Por que as mulheres recebem mais feedbacks negativos que os homens
Feedback negativo sobre a personalidade aparece muito mais em avaliações de mulheres; poucos homens ouvem algo sobre simpatia ou emoções
“Você tem feito um ótimo trabalho. O único aspecto em que você poderia melhorar é que algumas pessoas te acham intimidadora.” Foi com esse feedback que comecei meu ano de 2019.
Na semana seguinte, escrevi um artigo intitulado “Avaliações de desempenho baseadas na personalidade são aceitáveis para mulheres – desde que os homens também sejam avaliados.” Meu gerente brincou, na avaliação do ano seguinte, que hesitou em me dar feedback novamente, com medo de que fosse parar de novo em outro artigo na revista "Forbes".
Naquele texto, citei um estudo de 2014 realizado pela minha amiga Kieran Snyder, que na época era CEO da Textio. Ela descobriu um padrão gritante: feedbacks negativos sobre personalidade apareciam em 76% das avaliações de mulheres, mas em apenas 2% das de homens.
Infelizmente, dados mais recentes mostram que pouca coisa mudou. Segundo um novo estudo da Textio, 56% das mulheres foram descritas como “pouco simpáticas” (contra 16% dos homens), e 78% foram taxadas de “dramáticas” (versus 11% dos homens).
Na minha trajetória na indústria de tecnologia, iniciada em 2003, e em posições de liderança desde 2011, já presenciei um executivo homem socando a mesa por causa de resultados ruins e outro chamando alguém de “totalmente idiota” por causa de uma ideia apresentada. Mas duvido que qualquer um deles tenha recebido críticas sobre seu “temperamento” ou “tosquice”.
Apesar de receber consistentemente avaliações positivas, já ouvi de colegas e superiores que sou:
- Muito emotiva;
- Muito irreverente;
- Muito intimidadora;
- Muito condescendente;
- Muito rápida para tomar decisões;
- Muito lenta para tomar decisões.
Também já me disseram (e isso veio de uma gerente mulher) que eu deveria ser “mais como um dos caras” e falar menos sobre meus filhos.
Enquanto crescia na carreira, passando de colaboradora individual a executiva, fui alvo de especulações sobre como cheguei lá: nepotismo, tokenismo, favoritismo, ou simplesmente tempo de casa.
Certa vez, uma assistente me chamou de lado, preocupada porque talvez minha voz “soasse muito jovem” para eu ser levada a sério. Um líder homem, orgulhoso, tuitou sobre como “ajudou” a alavancar minha carreira e a de outras mulheres. Em resposta, escrevi uma sátira (e enviei para ele).
Não adianta tentar se moldar às expectativas enviesadas que perpetuam as desigualdades.
Quando fundei minha própria empresa e passei anos buscando investidores, comprovei pessoalmente um estudo de 2017 que apontava como mulheres empreendedoras recebem eram perguntadas sobre como iriam evitar o fracasso enquanto aos homens se pergunta “quão grande pode ser seu sucesso?”.
Enquanto CEOs homens precisam cometer crimes ou assediar pessoas para virarem notícia, CEOs mulheres frequentemente sofrem ataques públicos por “defeitos de personalidade”.
Por outro lado, como alguém que já realizou centenas de avaliações de desempenho, sei que é desafiador dar feedback prático e útil – especialmente para pessoas que fazem um trabalho excelente. Mas é exatamente nesses momentos que precisamos examinar nossos preconceitos.
Se as mulheres são elogiadas por serem prestativas, enquanto os homens são aplaudidos por sua confiança; se as mulheres são incentivadas a serem “menos agressivas”, enquanto os homens são vistos como “ambiciosos” – há algo a ser desconstruído.
Para todas as mulheres que se frustraram ao ver sua avaliação de desempenho arruinada por críticas baseadas em personalidade: entendo vocês. Sugiro perguntas que podem transformar esse feedback em algo mais prático:
- Quais metas mensuráveis devo atingir para provar que estou pronta para o próximo passo?
- Que recursos você recomenda para preencher lacunas em minhas habilidades?
- Você pode apontar, no momento em que acontecer, quando eu demonstrar [traço de personalidade citado]?
Depois de pedir mais esclarecimentos e começar a trabalhar nas áreas apontadas, siga em frente sendo você mesma. Não adianta tentar se moldar às expectativas enviesadas que perpetuam essas desigualdades. O melhor que você pode fazer é ser autêntica e confiante em quem você realmente é.
Da próxima vez que alguém lhe disser que você é "demais" em algum aspecto, lembre-se de que o desconforto é mais um reflexo das limitações deles do que das suas. Continue aparecendo, sendo você mesma e abrindo espaço para que outras façam o mesmo.
Porque a verdade é que, quanto mais mulheres ascenderem à liderança, mais mudaremos a aparência da liderança e menos espaço haverá para feedbacks baseados em estereótipos.