Baixa renda ainda está distante do cartão de crédito e até do Pix
Uma parcela da população com menor poder aquisitivo também não tem conta bancária; comprar sapato e roupa é o terceiro item da lista de prioridades quando a classe baixa tem sobra de caixa

Uma parte dos brasileiros de menor poder aquisitivo segue com dificuldades para evoluir em temas relacionados aos serviços financeiros, a chamada bancarização. Um percentual relevante da baixa renda ainda não tem acesso aos cartões de crédito e débito e nem sequer ao Pix.
O levantamento "Diferenças entre Classes Sociais Brasileiras", divulgado no domingo (16) pela Quaest Consutoria e Pesquisa, ouviu 2.000 pessoas ao longo de 2024 e obteve um retrato sobre os hábitos de consumo e as perspectivas para a economia.
Cerca de um terço (32%) não têm conta em um banco. Apenas 65% têm cadastro no Pix - apesar de toda a popularização do meio de pagamento instantâneo. Ao todo, 39% não têm cartão de débito e 60% não dispõem de cartão de crédito.
Os números entre os brasileiros de classe média e alta são bem diferentes. Na classe média, 84% responderam ter conta bancária, enquanto na classe alta o número chega a 91%.
O cadastro no Pix é realidade para 79% dos entrevistados da classe média e 85% entre aqueles com maior poder aquisitivo. No cartão de débito a diferença é de 79% a 88%. Nas respostas sobre contar com um cartão de crédito, a discrepância é ainda maior: 58% entre a população da classe média, ante 73% da alta renda.
QUEM TEM MUITAS DÍVIDAS
No entanto, a diferença entre as classes sociais cai no bloco de perguntas sobre endividamento. Quando perguntados sobre ter muitas dívidas, 25% da classe baixa, 22% da classe média e 20% da classe alta disseram que sim.
A questão sobre ter poucas dívidas também revelou um equilíbrio: 52%, 54% e 53% (da menor para a maior faixa de renda).
Porém, a resposta foi positiva para 23% da classe baixa e classe média quando foi questionadas se não tinham dívida. E subiu para 27% entre os mais ricos.
DESTINO DA SOBRA DE CAIXA
A Quaest também quis saber a relação dos brasileiros com a renda familiar. Ou, como o dinheiro era usado quando havia uma sobra de caixa, mais especificamente.
A resposta no topo da lista entre todas as classes foi 'economiza/guarda para o futuro', com 19% (classe baixa), 23% (classe média) e 24% (classe alta), ou seja, uma diferença de 5 pontos percentuais (p. p.) entre as famílias que ganham mais e aquelas com renda menor. Em outras palavras, quem tem poder aquisitivo maior conta com folga no orçamento, em tese, que possibilita poupar.
No entanto, as respostas são muito parecidas entre as três faixas de renda quando a pergunta é especificamente sobre 'guardar no banco/poupança para uma emergência': 4% (classe baixa) e 5% (classes média e baixa).
BAIXA RENDA AJUDA MAIS A FAMÍLIA
A segunda opção entre quem ganha menos foi ajudar família, pais e filhos, com um percentual maior (15%). Nessa faixa de renda a terceira resposta mais citada foi comprar roupas e sapatos (13%, contra 7% na classe alta), seguida pela compra de alimentos (7%, contra 5% nas classes média e alta).
Levantamento feito pela Quaest perguntou ainda se 'o dinheiro é para gastar': 85% da classe baixa, 80% da classe média e 78% da classe baixa disseram que sim.
Porém, apesar da aparentemente compreensão de que a renda deve ser gasta, 73% (classe baixa), 75% (classe média) e 78% (classe alta) disseram que sim ao serem perguntados se concordavam sobre 'guardar o dinheiro para não passar aperto'.
MAIORES SONHOS DOS BRASILEIROS
A renda familiar também influencia as expectativas - ou sonhos - da população brasileira, mostra a pesquisa. Enquanto a compra da casa própria aparece em segundo e terceiro lugar para as classes baixa e média, respectivamente, entre os mais ricos esse objetivo cai para quinto lugar.
Por outro lado, viajar/conhecer novos lugares não aparece entre as prioridades da população de baixa renda, que elege outras necessidades antes do lazer.
Veja quais são as principais prioridades de cada faixa de renda:
O que deseja a classe baixa
- Ter saúde - 17%
- Ter casa própria - 13%
- A felicidade da sua família e amigos - 13%
- Ter comida na mesa todo dia - 9%
- Ter um lugar sem violência para viver - 7%
- Ter seu próprio negócio - 7%
O sonho da classe média
- Ter saúde - 17%
- A felicidade da sua família e amigos - 15%
- Ter casa própria - 10%
- Ter um lugar sem violência para viver - 9%
- Uma educação boa para você e sua família - 7%
- Ter comida na mesa; ter o seu próprio negócio; viajar/conhecer novos lugares - 6%
Na lista da classe alta
- A felicidade da sua família e amigos - 18%
- Ter saúde - 16%
- Ter um lugar sem violência para viver - 11%
- Viajar/conhecer novos lugares - 9%
- Ter casa própria - 8%
- Uma educação boa para você e sua família; ficar rico - 6%
COMO FOI FEITA A PESQUISA
Os resultados do levantamento da Quaest têm como base pesquisas nacionais domiciliares realizadas em 2024, com uma margem de erro de 2 pontos percentuais.
Ainda segundo a Quaest, os entrevistados foram classificados em classe baixa, classe média e classe alta de acordo com a renda familiar mensal reportada para a análise das diferenças das classes sociais brasileiras.