A psicologia ensina: como parar de se preocupar com a opinião dos outros

O medo da opinião alheia pode nos manter presos e limitados, alerta este especialista

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Stephanie Vozza 4 minutos de leitura

Se você já seguiu o bonde só para se encaixar ou se já ficou calado para evitar o risco de ser julgado, é porque já experimentou o medo da opinião dos outros. Isso é natural, mas, quanto mais cedo você mudar sua relação com o que os outros pensam, mais cedo se sentirá  livre para ser você mesmo, diz Michael Gervais, psicólogo e autor de "The First Rule of Mastery: Stop Worry about What People Think of You" (A primeira regra da excelência: pare de se preocupar com o que as pessoas acham de você, em tradução livre).

O medo da opinião dos outros – ou FOPO, como Gervais denomina (em um acrônimo da expressão em inglês fear of other people's pinions) – é generalizado. Ele nos mantém estagnados e limitados. Mas há razões biológicas e sociais para isso acontecer.

Se você está atento apenas ao que os outros pensam, acaba vivendo sua vida segundo a régua dos outros e não segundo a sua própria.

"Nosso cérebro foi projetado para a sobrevivência e está constantemente examinan- do o ambiente para detectar todas as situações potencialmente perigosas", diz ele. "Uma das coisas de que nos esquecemos é que, se fôssemos expulsos da tribo há milhares de anos, isso era como uma sentença de morte."

Para sobreviver, o cérebro se tornou sintonizado com a necessidade de aceitação e criou uma psicologia na qual está constantemente tentando se encaixar.

As experiências sociais também acionam os antigos mecanismos de luta, fuga e congelamento do cérebro. Por exemplo, as mídias sociais tornaram nossas vidas mais públicas do que nunca, o que oferece mais oportunidades para o cérebro se ocupar reagindo aos comentários e sinais alheios. 

COM QUEM VOCÊ DEVERIA SE IMPORTAR?

Depender de aprovação alheia para tudo é uma coisa, mas se importar com a opinião de alguns é diferente. Devemos nos importar com as opiniões de dois grupos: pessoas que realmente nos conhecem bem e que se preocupam com nosso crescimento e as que superaram obstáculos extremamente difíceis na vida, segundo Gervais.

"Se é para prestar atenção às opiniões dos outros, aquelas que mais importam são as que vêm de pessoas que tem o compromisso fundamental de se preocupar com você e as que vêm de gente que passou por algo difícil na vida e esteve na beira do abismo."

DESAPEGANDO DA NECESSIDADE DE APROVAÇÃO

A opinião de qualquer um que não se enquadre nesses dois grupos não deveria ter tanto peso. Deixar de dar poder a essas pessoas significa reconhecer os caminhos que nos levam e que nos tiram do FOPO, diz Gervais. Em primeiro lugar, tome consciência de que as chances de desenvolver FOPO estão por toda parte. 

"Depois de perceber que isso faz parte de sua psicologia interna, você pode desenvolver um conjunto de habilidades para ajudá-lo a lidar com isso quando a sensação vier e você estiver ciente disso."

Outra experiência de FOPO é a paranoia incessante diante da possibilidade de rejeição. Quando você fica o tempo todo testando se foi aceito, está perdendo o foco necessário para ter um bom desempenho nas suas tarefas.

Quando sentir que o FOPO está surgindo, substitua os pensamentos por exercícios de respiração e de reflexão que levem à atenção plena. Expirações longas, por exemplo, podem ser revigorantes. Preste atenção à narrativa em sua cabeça e repita que não vai se submeter ao que os outros possam achar de você.

Se é para prestar atenção às opiniões dos outros, aquelas que mais importam são as que vêm de pessoas que se preocupam com você.

Você também pode encontrar um caminho para sair do FOPO esforçando-se para ter mais conversas com pessoas sensatas. "Essas são pessoas que têm uma compreensão profunda de como as coisas funcionam", diz Gervais. "Pode ser um psicólogo, um coach ou a vizinha mais velha. É alguém que pensa a partir de um lugar de experiência. Eles tendem a fazer perguntas abertas, em vez de perguntas muito pontuais."

Por fim, pare de centrar sua autoimagem no seu desempenho, que é um modelo de comparação, e mude para uma autoimagem orientada por objetivos. Sua identidade precisa ser uma expressão e não uma definição de quem você é.

"As pessoas [que] se concentram no propósito de vida, e não apenas no desempenho, se libertam da opinião dos outros, porque o propósito é tão grande que se torna muito importante para elas", diz ele. "As opiniões de outras pessoas são insignificantes em comparação com a intensidade de um propósito pessoal que realmente importa."

POR QUE ISSO É IMPORTANTE

Embora o FOPO seja um mecanismo que nos mantêm seguros, ele também nos mantêm limitados, diz Gervais. "É uma tentativa exaustiva de tentar interpretar o que os outros estão pensando para evitar uma avaliação negativa."

Se você está atento apenas ao que os outros pensam, acaba vivendo sua vida segundo a régua dos outros e não segundo a sua própria. "O FOPO é um mecanismo de antecipação, ou seja, acontece antes mesmo da interação com outra pessoa", diz Gervais. 

"É uma preocupação excessiva não com o que a pessoa está pensando, mas com o que ela pode pensar de ruim sobre você. É um dos maiores limitadores do potencial humano. Isso nos impede de sermos honestos e autênticos e de darmos o melhor de nós mesmos."


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais