“Computação quântica” da Microsoft ainda está atrás da concorrência
A empresa fez progressos com qubits topológicos, mas ainda está longe de um computador quântico em larga escala

Pesquisadores de computação quântica estão em uma corrida pelos qubits, e a Microsoft está no centro da competição.
A big tech passou os últimos 20 anos buscando uma abordagem topológica para o desenvolvimento quântico. Na semana passada, eles tiveram um avanço: a empresa contou oito qubits topológicos em seu chip Majorana 1.
Oito qubits não chegam nem perto do necessário para alcançar a computação quântica em grande escala. Esse número está na casa dos milhões, e eles precisariam ser corrigidos para evitar erros. Outras empresas, como IBM e Google, estão muito mais avançadas nesse aspecto, só que com modelos diferentes.
O que acontece é que a Microsoft finalmente provou que a abordagem topológica pode funcionar. Agora, eles precisam recuperar o atraso.
Pense nisso como descobrir uma nova maneira de construir um motor de carro: a Microsoft acabou de fazer o motor funcionar, enquanto outros já estão correndo na pista.
Não que não existam motivos para entusiasmo – principalmente porque a abordagem topológica pode ser menos suscetível a ruídos –, mas a empresa ainda está muito atrás em termos de escala.
"Se alguém acredita que isso significa que a Microsoft está perto de um computador quântico comercial, é porque não entendeu direito", diz Alan Baratz, CEO da concorrente D-Wave Quantum.
"Isso valida que a abordagem [topológica] é viável. Será uma abordagem melhor do que a supercondutora, a de íons aprisionados, a fotônica ou a de átomos neutros? Isso ainda precisa ser visto", analisa Baratz.
OS MUITOS CAMINHOS PARA A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA
Todos os computadores operam com "bits", a menor unidade de informação digital. Esse bit pode ser zero ou um. Pesquisadores quânticos estão desenvolvendo bits que podem ser zero e um ao mesmo tempo – algo que aceleraria drasticamente os cálculos.
Esses "qubits" são difíceis de desenvolver, ainda mais difíceis de escalar e quase impossíveis de corrigir contra erros. Mesmo assim, pesquisadores de grandes empresas têm feito progressos significativos.
Mas não há um caminho único para construir um qubit. A abordagem mais comum utiliza circuitos supercondutores – Google, IBM e Amazon Web Services apostaram pesado nisso.
Outra abordagem é a fotônica, que usa partículas de luz como qubits. Essa técnica está sendo desenvolvida por empresas como PsiQuantum e Xanadu.

Cada uma dessas abordagens mostra potencial, mas ainda enfrenta grandes desafios, fazendo com que a computação quântica em grande escala e livre de erros continue a anos de distância.
Embora a Microsoft tenha alcançado um importante avanço científico, outras empresas avançaram ainda mais. Por exemplo, o chip Willow, do Google, que adota a abordagem supercondutora, não só utilizou um número bem maior de qubits, mas também demonstrou que a correção de erros era escalável. O Google descobriu que quanto mais qubits, menor a taxa de erro.
Assim como vários especialistas, Baratz é cético em relação ao anúncio da Microsoft. A empresa, por seu lado, abraçou o espírito da competição. "Outros estão trabalhando para trazer essa mesma visão à tona, mas com abordagens diferentes", disse um porta-voz da Microsoft em comunicado para a Fast Company.
Quem acredita que a Microsoft está perto de um computador quântico comercial, é porque não entendeu direito.
"Alguns acreditam que uma abordagem alternativa é a correta e investiram tempo e recursos significativos em seus métodos. Entendemos por que eles querem defender sua escolha. O debate e o ceticismo fazem parte do processo científico", completou.
Ainda assim, há um motivo pelo qual os cientistas continuam classificando o feito da Microsoft como um avanço. Embora a empresa não tenha nada próximo de um computador quântico, eles conseguiram algo que antes parecia inimaginável. A maioria simplesmente havia desistido da abordagem topológica.
O quanto ainda estamos longe de uma computação quântica comercial em larga escala? Isso ainda é incerto. Mas especialistas como Karthee Madasmy, um dos primeiros investidores da PsiQuantum, acreditam que a notícia da Microsoft é um bom sinal. "Não está a muitas décadas de distância. Na verdade, está a poucos anos", afirma Madasmy.