Sete lições do CEO da Patagonia, Ryan Gellert

Como colocar a Terra como protagonista faz bem para o planeta - e para os negócios

Crédito: Fast Company Brasil

Camila de Lira 3 minutos de leitura

Liderar um negócio que tem a Terra como principal acionista é possível? Sim. Não quer dizer que seja fácil. Nem que seja um trabalho apenas para uma pessoa. É o que mostrou Ryan Gellert, CEO da Patagonia, durante o South by Southwest 2023

Simplicidade em primeiro lugar

A primeira lição vem do que não é falado no SXSW, se é que isso faz sentido. Em um festival marcado por apresentações gigantes, filas de horas, vídeos interativos e até mesmo intervenções de personagens da Disney, Gellert chegou apenas com um microfone e as suas ideias. A roupa clean, uma camisa polo da Patagonia e jeans. Em frases diretas, ditas sem titubear, Gellert passou um ensinamento nas entrelinhas: a simplicidade é a melhor amiga dos CEOs do século 21.

Nada de pessimismo!

“Sinto que perdemos o direito de sermos pessimistas”, atestou Gellert. O que não significa que os executivos devem ser otimistas em excesso. Para Geller, é preciso ser “realista” e encarar que a tarefa de reduzir o passo do caos climático, por maior que pareça, pode ser feita pelas empresas, mas elas tem que agir em conjunto. “A mudança climática é uma ameaça existencial para nós humanos, é certamente uma ameaça para tudo que valorizamos, inclusive o mundo natural. E é um problema grande e complicado o suficiente para que precisemos de todas as alavancas que temos para resolvê-lo. E isso envolve o governo. Isso envolve os indivíduos. E isso envolve os negócios, que não podem mais se esconder por de trás das externalidades”

Compromisso com o planeta é um dever

Na cartilha de Gellert, as companhias não só precisam como devem se posicionar contra a mudança climática. “Nós criamos os problemas do mundo, e eles não podem ser resolvidos sem que as empresas assumam a responsabilidade”. Nesse caso, assumir a responsabilidade significa partir para a ação de reduzir o impacto negativo do que é produzido. Gellert usou o exemplo de como a Patagonia cria o vestuário pensando na longevidade do item. Até mesmo os zíperes dos casacos podem ser trocados nas lojas, porque eles foram pensados para ser assim. De maneira prática, Gellert indica que os CEOs já têm um caminho para começar: siga a supply chain.

Propósito = felicidade + planeta + negócios

Como encontrar a energia para poder encarar esta realidade é um dos ensinamentos de Gellert para os CEOs. Basta ver aquilo que o empurra para frente. O que motiva Gellert é a resposta que está na intersecção entre três perguntas: no que eu sou bom? O que é bom para o planeta? O que me faz feliz? Aquilo que responde essas questões, de acordo com o CEO da Patagonia, é uma oportunidade para as empresas e os indivíduos prosperarem.
Narrativas (e vidas) importam

Quando se fala em negócio de sucesso, o imaginário é de uma empresa faturando milhões de dólares e com margens de crescimento de duplos dígitos. Mas, e se não for isso? E se o mercado conseguisse ressignificar o sentido de sucesso? Para Gellert, mudar a narrativa é uma forma dos executivos sustentarem decisões de menor impacto ambiental nos negócios. “Vamos reconhecer que há uma narrativa comumente aceita nos Estados Unidos de que, se você tem mais dinheiro, você é mais bem sucedido – e portanto tem mais valor. E acho que a maior parte das pessoas nessa sala concorda que isso é uma grande bobagem”.
Em vez de planejar os próximos dez anos, um passo de cada vez

Este ensinamento não é exatamente de Gellert, mas um aprendizado adquirido ao lado de Yves Chouinard, o criador da Patagonia. “Se ele [Yves] tem uma ideia, a primeira coisa que faz é dar um passo nessa direção. Ele não planeja necessariamente os próximos dez anos. Ele apenas dá um passo nessa direção.” Passo a passo Chouinard se perguntava: “O que aprendi? Ainda sinto que estou no caminho certo? E se o fizer, ele continua se movendo e dá mais um passo. Se não, ele muda de rumo”. No final do ano passado, Chouinard e sua família doaram 100% da participação na empresa para dois fundos de combate à mudança climática.

Pensar no planeta e nas pessoas é bom para o bolso

Por último, uma lição valiosa: a postura em colocar o planeta como principal acionista não só é boa para a sociedade, como dá dinheiro. A Patagonia teve lucro próximo a US$ 100 milhões no último ano, segundo indica o New York Times. “Tenho orgulho de fazer parte de uma empresa com fins lucrativos, que opera em favor do lucro, em um setor que precisa mudar radicalmente”.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais