Dia do Consumidor: as perguntas que você deve se fazer antes de gastar
Nesta época, há uma "chuva" de e-mails com promoções e promessas de descontos; sim, é possível encontrar oportunidades, mas sem ameaçar as suas finanças e o Planeta

Nos últimos dias, você deve ter notado a invasão além do normal dos e-mails com promoções. São negócios pegando carona no Dia do Consumidor, comemorado em 15 de março.
As mensagens que chegam por e-mail, WhatsApp e SMS prometem os mais variados percentuais de descontos, abatimento extra para quem pagar com Pix, frete grátis ou recompensas mais atraentes nos programas de cashback.
DATAS ESTIMULAM CONSUMO
Em datas comemorativas - como Natal, Black Friday, Dia das Mães e dos Namorados -, é de se esperar que as pessoas se sintam mais propensas a buscar boas oportunidades e a gastar mais.
O problema é que, tomadas pela euforia, muitas pessoas não tomam decisões conscientes. Em vez de fazer as contas e manter os pés no chão, levando para casa apenas o que é realmente necessário, há aqueles que priorizam exclusivamente a expectativa de fazer um bom negócio diante da promessa de descontos.
As promoções do Dia do Consumidor podem sim ser uma oportunidade de levar produtos com um preço melhor para casa. Mas é preciso tomar cuidado e fazer algumas reflexões antes de tirar o cartão de crédito da carteira para não sofrer com a ressaca do arrependimento.
HORA DA VERDADE
Veja algumas sugestões de perguntas que você pode se fazer antes de levar aquela blusinha ou airfryer para casa:
- Diante de uma promoção, se faça a seguinte pergunta: eu preciso disso? Fuja do impulso.
- Faça uma lista das suas necessidades reais. Dá para cortar algo mais?
- Antes de comprar, calcule o impacto que aquela despesa vai ter nas suas contas. Várias parcelas pequenas podem se tornar uma "bola de neve". Quanto aquelas compras vão pesar no seu orçamento?
- Leve em consideração, além da sua saúde financeira, o impacto que o seu consumo tem no Planeta. Você tem ideia de quanto tempo leva para a decomposição do plástico da embalagem de um cosmético? São necessários até 450 anos.
- Se a compra for inevitável, que tal considerar a compra de itens de segunda mão - de roupas a eletrônicos?
- Já se perguntou sobre a importância de levar em consideração o processo produtivo do item que você quer comprar? Hoje há muitas iniciativas de empresas que apostam na economia circular, na redução do consumo de água e de matérias-primas em seus processos.
- Que tal cancelar o cadastro em lojas que vão abarrotar sua caixa de e-mails com promoções tentadoras?
- Decidiu comprar? Se liga na segurança. No meio de tantas ofertas tentadoras, sempre pode aparecer aquela loja online "fantasma" que vai vai jogar a isca para enganá-lo com um produto que nunca será entregue.
- Antes de pagar, você costuma checar a reputação da empresa em sites especializados, como o Procon da sua cidade/estado e o Reclame Aqui?
- Influenciadores, no geral, são remunerados para recomendar produtos. Você leva isso em consideração quando vê uma dica?
- Fez uma compra? Que tal aderir à política do "uma peça entra, uma peça sai"?
- Se arrependeu? O Código de Defesa do Consumidor dá o direito ao arrependimento no caso das compras on-line. São até sete dias depois do negócio fechado. Antes, confira as regras.
- Se tem sobra de caixa para pensar em um gasto não planejado, que tal investir esse recurso com planejamento, pensando em algo que você precisa ou deseja muito? Por exemplo, para fazer uma viagem, comprar um imóvel, fazer uma especialização ou poupar com o objetivo de ter uma aposentadoria sem sufoco.
MUITA REFLEXÃO ANTES DA COMPRA
Daiane Gubert, head de assessoria de investimentos da Melver, faz mais alguns alertas a quem está ansioso pelas promoções desses dias. Como lembra a especialista, é preciso ficar atento às emoções, já que elas influenciam muito as decisões financeiras. Veja o que ela sugere:
- Compare preços: Algumas promoções podem ser enganosas, então pesquise antes de decidir.
- Cuidado com o parcelamento: Pergunte-se: "Posso realmente comprar isso?”
- Estabeleça um orçamento. Pergunte-se: Essa compra cabe no meu orçamento ou vai me afastar dos meus objetivos financeiros, como a casa própria, uma viagem ou um MBA?
- Atenção às emoções. Estudos sobre a psicologia do dinheiro mostram que as emoções influenciam fortemente nossas decisões financeiras.
- Evite compras para preencher um vazio emocional: Nenhuma compra resolverá um problema interno. Pelo contrário, pode se transformar em dívida e agravar ainda mais a situação.
- Ter clareza sobre o orçamento doméstico e um objetivo financeiro definido ajuda a evitar compras emocionais e garante mais controle sobre o dinheiro.
Na hora de decidir fazer uma compra, Daiane lembra que é fundamental tomar decisões muito bem pensadas. "O dinheiro deve proporcionar segurança (investimentos), qualidade de vida e experiências, mas, para que seu uso seja saudável, é fundamental refletir antes de passar o cartão ou tirar o dinheiro da carteira", explica.
NOVOS HÁBITOS
Uma das orientações fundamentais para quem quer cuidar das suas finanças é fazer o controle sistemático das despesas e das receitas. Sem se importar com esse encontro de contas - o que entra e o que sai -, a tendência é o consumidor se perder nos números e não perceber os riscos das compras compulsivas, do endividamento e do descontrole financeiro.
Ainda segundo a head de assessoria de investimentos da Melver, em um contexto de gastos, o primeiro item a considerar é o controle do orçamento. Nele, explica devem constar todos os gastos fixos, incluindo a conta mais importante dessa planilha: a conta "EU", que deve receber mensalmente 20% da sua renda. Esse valor deve ser destinado aos seus investimentos, começando pela reserva de emergência.
Se, ao final do mês, você conseguiu pagar todas as suas contas e reservar os 20% dos seus rendimentos, pode então pensar em gastar o valor que sobrou.Tente criar uma relação saudável e de disciplina com o dinheiro. Por exemplo, ao tirar o número do cartão dos dites de compras ou dos aplicativos - uma facilidade que age como uma espécie de tentação permanente.
Tenha paciência de checar o extrato do cartão todos os meses para passar o pente fino nas despesas e ficar alerta para não perder o controle. Sempre que possível fixe uma meta de possíveis cortes de despesas.
CONSUMIDOR CONSCIENTE
Em meio a tantas ofertas atraentes, é possível fazer boas escolhas não só para atender a uma satisfação momentânea, mas também para o Planeta. A resposta é sim.
"Os indivíduos certamente podem fazer melhores escolhas, usando seu poder de compra para criar demanda por uma economia circular. Por exemplo, evitando o uso de plásticos de uso único, participando da economia de compartilhamento ou mesmo privilegiando a compra de alimentos que tenham sido projetados para ajudar a natureza a prosperar", sugere Victoria Almeida, gerente de Programa para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur.
Mesmo assim, destaca Victoria, é importante ressaltar que as empresas têm um papel central na transformação, já que são elas que determinam os produtos, materiais, serviços e modelos de entrega que serão oferecidos no mercado.
"Em outras palavras, elas criam as opções que estão disponíveis ao consumidor. Os governos e as instituições financeiras também são fundamentais para viabilizar a mudança, podendo introduzir políticas, incentivos e mecanismos de financiamento adequados para eliminar barreiras e tornar a economia circular mais atraente", explica a gerente da Fundação Ellen MacArthur.
CONSCIÊNCIA FINANCEIRA
Em meio a tantos gatilhos, como mudar a chave para um consumo mais consciente e associar investimentos à realização de sonhos? Para Daiane, a mudança começa com três chaves principais:
- Visibilidade dos gastos. Saber exatamente quanto se ganha e quanto se gasta é essencial. Os gastos são como unhas: precisam ser cortados frequentemente. Ter clareza sobre eles ajuda a identificar o que é prioridade e o que é supérfluo.
- Definição de objetivos claros. Quando se tem um objetivo concreto, todo o foco e energia devem ser direcionados para ele. Dinheiro é escolha. Toda escolha implica uma renúncia. Comprar um celular novo pode significar abrir mão de um MBA ou de um investimento para a casa própria.
- Educação financeira. Estudar sobre investimentos ajuda a tomar decisões mais conscientes. Compreender que investimentos são um caminho para segurança financeira e para a realização de sonhos muda completamente a relação com o dinheiro.
Transformar a mentalidade financeira leva tempo, acrescenta a especialista. Mas pequenas mudanças geram grandes impactos.
"Começar o quanto antes é o mais importante e não é necessário ser um especialista em investimentos ou ter muito dinheiro. Com pequenos valores já é possível dar o primeiro passo para um futuro mais tranquilo e seguro", orienta Daiane.