Balanços e reflexões sobre empreendedorismo

Créditos: Softulka/ paseven/ iStock

Pâmela Carvalho 3 minutos de leitura

Estamos na virada do ano. Como de praxe, é um momento no qual muitas pessoas, grupos e instituições fazem planejamentos, avaliações e balanços. Para além das questões ligadas à mensuração de impactos, estratégias de expansão e resolução de problemas e processos avaliativos, essa época tem um quê de ritual.

Cada um destes balanços é também uma oportunidade de olharmos para nós. Institucionalizados ou não. De forma individual ou coletiva. É momento de olhar para trás e olhar para dentro.

Os adinkra consistem em um conjunto de símbolos que encapsulam ideias expressas por meio de provérbios. Originários dos povos acã – predominantemente dos asante em Gana, na África Ocidental –, os adinkra representam um dos diversos sistemas de escrita africanos.

Dentro deste conjunto, destacamos o adinkra Sankofa. É um conceito e símbolo da cultura africana que representa a importância de aprender com o passado para construir o futuro. O termo significa "voltar para buscar".

O símbolo de Sankofa é representado por um pássaro que voa para frente, com a cabeça voltada para trás. O pássaro carrega no bico um ovo, que representa o futuro.

Símbolo adinkra para sankofa (Crédito: Sankofa.org)

O conceito de Sankofa é importante para a cultura africana porque enfatiza a importância da tradição e da história. Os africanos acreditam que o passado pode ensinar muito sobre o presente e o futuro. Ao aprender com o passado, os africanos podem evitar cometer os mesmos erros e construir um futuro mais próspero.

O símbolo é uma metáfora para a importância de olhar para o passado para, a partir dele, construir o futuro. Essa tecnologia é providencial para pensarmos o ano de 2023 e projetarmos 2024.

NÚMEROS DO EMPREENDEDORISMO

No âmbito do empreendedorismo, há alguns dados e debates que chamam a atenção. De acordo com o Mapa de Empresas (produzido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços em colaboração com o Serpro) entre janeiro e agosto de 2023 foram abertas 2,7 milhões de novas empresas.

Isso totaliza 21,8 milhões de empresas ativas em todo o território nacional, com 93,7% delas sendo classificadas como microempresas ou empresas de pequeno porte. No segundo quadrimestre, a média de tempo gasto para a abertura de empresas foi de um dia e cinco horas.

O estado do Maranhão apresentou o maior aumento proporcional no número de novas empresas (7,7% em relação ao primeiro quadrimestre), enquanto a Paraíba registrou a maior queda proporcional (5,7%). Em termos absolutos, São Paulo liderou o ranking dos estados com o maior número de empresas abertas (408.116), seguido por Minas Gerais (147.147) e Rio de Janeiro (115.264).

Crédito: MDIC

Com base em dados fornecidos pela Receita Federal, o Sebrae voltou sua atenção para os pequenos empreendimentos. No primeiro semestre de 2023, o Brasil experimentou um impulso significativo, com a criação de 868,8 mil novos pequenos negócios.

O relatório também destaca que aproximadamente 1,9 milhão de pequenos negócios foram inaugurados, enquanto cerca de 1,1 milhão encerraram suas atividades.

O primeiro semestre de 2023 representou um período de prosperidade para as microempresas e empresas de pequeno porte também. Houve um resultado positivo de 183,1 mil novas empresas registradas.

Esse desempenho superou os resultados dos últimos três semestres, indicando uma trajetória ascendente e estável no ecossistema empreendedor brasileiro. O saldo positivo sugere um possível caminho para o crescimento econômico e uma recuperação fortalecida para os negócios.

EMPREENDEDORISMO NAS FAVELAS

Um estudo realizado pelo Instituto Data Favela revela que quase 40% dos moradores de favelas do Rio de Janeiro têm um negócio próprio. A pesquisa, realizada no âmbito do do Expo Favela Innovation Rio 2023, mostra que os negócios mais comuns entre os moradores são restaurantes, lanchonetes, serviços de estética e construção civil.

Entre os dados globais e locais (pautados especialmente em favelas e periferias), há pessoas, sonhos e histórias de vida. Ainda em fase de reconstrução política e econômica, podemos vislumbrar um horizonte de crescimento contínuo onde a “pista” e a favela caminham e crescem juntos.

Para 2024, é necessário que injeções econômicas e de políticas públicas continuem a ser aplicadas a fim de manter o fôlego dos empreendedores brasileiros, em especial os de origem popular.

Em um país onde o empreendedorismo muitas vezes se impõe como forma de sobrevivência, é importante nunca perder Sankofa de vista. Sempre olhando para trás, nunca esquecendo os desafios e obstáculos e projetando um futuro crescente e pleno.


SOBRE A AUTORA

Pamela Carvalho é gestora de negócios de impacto social e coordenadora na Redes da Maré. Pâmela Carvalho é historiadora, educadora, co... saiba mais