7 habilidades fundamentais para trabalhar em ambientes povoados por IAs
Se não desenvolvermos habilidades de pensamento crítico, corremos o risco de nos tornar usuários passivos, em vez de participantes ativos
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Chegamos a um estágio fascinante, mas preocupante, da inteligência artificial. Diferente das revoluções tecnológicas anteriores, que mudaram principalmente o que a gente podia fazer, a IA está alterando de forma fundamental o modo como pensamos, raciocinamos e nos relacionamos uns com os outros. Se não desenvolvermos habilidades de pensamento crítico sólidas e adaptadas para essa era, corremos o risco de nos tornar consumidores passivos das decisões feitas por IA, em vez de parceiros ativos e reflexivos dessa tecnologia.
Os riscos são altíssimos. Não se trata apenas de usar as ferramentas de IA de forma eficaz. O que está em jogo é se vamos manter nossa capacidade de pensar de forma independente, de criar conexões humanas autênticas e de tomar decisões significativas em um mundo onde a IA está cada vez mais presente em todos os aspectos das nossas vidas.
Como diz a MIT Sloan Review (publicação acadêmica e profissional, criada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts), as questões profundas que a inteligência artificial levanta sobre consciência, inteligência e tomada de decisões não são problemas técnicos, mas sim filosóficos.
Precisamos da filosofia para nos ajudar a entender o que é realmente a IA, o que significa ser inteligente e como devemos abordar a interação entre humanos e tecnologia. Sem essa base filosófica, corremos o risco de desenvolver sistemas de IA que não estão alinhados com os valores e formas de pensar humanos.
Veja a seguir sete habilidades de pensamento crítico essenciais, baseadas na sabedoria filosófica, que precisamos desenvolver para trabalhar de forma eficaz com a IA:
1. Reconhecimento das nossas limitações
Isso vem da famosa máxima de Sócrates “só sei que nada sei.” Também se conecta com as limitações do conhecimento humano e da razão segundo Immanuel Kant. Quando reconhecemos nossas próprias limitações, paradoxalmente, nos tornamos mais sábios nas nossas interações com a IA.
Exemplo: escolher deliberadamente filmes fora da bolha de recomendações da IA, afirmando a criatividade humana sobre os padrões algorítmicos.
2. Reconhecimento de padrões X quebra de padrões
Essa habilidade vem da filosofia existencialista, especialmente do conceito de liberdade radical, de Sartre. Enquanto a IA segue padrões, os seres humanos têm algo que Sartre chamou de capacidade de “transcender o dado” – ou seja, somos capazes de quebrar padrões pré-determinados e de criar novas possibilidades.
Exemplo: optar por ter conversas difíceis pessoalmente em vez de usar a IA para criar mensagens perfeitas, priorizando a conexão autêntica em vez da conveniência.
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3. Raciocínio baseado em valores
Isso se conecta com o conceito de sabedoria prática de Aristóteles – a capacidade de discernir o que realmente importa em qualquer situação. Também se relaciona com a hierarquia de valores de Max Scheler, que argumenta que uns (como o amor e o crescimento espiritual) são inerentemente mais altos do que outros (como conforto e utilidade).
Exemplo: entender que, embora um chatbot de IA possa oferecer conforto, ele não pode substituir o profundo entendimento mútuo possível nas amizades.
4. Consciência das conexões autênticas
Essa habilidade é fortemente influenciada pela filosofia de Martin Buber, que diferencia os relacionamentos Eu-Isso (onde tratamos os outros como objetos) dos relacionamentos Eu-Tu (encontros autênticos entre sujeitos). Isso nos ajuda a entender a diferença entre as interações com a IA e uma verdadeira conexão humana.
Exemplo: verificar regularmente quais decisões você delegou inconscientemente à IA, desde escolhas de conteúdo até decisões de compra.
5. Tomada de decisão com consciência da liberdade
Baseada no conceito de “vontade reflexiva”, de Hannah Arendt, essa habilidade tem a ver com a ideia de fazer escolhas conscientes, em vez de ser levado pela automação e conveniência. Também se conecta com a ênfase de Kierkegaard na escolha autêntica como algo central para a existência humana.
Exemplo: verificar regularmente quais decisões você delegou inconscientemente à IA, desde escolhas de conteúdo até decisões de compra.
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6. Análise do impacto ético
Essa habilidade se baseia no “imperativo da responsabilidade” de Hans Jonas – a ideia de que a tecnologia moderna exige uma nova ética, que considere as consequências a longo prazo e de grande alcance. Também incorpora considerações utilitaristas sobre maximizar bons resultados enquanto minimiza danos.
Exemplo: avaliar como o uso da IA para decisões de contratação pode afetar a diversidade no ambiente de trabalho e o potencial humano antes de sua implementação
7. Alinhamento com um propósito maior
Essa é uma capacidade inspirada pela logoterapia de Viktor Frankl e pela necessidade humana de encontrar sentido, combinada com o conceito de autorrealização de Maslow. Trata-se de usarmos a tecnologia, mas desde que continuemos focados em propósitos e potenciais humanos mais elevados.
Exemplo: usar a IA para lidar com tarefas rotineiras e aproveitar o tempo livre para trabalhos e relacionamentos significativos.
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO CRÍTICO
Essas sete habilidades de pensamento crítico não são apenas conceitos filosóficos interessantes. Elas são habilidades essenciais para manter nossa humanidade e autonomia em um mundo cada vez mais ampliado pela IA. Elas nos ajudam a interagir com a IA de uma forma que realça nossa humanidade, permitindo-nos continuar conectados ao que nos torna exclusivamente humanos enquanto aproveitamos ao máximo as capacidades da tecnologia.
Precisamos da filosofia para nos ajudar a entender como devemos abordar a interação entre humanos e tecnologia.
As bases filosóficas nos lembram de que não estamos lidando apenas com desafios técnicos, mas com questões fundamentais sobre natureza humana, propósito e potencial. Os grandes filósofos já refletiam sobre essas questões muito antes do surgimento da IA. Seus insights fornecem estruturas valiosas para pensar em como podemos colaborar com a IA sem perder, e até mesmo fortalecendo, nossa humanidade e nossas habilidades de pensamento crítico.
Conforme a IA continua evoluindo e se integrando ainda mais às nossas vidas, desenvolver essas habilidades de pensamento crítico se torna não apenas importante, mas essencial para nosso bem-estar individual e coletivo.
Elas nos fornecem as ferramentas mentais necessárias para navegar por esse novo território de forma reflexiva e intencional, garantindo que continuemos sendo participantes ativos na construção de um futuro potenciado pela IA – e não apenas receptores passivos do que esse futuro possa trazer.
Adaptado/ publicado do livro "TRANSCEND", de Faisal Hoque, com permissão da Post Hill Press