Silicon Valley Bank e a ressaca pós-SXSW 2023

Para Ronaldo Lemos, o festival marca o fim de um ciclo de abundância de investimentos e crescimento exponencial.

Crédito: Fast Company Brasil

Camila de Lira 2 minutos de leitura

Nem mesmo o céu azul de Austin consegue esconder que há uma tempestade a caminho. A tormenta ainda não começou, mas o trovão chamado Silicon Valley Bank já deu os seus sinais. O banco especializado em financiamento de startups quebrou no último final de semana, enquanto as palestras sobre as tendências e os cenários futuros enchiam os salões do festival South by Southwest 2023, que acontece na capital do Texas.

“A festa está linda, está incrível, mas o mundo do lado de fora está pegando fogo”, diz Ronaldo Lemos, escritor, advogado e diretor do Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro. Em outras palavras, a ressaca pós-festival pode ser grande.

Com US$ 209 bilhões em ativos, o SVB se tornou o segundo maior banco dos Estados Unidos a quebrar desde a crise em 2008. Lemos, que participou de dois painéis no SXSW deste ano, acredita que o nível de contágio do SVB é maior do que se calcula no momento, principalmente por conta dos bancos intermediários, que já estão passando por uma fuga de capital.

Por mais que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) tenha garantido  depósitos do SVB, muitos já estão retirando o dinheiro de outras instituições, como já aconteceu com o Signature Bank na última sexta-feira. Foram US$ 10 bilhões sacados por clientes em apenas um dia. 

 “O Silicon Valley Bank é uma instituição que existe há 40 anos e colapsou em 48 horas. A gente está em um mundo hiperconectado, e estes fenômenos de manada ficam mais difíceis de serem gerenciados”.

Segundo a análise de Lemos, outro fator que preocupa são as demissões em massa. Nos últimos meses, demissões em massa foram recorrentes em startups e Big Techs. A estimativa é que só entre as grandes de tecnologia tenham sido mais de 50 mil demitidos. No Brasil, as reduções de pessoal atingiram até mesmo os recém-unicórnios.

“Quem investiu vai ter que realizar prejuízos. O custo do dinheiro secou e para o setor de tecnologia, que é muito dependente de capital de risco, a situação se complicou ainda mais”, comenta Lemos.

Depois do inverno, a tempestade

O cenário regulatório também traz uma cara de  tempestade para o mercado de tecnologia. Lemos acredita que a crise não é apenas financeira, mas regulatória. “Todas as condições que levaram a esse mercado ultra-exuberante que a gente viveu estão prestes a ser modificadas. O vento em popa que empurrava o crescimento exponencial sem preocupação das plataformas virou de lado, agora será vento contra”.

Para ele, no entanto, este pode ser um sinal de que a mudança virá para o bem. Ele lembra que, em 1999, a desintegração da bolha da internet foi seguida do surgimento da web 2.0, mais descentralizada e com um viés mais criativo do que a web 1.0. Esse pode ser o momento de repensar modelos.

Diante desse cenário, o especialista destaca que em meio a tantas palestras a trilha secundária sobre saúde ganha ainda mais relevância. É isso que o mercado vai precisar no curto prazo. “Esse vai ser o aprendizado mais útil para as pessoas desse mercado nos próximos meses: calma e gestão emocional”.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais