As diversas camadas do SXSW 2023

Crédito: Fast Company Brasil

Paula Englert & Laura Kroeff 2 minutos de leitura

A Box 1824 mapeia futuros há 20 anos, usando para isso um método proprietário chamado Rede de Influências. Nela, alphas são aqueles que estão a frente do seu tempo, criando o futuro. Betas são os grandes disseminadores e tradutores das novas culturas, tecnologias e comportamentos. Finalmente, o mainstream se refere aqueles que vem atrás, mas que possuem o maior poder de consumo. É inerente para nós aplicar esta lente em tudo o que analisamos, estudamos ou consumimos.

No encerramento da 37ª edição do South by Southwest, observamos um evento com cada vez mais camadas. Por um lado, durante o Interactive, ele soa progressivamente mais pop, mainstream, branco e focado no mercado corporativo. Por outro, quando os dias avançam e o Film & Music começa, vemos um perfil de público e conteúdo mudar radicalmente. Encontramos um SXSW muito mais diverso, beta e criativo, mantendo a sua alma originada destes mundos intacta e, lindamente, vanguardista.

Ainda assim, um olhar mais atento revela diferentes níveis de conteúdo e aprendizados dentro do próprio Interactive. Na superfície, o foco excessivo de 2022 em metaverso, cannabis e fakenews deu lugar a uma overdose de ChatGPT (e todos seus derivados), psicodélicos e saúde mental em 2023. Temas de extrema relevância, porém já amplamente discutidos e disseminados. Mais profundamente, conseguimos identificar o que está por baixo destes assuntos e presente em algumas das sessões mais interessantes e memoráveis deste ano.

Notamos que a busca comum nas tecnologias de internet 3D ou realidades virtuais, assim como em um resgate de experiências imersivas com psicodélicos, revela um profundo desejo de reconexão. Uma resposta a uma sociedade que se tornou, nas palavras de diversos palestrantes, “others oriented”, pautada pela artificialidade do “paradigm of distinction”, produzindo problemas como “modern lolyness”, “artificial intimacy”” e “caregiver syndrome” entre aqueles que lutam sozinhos contra um sistema que gera individualidade e, consequentemente, sofrimento coletivo. Uma dissociação não apenas entre pessoas, mas com o planeta, gerando uma ameaça cada vez mais tangível a nossa existência.

Mas, a luz que Simran Jeet Singh nos convidou a buscar, para acharmos o equilíbrio e a justiça (que ele entende como “amor público”) brilhou forte em inúmeros momentos desta edição. Ryan Gellert, presidente da Patagônia, acredita que estamos em um momento em que já perdemos o direito de sermos pessimistas. José Andrés, depois de incontáveis operações humanitárias, tem certeza que é nos piores momentos da humanidade que também aparece o melhor da humanidade. Ouvimos então repetidamente conceitos e ferramentas para nos ajudar a trilhar este caminho em busca de nosso estado original de “radical connectiveness”: “deep silence and deep listening”, “perspective getting”, “sense of awe”, “health sharing”, “successful humanitarian storytelling”, “intentional imagination” e “rewilding”.

Sim, o SXSW é sobre tecnologia. Mas, em um dos momentos mais perigosos da nossa existência, essas tecnologias precisam estar a favor de enriquecer a nossa humanidade, como disse o Dr. Jeffrey Becker. E a nossa humanidade brilha mais do que nunca quando nos juntamos, nos enxergamos e, acima de tudo, nos ouvimos para resolvermos, juntos, nossos maiores problemas.


SOBRE A AUTORA

Paula Englert (CEO/Box1824) & Laura Kroeff (VP Strategy & Impact/Box1824) saiba mais