Fintech promete resolver o atraso no pagamento a influenciadores

Startup americana se capitalizou para oferecer uma espécie de antecipação de recebíveis; modelo financeiro leva em consideração média de recebimento passado e perspectiva de valores para pagar influencers

startup mira remuneração de influencers
Gerd Altmann por Pixabay, Deagreez via Getty Images

Eve Upton-Clark 5 minutos de leitura

Influenciadores, quantos pagamentos atrasados ​​vocês estão esperando? Provavelmente, mais de um.

O marketing de influenciadores é uma indústria em expansão de US$ 10 bilhões. Mas, para os criadores, o fluxo de caixa inconsistente continua sendo um grande problema.

Os orçamentos das marcas mudam e os cronogramas das campanhas mudam e os pagamentos podem levar meses para chegar. A instabilidade financeira é a norma para muitos influenciadores que dependem de acordos de marca como sua principal fonte de renda.

De acordo com o Wall Street Journal, menos de 13% dos influenciadores online ganharam mais de US$ 100.000 no ano passado,. No entanto, quase metade ganhou US$ 15.000 ou menos.

Uma fintech americana chamada Alchemy quer mudar isso. Fundada por Isaac Wagschal, a empresa lançou um fundo de US$ 100 milhões para fornecer aos criadores pagamentos adiantados com base na renda futura projetada. Desde janeiro, a Alchemy já distribuiu alguns milhões de dólares.

NEGÓCIO EXIGE PACIÊNCIA

Crescer como criador leva tempo, dinheiro e as oportunidades certas chegando na sua caixa de entrada. Mas a renda imprevisível é um dos maiores obstáculos para escalar. Alguns meses trazem vários patrocínios; outros são completamente secos.

Enquanto as instituições financeiras tradicionais estão lentamente se aquecendo para a economia do criador, o acesso ao capital continua limitado. Isso ocorre especialmente para criadores que ainda estão construindo suas marcas.

A abordagem da Alchemy é diferente. A fintech analisa o fluxo de renda total de um influenciador. Por exemplo, acordos de marca. Pode ser ainda com o Patreon (plataforma baseada em assinatura que permite que criadores de conteúdo profissionais, grandes empresas e todos os demais recebam pagamento direto por seu conteúdo, produtos e serviços). Ou ainda com o AdSense (serviço de publicidade oferecido pelo Google Inc).

FAZENDO CONTAS

Como recursos, a startup usa os últimos seis meses de ganhos para projetar os próximos seis. Com base nisso, a Alchemy compra antecipadamente uma parte da receita esperada do criador, fornecendo um pagamento único adiantado. Uma taxa fixa, normalmente em torno de 1,15 vezes o valor adiantado, é adicionada.

Digamos que um criador tem projeção de ganhar US$ 100.000 nos próximos seis meses. A Alchemy pode adiantar US$ 30.000 comprando 30% dessa renda. Quando os US$ 100.000 finalmente chegam — não importa se leva seis meses ou um ano — a Alchemy coleta seus 30%, mais uma taxa de US$ 4.500.

RISCOS

Não há empréstimo, juros e nenhum cronograma de pagamento fixo. Se um criador tiver um desempenho abaixo do esperado, a Alchemy leva o golpe.

A Alchemy está fazendo parcerias com as principais agências de criadores, gerentes e plataformas de influenciadores para incorporar suas ferramentas financeiras diretamente aos fluxos de trabalho de acordos de marca. O objetivo: agilizar o processo e tornar os pagamentos iniciais a norma do setor.

"A economia do criador está crescendo, mas muitos influenciadores estão presos esperando meses para que os patrocínios e os pagamentos atrasados ​​sejam compensados", disse Wagschal em um comunicado à imprensa. "Os criadores devem ter acesso financeiro que corresponda à velocidade do mundo digital."

CENÁRIO NACIONAL E INTERNACIONAL

Relatório divulgado pelo banco Goldman Sachs no ano passado apontou que o mercado de influenciadores digitais deve quase dobrar de tamanho até 2027. A previsão é que chegue a movimentar US$ 480 bilhões. No ano passado, o segmento de criação de conteúdo na internet foi estimado em US$ 250 bilhões.

No ano passado, a estimativa era de que o mundo tinha cerca de 50 milhões de influenciadores em diversas plataformas sociais, como TikTok, Instagram, YouTube e Facebook. De acordo com o relatório do banco, o número de criadores de conteúdo deve crescer entre 10% e 20% no mundo ao longo dos próximos cinco anos.

Ainda segundo o banco, em pesquisa divulgada em março deste ano, em 2025 a estimativa é que o total de criadores profissionais chegue a 67 milhões, aproximadamente (ante a 50 milhões em 2022). A expectativa é manter uma taxa de crescimento anual de 10% , batendo em 107 milhões até 2030.

No caso dos criadores de conteúdo amadores, o cálculo aponta para 64,6 milhões em 2025, chegando a 104,5 milhões em 2030, com uma taxa média de crescimento de 10,2%.

Esses profissionais têm sido grandes geradores de negócio. Em 2023, o marketing de influenciadores nos Estados Unidos movimento US$ 26 bilhões - cerca de um terço do total de gastos com anúncios digitais em plataformas digitais no país.

FONTE DE RENDA

A maioria dos criadores de conteúdo (quase 70%) apontou na pesquisa do Goldman Sachs de 2024 que a principal fonte de renda vem de negócios fechados diretamente com as marcas e anunciantes.

No estudo mais recente, o Goldman Sachs aponta alguns pontos que vão favorecer o crescimento de influenciadores, impactando na receita.
1) escala de público;

2) acesso a grandes pools de capital para financiar monetização.

3) fortes mecanismos de recomendação com tecnologia de IA.

4) ferramentas de monetização eficazes.

5) dados e análises robustos.

6) elementos de compras/comércio.

A instituição financeira cita que universo no contexto da economia criadora. Trata-se de ecossistema no qual indivíduos criam conteúdo para consumo digital com o objetivo de construir uma base de público e monetizar sua marca.

A economia criadora representa uma mudança de vários anos do conteúdo profissional de marcas/redes tradicionais para o conteúdo gerado pelo usuário. Por meio dela, mais influência e potencial de monetização são mantidos por indivíduos. Os criadores criam principalmente conteúdo e constroem sua marca alavancando plataformas individuais e, embora o relacionamento entre criadores e plataformas, aponta o relatório.

O contexto de perspectivas favoráveis também vai chegar aos brasileiros. O levantamento da Nielsen, também de 2024, mostra que, no Brasil, há cerca de 10 milhões de influenciadores com, pelo menos, 1 mil seguidores no Instagram. Com esse tamanho, o país ocupa o segundo lugar no ranking global, perdendo apenas para os Estados Unidos. (com Paula Pacheco/Fast Company Brasil)


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais