Dá para aproveitar a alta da Selic e investir em tesouro direto?

O Copom já indicou que vai subir os juros, o que pode tornar os títulos do governo mais atraentes; veja prós e contras

Getty Images

Murilo Melo 6 minutos de leitura

A elevação da taxa básica de juros, a Selic, para 12,25%, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copon) em dezembro, reacendeu o interesse pelos títulos públicos, especialmente aqueles atrelados à própria Selic.

Com a sinalização de novos aumentos nas próximas reuniões do Copom, com projeções do Santander, Citi e XP Asset Management para uma Selic no patamar de 15,50%, investidores – desde os mais conservadores até os arrojados – voltam suas atenções ao Tesouro Direto. Esse cenário marca uma oportunidade para quem deseja se proteger contra os riscos inflacionários e potencializar seus rendimentos.

O movimento do Banco Central (BC) não veio sem avisos. Desde o início do segundo semestre, o mercado financeiro trabalhava com uma alta nas taxas de juros. Agora, os juros futuros já apontam para uma Selic que pode alcançar 17,5% até 2025. Para os pequenos investidores, essa conjuntura traz vantagens e desafios: afinal, quais títulos escolher e como evitar armadilhas no caminho?

O Tesouro oferece atualmente quatro modalidades de títulos:

Tesouro Renda+: criado para complementar a aposentadoria, proporciona pagamentos mensais por até 20 anos, totalizando 240 parcelas.

Tesouro Prefixado: possui uma taxa de juros fixa, garantindo previsibilidade sobre o retorno ao final do prazo.

Tesouro Selic: está vinculado à taxa básica de juros (Selic), com rentabilidade que acompanha suas oscilações.

Tesouro IPCA+: indexado à inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), oferece retorno composto pela variação inflacionária mais uma taxa fixa.

De acordo com Eduardo Rosenberg, economista e consultor financeiro, o momento é propício para diversificar a carteira com ativos que aproveitem o ciclo de alta dos juros. “Os títulos atrelados à Selic oferecem segurança e liquidez, duas características que são essenciais em tempos de incerteza econômica. Porém, é importante entender as peculiaridades de cada título antes de investir”, afirma Rosenberg.

Para Pedro Ribeiro, professor de economia, o segredo está na estratégia. “Nem todos os títulos são indicados para quem quer aproveitar o cenário atual. Conhecer o perfil de risco e os objetivos financeiros é indispensável para tomar decisões mais acertadas. Investidores que buscam proteger-se da inflação podem olhar para o Tesouro IPCA+ [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo], mas há nuances importantes a considerar”, destaca Ribeiro.

O QUE CONSIDERAR

Com a Selic em alta, o Tesouro Selic é frequentemente apontado como a escolha mais segura. Ele entrega rentabilidade diária atrelada à taxa básica de juros, além de liquidez imediata, o que o torna ideal para quem deseja formar ou reforçar uma reserva de emergência. “É uma opção para quem quer dormir tranquilo. Como os rendimentos acompanham a Selic, o investidor estará protegido contra a volatilidade de curto prazo”, explica Rosenberg.

Já o Tesouro IPCA+ se apresenta como alternativa para quem busca retornos superiores no médio e longo prazo. Esses títulos combinam uma taxa prefixada com a variação da inflação, garantindo um rendimento real acima do índice inflacionário. No entanto, a recomendação é carregar esses papéis até o vencimento. “Se vendidos antes, especialmente em momentos de queda nas taxas de juros, o investidor pode sofrer perdas significativas”, alerta Ribeiro.

Por outro lado, os papéis prefixados demandam maior cautela. Com taxas definidas no momento da compra, eles oferecem previsibilidade, mas não são imunes às oscilações do mercado. Em um ambiente de alta da Selic, o rendimento desses títulos pode parecer menos atrativo, o que exige atenção redobrada.

A rentabilidade dos títulos do Tesouro Nacional varia conforme a data de vencimento — quando o valor aplicado será devolvido ao investidor — e o índice ao qual o título está vinculado.

  • Prefixados: o investidor conhece desde o início a taxa de retorno que será paga no vencimento.
  • Pós-fixados: o rendimento está atrelado a indicadores econômicos, como a taxa Selic ou a inflação, e pode variar até o resgate.

ATENÇÃO

Embora os títulos públicos sejam considerados seguros, investir exige análise criteriosa. Para os especialistas, o cenário macroeconômico deve ser monitorado continuamente. A trajetória da inflação e a política monetária do BC são os dois principais fatores que influenciam os rendimentos. Ficar atento às sinalizações do Copom e à curva de juros futuros deve ser prioridade.

Outro ponto de atenção é o prazo dos títulos. Investidores com objetivos de curto prazo podem se beneficiar da liquidez do Tesouro Selic, enquanto os que têm planos mais longos podem explorar o Tesouro IPCA+, que tende a ser mais lucrativo no médio e longo prazo. Entender o timing do resgate, segundo os especialistas, é fundamental. Isso porque a venda antecipada pode comprometer os ganhos, especialmente nos títulos híbridos ou prefixados.

Além disso, os custos associados à operação não podem ser negligenciados. Taxas de corretagem e de custódia, embora reduzidas, podem impactar os rendimentos líquidos do investimento.

RISCOS E OPORTUNIDADES

Mesmo com todas as vantagens, os títulos públicos não estão isentos de riscos. O principal deles é o risco de mercado, que ocorre quando há flutuações nas taxas de juros após a compra dos papéis. Segundo Rosenberg, o segredo para mitigar esses riscos é alinhar os investimentos aos seus objetivos financeiros. “Se você planeja carregar o título até o vencimento, as oscilações intermediárias não devem preocupar. Mas se precisar vender antes, as condições podem ser desfavoráveis”, afirma.

Por outro lado, o cenário atual também traz oportunidades. Com a Selic elevada, os investidores têm a chance de construir uma carteira forte e diversificada, explorando diferentes prazos e indexadores. “Em tempos de juros altos, o custo de oportunidade de deixar o dinheiro parado é muito maior. A dica é aproveitar para reinvestir seus recursos em títulos públicos e outros ativos conservadores”, sugere Ribeiro.

O momento, no entanto, não é de apostas cegas. Como lembram os especialistas, o mercado está em constante mudança, e o futuro da Selic ainda depende de variáveis como inflação, crescimento econômico e política fiscal. O bom investidor, explicam eles, deve investir com responsabilidade e sempre buscar informações detalhadas antes de tomar decisões financeiras.

COMO APLICAR NO TESOURO DIRETO?

Para começar a investir no Tesouro Direto, é necessário ser uma pessoa física cadastrada na plataforma do programa. Empresas, no entanto, não têm permissão para investir nos títulos disponibilizados pelo governo.

Além disso, é imprescindível possuir uma conta ativa em uma instituição financeira ou corretora de investimentos. Essa conta será utilizada tanto para realizar os aportes quanto para o recebimento dos valores resgatados.

Todos os meses, o Tesouro Nacional publica uma lista com as 10 instituições financeiras que mais movimentaram títulos no mês anterior, ajudando o investidor a identificar as principais opções no mercado.

Embora menores de idade possam investir no Tesouro Direto, a conta precisa estar vinculada a um responsável legal. Esse responsável terá a atribuição de abrir a conta e tomar decisões relacionadas ao investimento.

Uma vantagem importante é a isenção da taxa de custódia para valores investidos de até R$ 10 mil. Essa taxa, normalmente de 0,2% ao ano, só passa a ser aplicada sobre valores superiores a esse limite. Entretanto, corretoras podem cobrar taxas adicionais de corretagem pelos serviços prestados.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Murilo Melo é formado em jornalismo e letras. Foi repórter da Folha de S.Paulo, Estadão e InfoMoney. É louco por dinheiro. Escreve sob... saiba mais