Esta executiva quer criar um índice para medir a pegada de carbono da IA

A líder de clima e IA da Hugging Face criou uma ferramenta para ajudar desenvolvedores a calcular o impacto ambiental de seus projetos

Crédito: Fast Company Brasil

Issie Lapowsky 2 minutos de leitura

Em 2018, Sasha Luccioni passou por uma espécie de crise profissional. Na época, ela era pesquisadora de IA no Morgan Stanley, onde estudava formas de usar a tecnologia para prevenir riscos financeiros. No entanto, depois de um ano no cargo, percebeu que um risco ainda maior merecia sua atenção – as mudanças climáticas.

“Lembro de dizer ao meu parceiro: ‘talvez eu devesse largar tudo e ensinar crianças a plantar árvores’”, conta Luccioni. “E ele respondeu: ‘você tem um doutorado em inteligência artificial. Por que não usa isso para ajudar?’”

Esse conselho redefiniu sua trajetória. Hoje, como líder de clima e IA na Hugging Face, uma plataforma de aprendizado de máquina de código aberto, Luccioni se destaca como uma das principais pesquisadoras no debate sobre o impacto ambiental dos grandes modelos de linguagem, que exigem enormes quantidades de energia para serem treinados.

O consumo energético desses modelos é tão alto que empresas como o Google já admitem que podem não alcançar suas metas climáticas, devido ao aumento da demanda por eletricidade e, consequentemente, das emissões de carbono.

“O mais chocante é que essas empresas criam suas próprias metas e, ainda assim, não conseguem cumpri-las”, observa Luccioni. “Normalmente, elas só prometem o que sabem que podem entregar.”

Desde que mudou o foco de sua carreira, Luccioni criou uma ferramenta que permite aos desenvolvedores calcular a pegada de carbono de seus projetos e buscar soluções para reduzi-la. Também ajudou a fundar uma organização dedicada a explorar o potencial da IA no combate à crise climática e publicou diversas pesquisas detalhando as emissões de CO2 geradas pelo treinamento e uso de modelos de aprendizado de máquina.

Seu trabalho vem se tornando mais difícil nos últimos anos, já que as empresas de tecnologia têm sido menos transparentes em relação a como e onde constroem seus modelos de linguagem. “Por um tempo, elas foram bem abertas... até o lançamento do ChatGPT. Depois disso, os limites entre pesquisa e produto começaram a se desfazer.”

Além da pesquisa, Luccioni dedica boa parte de seu tempo a divulgar suas descobertas. Por meio de entrevistas, palestras em conferências e até uma apresentação no TED Talk, ela busca ampliar o alcance e o impacto do seu trabalho. “Pesquisas são essenciais, mas, se ninguém tiver acesso, o impacto será limitado”, afirma.

Atualmente, ela está trabalhando em um projeto que classifica os modelos de inteligência artificial com base em sua eficiência energética. A ideia é um sistema semelhante ao selo já usado para eletrodomésticos – uma maneira de comunicar o impacto ambiental da IA usando uma linguagem mais acessível, sem termos técnicos.

Seu objetivo é incentivar o uso do “modelo certo para a tarefa certa”, evitando o desperdício de energia ao usar modelos maiores e mais intensivos para tarefas simples.

“Muita gente ainda não entende que a IA tem um impacto real e tangível”, observa Luccioni. “Sinto que é meu dever ajudar as pessoas a perceberem que até mesmo usar o ChatGPT como calculadora tem um custo para o planeta.”


SOBRE A AUTORA

Issie Lapowsky é jornalista especializada em tecnologia e política. saiba mais