Ciência aponta que ser feliz tem menos a ver com a idade e mais com bem-estar
Em comunidades não industrializadas, pesquisadores observaram que o gráfico da felicidade ao longo da vida nem sempre obedece à lógica da curva em U

A felicidade ao longo da vida tem sido descrita popularmente através da imagem de um gráfico com uma curva em U: as alegrias da juventude são seguidas pelos desafios dos 20 e 30 anos que, por sua vez, são seguidas por uma melhora mais tarde na vida – atingindo seu pico após a aposentadoria.
Acontece que, embora isso possa ser verdade – ou não – em países mais ricos, não se aplica a sociedades de baixa renda e não industrializadas. Essa é a principal conclusão de um estudo que liderei e que analisou o envelhecimento em comunidades rurais, voltadas para a subsistência, em 23 países do Sul Global.
Os resultados dessa pesquisa têm implicações importantes para a saúde global, já que as populações estão envelhecendo e a insegurança econômica é crescente.
No nosso estudo, descobrimos que os níveis de felicidade ao longo da vida não seguiram de forma consistente a trajetória em U, observada em geral nas sociedades industrializadas. Em alguns casos, até houve uma curva em U.
Mas, mais frequentemente, o que observamos foi uma curva invertida em U, onde adultos de meia-idade relataram o maior nível de felicidade. Ou, então, não identificamos nenhuma tendência significativa e específica relacionada à idade.
De modo geral, o bem-estar muitas vezes caiu após a meia-idade em populações carentes de recursos, que não têm segurança social nem outras formas de proteção institucionalizadas. Isso se alinha a pesquisas anteriores feitas em países de baixa renda e até mesmo em nações mais ricas durante crises econômicas.
No entanto, a idade em si foi um indicador fraco de satisfação com a vida em qualquer um desses lugares. Doenças, deficiência e a perda de produtividade são fatores capazes de explicar melhor o bem-estar de uma pessoa do que a idade.
Na verdade, os poucos efeitos positivos da idade que encontramos geralmente desapareciam quando incluíamos medidas dessas adversidades na nossa análise.

Junto com outros estudos que mostram uma queda no bem-estar entre adolescentes e jovens adultos nos últimos anos, a pesquisa questiona a suposição de que a curva da felicidade em U é universal.
A tendência de que o bem-estar médio melhora após a meia-idade pode ser mais comum em sociedades urbanas e afluentes, com aposentadoria formal e fortes redes de proteção para os adultos mais velhos.
Ao examinar uma gama mais ampla de contextos, conseguimos entender melhor como fatores ambientais e socioeconômicos moldam a felicidade ao longo da vida, oferecendo uma perspectiva mais detalhada sobre a felicidade, que pode guiar políticas para diferentes faixas etárias e culturas.
Entender o bem-estar em diversas culturas é crucial, especialmente diante das crises globais de envelhecimento e de saúde mental. Ao reconsiderarmos os determinantes da felicidade fora do modelo da curva em U, todos estaremos mais bem preparados para melhorar a qualidade de vida das diferentes populações pelo mundo.
Este artigo foi republicado do "The Conversation" sob licença Creative Commons. Leia o artigo original