A Geração Coca-Cola sessentou
O desafio para marcas, produtos e serviços está em conseguir manter a conexão com a geração X
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Os primeiros integrantes da geração X, causadores de grandes transformações nos anos 1980, chegaram aos 60 anos. A grande novidade é que isso gera necessidade de ajustes nas ferramentas do marketing 60+ para relacionamento com esta nova turma.
Conhecida como a Geração Coca-Cola, é formada por pessoas nascidas entre 1964 e 1980. Tecnicamente, e segundo a OMS, são consideradas "pessoas idosas". Nos países em desenvolvimento a marca é atingida aos 60 anos e, em países desenvolvidos, aos 65.
Até então os baby boomers – geração nascida entre 1945 e 1963 – eram os mais associados aos cabelos brancos. Pois a mudança que começa exatamente este ano é a que integra a geração X ao grande e diverso grupo 60+.
O que isso causa, além de permitir o embarque no grupo prioritário ou requerer o cartão para vaga especial no estacionamento? Nada, ou melhor, bem pouco no que se refere ao estilo de vida e comportamento. Se os baby boomers já não eram os mesmos do grupo com 60 ou mais de 30 anos atrás, imaginem os geração X atuais.
Para entendermos melhor os impactos que a chegada desse segmento aos 60 anos traz para marcas, produtos e serviços que já se relacionam com esse consumidor, precisamos resgatar as bases do aging in market, conceito que desenvolvi na SeniorLab e que propõe ajustes nas ferramentas de comunicação e design considerando as questões naturais do envelhecimento .
Mudanças de visão que vão muito além do tamanho da letra e passam por tipos de fontes que devemos e não devemos usar. Nas alterações na audição, do tipo de som que passa por uma campainha do micro-ondas ao padrão de voz de um atendente de call center ou à locução de um vídeo.
Acrescente-se os ajustes por conta das mudanças cognitivas. Este tema é tão crucial no estudo do marketing que se transformou em matéria na FGV, no curso de Formação Executiva em Mercado da Longevidade.
Vamos conhecer um pouco mais de quem estamos falando e levar a arte de se relacionar com os 60+ para outro nível de desafio:
- Os integrantes da geração X são conhecidos por serem autossuficientes, por priorizar o trabalho com criatividade, mais do que somente por dinheiro ou status, buscando a realização dos desejos materiais e pessoais – seus e de seus filhos;
- Valorizam muito seu tempo livre e buscam atividades que relaxem e os conectem com seus amigos e família;
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- Apreciam horários flexíveis para conciliar trabalho e vida pessoal;
- Cresceram em um período de grandes mudanças tecnológicas e se adaptaram rapidamente às novas ferramentas, modelos de computadores, celulares e softwares;
- São ágeis e proativos em buscar soluções inovadoras para os desafios do seu trabalho;
- Buscam autonomia e tomam decisões de forma assertiva;
- Valorizam a liberdade para escolher seus próprios caminhos e não se deixam influenciar facilmente pelas opiniões dos outros;
- Desenvolveram uma forte ética de trabalho desde jovens e acreditam que o esforço e a dedicação são essenciais para o sucesso;
- São responsáveis e comprometidos com seus projetos, realistas, focam em resultados;
Se os baby boomers já não eram os mesmos do grupo com 60 ou mais de 30 anos atrás, imaginem os geração X atuais.
- Buscam soluções práticas e eficientes para os problemas do dia a dia e não se perdem em idealismos que não tenham propósito e objetivos claros;
- Com anos de experiência profissional, possuem um vasto conhecimento em suas áreas de atuação e nas que os cercam, tornando-os bons generalistas;
- Buscam compartilhar seus conhecimentos com os colegas mais jovens e valorizam a troca de experiências;
- Gostam de analisar as situações por diferentes ângulos e não tem medo de questionar o status quo;
- Ávidos por novas informações e perspectivas, estão em busca de aprimorar seus conhecimentos e projetar alternativas para sua vida profissional;
- Sentem uma certa nostalgia pela época em que cresceram, com a música, os filmes e os hábitos daquela geração – no Brasil, conhecida como a Geração Coca-Cola – que viu o nascimento do rock nacional;
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- Começam a se preocupar com seu próprio envelhecimento sob os aspectos físicos, fisiológicos, estruturais e financeiros;
- Enxergam no horizonte a aposentadoria do INSS como um sonho ainda distante do imaginado, considerando 65 anos para homens e 62 para mulheres – e, mesmo quando alcançado, não suficiente para bancar o atual padrão de vida, a exemplo do que vivenciaram em relação ao envelhecimento de seus pais.
Quando iniciei minha jornada profissional há 10 anos, esperava por este momento. Onde cruzamos um marco biológico e fisiológico, com o comportamento de uma nova geração que já chega bem diferente de quem alcançou os 60 há 10, 20 e, principalmente, 30 anos.
O desafio para marcas, produtos e serviços está em conseguir manter a conexão com a geração X, que tem o mesmo espírito dos anos 80, mas fisiológica e biologicamente está diferente.
Meu recado para as marcas é que aperfeiçoem suas ferramentas, canais e estratégias de forma discreta, natural e profissional. Perder a atenção dos clientes anda muito mais fácil do que conquistar.