Cannes pela primeira vez

Arrisco dizer que Cannes acontece para fora das suas cercas, nas ruas, no calor, nas mesas de bar ou bebendo, rindo e chorando

Crédito: Fast Company Brasil

Ian Black 2 minutos de leitura

Como não sou formado em publicidade e minha entrada se deu por agências outsiders, nunca compartilhei da fascinação por Cannes. O fato de ter sido premiado com leões de ouro e prata em 2009 e 2010, dois anos após iniciar minha carreira no mercado, colaborou para uma espécie de apatia.

O tempo foi passando, fundei minha própria agência. Sem padrinho, investimento ou estrutura para ganhar dinheiro com mídia, foquei muito mais na realização do trabalho e na relação com os clientes.

Não me relacionar com Cannes foi fazendo parte da nossa própria identidade. Ir para Cannes sempre soou como a cooptação para um sistema que atua com uma lógica falocêntrica de grandezas. Ainda acredito nisso, importante dizer.

Nos sentíamos como os Racionais, que sempre fizeram questão de não se apresentar na Globo.

Vim para Cannes para entender como o jogo é jogado. E ele pode ser feito de uma forma ética.

O tempo passou, a maturidade foi se consolidando e passamos a entender que é possível se relacionar com Cannes sem que com isso se perca o senso crítico para o deslumbre. E assim, depois de 12 anos de agência, inscrevemos um primeiro trabalho. Não passamos da primeira fase.

Vim para Cannes para entender como o jogo é jogado. E ele pode ser feito de uma forma ética. Percebi isso com algumas agências da nova geração que admiro e respeito. Para o próximo ano, estou voltando com mais entendimento e disposição.

Mas meu foco se voltou totalmente para as relações. Conversei com muitas pessoas nesses últimos dias, muitas delas conhecidas de anos, muitos anos, mas cujo encontro físico ou mesmo virtual não acontecia e nem teria contexto para acontecer.

Tive conversas divertidíssimas, outras muito profundas e emocionantes. Fui abordado por muita gente que não conhecia pessoalmente mas que se apresentaram como admiradores do meu trabalho e da minha postura pública de sempre propor conversas francas sobre temas que considero inevitáveis. Para essas pessoas, toda a minha gratidão.

Estar em Cannes, andando para lá e para cá, é também a celebração das relações de amizade, admiração e respeito.

Dei e recebi conselhos de negócios, abri minha mente para novas perspectivas. Ofereci e recebi pedidos de desculpas por desentendimentos do passado. Perdoei e fui perdoado. Amei e fui amado. Estar em Cannes, andando para lá e para cá, é também a celebração das relações de amizade, admiração e respeito.

Das poucas palestras que assisti, fiquei feliz em ver confirmadas, ou mesmo questionadas, algumas das minhas considerações. Saio fortalecido e inspirado, querendo voltar e trazendo mais pessoas.

Mas arrisco dizer que Cannes acontece para fora das suas cercas, nas ruas, no calor, nas mesas de bar ou bebendo, rindo e chorando. Quase a ponto de não precisar de credenciais, como vi muitos fazendo.

Essa foi a realidade que eu escolhi viver e estou sendo muito bem recompensado. A vida é boa e cheia de possibilidades.


SOBRE O AUTOR

Ian Black é fundador da New Vegas. saiba mais