Por que maior produtividade não depende de mais horas trabalhadas

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“Estou trabalhando cerca de 70 horas por semana”, Craig, um amigo que eu acabara de fazer, admitia durante um evento de negócios. Ele vestia um terno elegante e demonstrava uma personalidade intensa e confiante, que eu queria ter. Mas isso foi anos atrás, quando eu ainda estava dando os primeiros passos na criação da minha startup.

Embora eu tenha ficado impressionado com sua dedicação, suas palavras mexeram comigo. Se por um lado, eu acreditava que trabalhar por mais horas significava ser mais produtivo, por outro, eu ficava apreensivo ao pensar que minha existência se resumiria a isso, uma vida sem equilíbrio, pouco tempo para família, para descansar e para me dedicar a outras coisas. Então, comecei a me questionar: será que trabalhar tanto é a única forma de atingir o sucesso?

Anos depois, já em 2022, vivendo o terceiro ano de uma pandemia global, estamos vendo uma nova tendência surgir: o clamor por uma semana de trabalho mais curta.

Em um artigo para a BBC, Bryan Lufkin e Jessica Mudditt explicam que “mais do que nunca, as pessoas estão exigindo trabalhar menos horas, argumentando que isso não afeta a produtividade e contribui para a felicidade dos funcionários”.

Foi algo que pude constatar durante os 15 anos da minha empresa, mais equilíbrio na vida nos torna mais eficientes e uma cultura focada no bem-estar gera melhores resultados.

MEÇA A PRODUTIVIDADE, NÃO HORAS

Empresas de todo o mundo estão adotando diferentes modelos que defendem a redução da jornada de trabalho com ênfase na semana de 32 horas. Este ano, organizações, como a plataforma de crowdfunding Kickstarter, com sede em Nova York, e a Uncharted estão testando adotando uma abordagem semelhante

O que essas empresas têm em comum é uma visão de abandonar os moldes tradicionais de trabalho e criar um ambiente mais feliz e saudável. Mas isso não significa necessariamente que um modelo de trabalho de quatro dias funcionará para todas elas. Por exemplo, na minha, não implementamos jornadas mais curtas, mas adotamos uma política de horários flexíveis.

Isso quer dizer que medimos a produtividade e não as horas trabalhadas. Para mim, funciona da seguinte maneira: me mantenho super produtivo por cinco horas durante a manhã e depois levo meus filhos para o parque ou para tomar sorvete.

Claro, isso não acontece todos os dias. Há momentos em que o trabalho exige mais de mim e acabo passando 14 horas no escritório. É necessário descobrir qual modelo funciona melhor para você. Acredito que semanas mais curtas devem ser implementadas quando possível, mas o mais importante é focar na produtividade e parar de contar as horas trabalhadas.

ELIMINE PRAZOS DIFÍCEIS DE CUMPRIR

Há bastante tempo considero os prazos como uma forma de minar a eficiência, a criatividade e a confiança da equipe. Em vez disso, defendo que as pessoas tenham mais autonomia, isso diminui a pressão e os ajuda a produzir melhor.

Prazos curtos demais e a pressão de cumpri-los podem ser prejudiciais à saúde mental dos funcionários, especialmente quando estão sacrificando outros aspectos importantes de suas vidas em nome do trabalho.

Além disso, a ansiedade que isso gera também pode fazer com que a qualidade do trabalho caia e, com isso, apresentem resultados aquém do esperado. Hoje, minha empresa conta com mais de 200 funcionários e, desde seu início, em 2006, nunca perguntei quanto tempo um membro da equipe passou no escritório. Eu me preocupo mais com os resultados e em como minha equipe pode contribuir.

DESTAQUE OS OBJETIVOS E O PROGRESSO DA SUA EQUIPE

Só porque eliminamos prazos difíceis de cumprir não significa que instituímos uma política sem regras. Certificamo-nos de estabelecer sistemas para garantir que os funcionários possam maximizar sua produtividade, coordenando-os com os membros da equipe e enfatizando uma comunicação interna clara.

Para tornar o trabalho mais flexível, definimos metas e métricas para que nossas equipes possam focar em suas tarefas. Também implementamos reuniões regulares para ajudar todos a se manter no caminho certo, dando às pessoas a liberdade de trabalhar nos horários que preferirem ou quando se sentem mais criativas.

Por exemplo, todas as nossas equipes possuem líderes específicos e, duas vezes por mês, cada membro se senta com ele para discutir quaisquer problemas. Então, dependendo do projeto, eu me reúno com eles uma vez por semana, ou por mês, para revisar suas metas e monitorar o progresso da equipe.

ACABE COM A “CULTURA DAS HORAS” NA SUA EMPRESA

Embora a pandemia tenha nos forçado a criar novas maneiras de trabalhar, uma coisa continua a mesma: a fixação em manter-se ocupado. Como explicam os colaboradores da Fast Company, Jacqueline Carter e Rasmus Hougaard, estar ocupado o tempo todo não é apenas angustiante, mas, acima de tudo, afeta nossa saúde.

No modelo de trabalho de hoje, é comum que julguemos uns aos outros com base na quantidade de horas que passamos no escritório. E isso é justamente o tipo de cultura que não quero promover na minha empresa.

Eu quero deixar bem claro: monitorar a quantidade de horas que os funcionários trabalham não leva a um aumento na produtividade. Pelo contrário, pode causar a impressão que você não confia neles. Exigir que cumpram de forma metódica as horas estipuladas pode acabar fazendo com apresentem um desempenho inferior ou que a qualidade de seus trabalhos caia.

No fim das contas, quer você opte por uma semana de trabalho mais curta ou adote um modelo de trabalho mais flexível, como fizemos, o mais importante é o engajamento, o bem-estar e formas mais saudáveis e eficientes de medir a produtividade.


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