relação tão poderosa. Quando digo “segredo”, me refiro ao que é necessário para que aprendamos nossas habilidades mais valiosas.

A resposta está no desafio, na complexidade e na conexão. Estes três elementos são a chave para se tornar habilidoso em algo. Se você puxar pela memória, verá que todos eles estiveram presentes na sua jornada para se tornar tão bom em determinadas tarefas quanto é hoje – e também em como ajudou outros a alcançar o mesmo.

DESAFIO

Décadas de pesquisa em educação, habilidades motoras, psicologia da aprendizagem, sociologia das profissões – e agora até neurobiologia e inteligência artificial – confirmam que aprendemos melhor quando temos desafios saudáveis: se for muito maior do que podemos lidar, nos esgotamos; se for simples demais, estagnamos.

Dois pesquisadores, Mark Guadagnoli e Timothy Lee, sugeriram que os aprendizes se saem melhor quando trabalham no seu “ponto de desafio ideal”. Este é um ponto no qual você desenvolve a habilidade e a confiança a longo prazo enquanto ainda desempenha bem a tarefa a curto prazo. Assim como muitas coisas na vida, trata-se de equilíbrio: nem muito difícil, nem muito fácil.

O desafio saudável é quando:

  • O trabalho está perto – não muito acima nem muito abaixo – das suas capacidades
  • O nível de desafio não é constante: partes do trabalho são simples
  • Você busca melhorar seu desempenho e não quer falhar
  • Ainda não domina totalmente, mas se recupera de pequenas falhas
  • Tem tempo para se recuperar
  • Tem trabalho suficiente pela frente para enfrentar desafios semelhantes e aplicar o que aprendeu com os erros
  • Cria, procura e até compete por desafios quando eles não são tão difíceis
  • Em troca, seus mentores garantem que você entende o objetivo e ajudam a gerenciar a frustração
  • Ajustam o ensinamento de acordo com sua habilidade em desenvolvimento
  • Interferem apenas em tarefas mais desafiadoras e param de ajudá-lo conforme vai sendo capaz de enfrentá-los sozinho

COMPLEXIDADE

A psicologia, educação, sociologia, neurobiologia e inteligência artificial oferecem forte apoio à ideia de que precisamos de experiências saudáveis com a complexidade para desenvolver habilidades de maneira ideal. Se for muito complexo, ficamos sobrecarregados; se for simples, não crescemos.

Agora sabemos que as pessoas aprendem melhor quando são colocadas em situações realistas, dinâmicas e interconectadas – complexas, não perfeitas. Esta é a diferença entre manter suas mãos no lugar certo sobre o teclado versus digitar em um ritmo razoável em um lugar barulhento ou em um barco a vela balançando.

Crédito: Freepik

Há outro componente essencial em como lidamos com a complexidade: reflexão. Pesquisas concordam nesse ponto: não se desenvolve habilidades apenas colocando a mão na massa. É preciso tempo longe da tarefa para entender toda a complexidade com a qual lidou.

Pesquisas também mostram que a representação mental – lidar com toda essa complexidade até chegar a um entendimento que nos ajude a agir habilmente na situação – ocorre principalmente após o trabalho, quando temos a chance de descansar e refletir.

Depois de pouco tempo de imersão, podemos ver padrões que não víamos antes. E esses novos padrões nos permitem ver uma maneira melhor de agir da próxima vez que tentarmos.

A complexidade saudável é quando:

  • Você aprende os conceitos básicos sobre o trabalho pouco antes de começar
  • Minimiza o aprendizado explícito – após ser orientado, em geral, é melhor aprender na prática
  • Tem tempo livre para refletir sobre o trabalho
  • Reflete através da visualização
  • Não tenta controlar suas respostas automáticas pensando conscientemente em regras
  • Tem tempo suficiente longe do trabalho para esquecer partes significativas dele
  • Conta com um especialista que questiona ou redireciona o seu foco, mas evita explicar o jeito certo ou o porquê
  • Em troca, tratam sua ingenuidade como uma vantagem
  • Quanto melhor você se torna em uma tarefa, mais observa o contexto mais amplo do seu trabalho e presta atenção nas partes que lhe interessam

CONEXÃO

Frequentemente admiramos líderes que receberam mentoria no estilo “O Diabo Veste Prada”, isolando-os, sem qualquer orientação e fazendo críticas severas. Mas isso, geralmente, é um indicador de desenvolvimento inadequado de habilidades.

Se você quer aprender com desafios e complexidade saudáveis, precisará de um mentor que esteja preocupado em ensinar e oferecer suporte. Mas também há um aspecto mais pessoal: ficamos mais motivados quando há respeito e confiança entre aqueles que compartilham nossos valores.

É preciso tempo longe da tarefa para entender toda a complexidade com a qual a pessoa lidou.

Não nascemos com uma ideia clara do que queremos alcançar e dominar – as competências específicas que queremos ter. Descobrimos esses objetivos e motivação através das pessoas ao nosso redor, enquanto criamos vínculos e buscamos sua aprovação.

Isso é verdade quer nos tornemos engenheiros, cientistas, atores, professores ou escritores. Outras pessoas nos guiam e ajudam a moldar nossa compreensão do que é apropriado e inapropriado, valioso e não valioso, certo e errado e assim por diante. A força da nossa conexão com os outros nos mostra quais habilidades queremos desenvolver.

Uma conexão saudável para desenvolver habilidades é quando:

  • Proporciona acolhimento, vínculo e cuidado
  • Faz com que ambos sintam que você e seu trabalho são importantes aos olhos dos outros
  • É baseada em confiança
  • Há respeito
  • Envolve ambos estarem cuidadosamente sintonizados um com o outro, limitando distrações e julgamentos
  • Dá a ambos feedback sobre como a relação está indo
  • Envolve o ajuste do conjunto de metas, métodos e atribuições para permitir que ambos tenham uma autoria satisfatória em sua jornada de trabalho e desenvolvimento de habilidades
  • Permite que você oriente e ensine outros quando desenvolve uma habilidade sólida
  • O mentor defende você fora do escopo do projeto compartilhado
  • Resulta em um “término” quando atinge um nível de habilidade suficiente para lidar com projetos complexos por conta própria.

    Este trecho do livro "The Skill Code: How to Save Human Ability in an Age of Intelligent Machines" (O código da habilidade: como salvar a habilidade humana em uma era de máquinas inteligentes, em tradução livre), de Matt Beane, foi reproduzido com permissão da Harper Business.


    SOBRE O AUTOR

    Matt Beane é pesquisador no campo da robótica e da inteligência artificial, escritor e professor assistente de administração de tecnol... saiba mais