O que a neurociência ensina sobre a eficácia da comunicação
As políticas de diversidade estão presentes na agenda de muitas empresas, mas o desenvolvimento da comunicação é um processo que ainda requer mais atenção nas organizações.
Se esse skill não é bem trabalhado, mecanismos conscientes e inconscientes da síndrome do impostor enfraquecem a capacidade de expressar qualidades gerenciais e, consequentemente, a visibilidade e chances de promoção dentro da empresa diminuem.
“Nossa vida é a manifestação física do que acontece na nossa cabeça”
De acordo com a fonoaudióloga especializada em linguagem, Dra. Ana Alvarez, criadora do espaço Academia da Mente, o aperfeiçoamento da habilidade de comunicação é crucial para driblar a tão falada síndroma da impostora – ou do impostor, pois é também comum entre homens.
Em seus estudos e consultas com executivos e executivas de grandes empresas, ela constatou que o sucesso das relações – profissionais e pessoais – está atrelado às reações bio-fisio-psicológicas desencadeadas por palavras e gestos utilizados na comunicação. “Nossa vida é a manifestação física do que acontece na nossa cabeça”, diz ela.
“O que se pensava ser um fator de gênero, quer dizer, ‘será que a mulher se sente assim pelo seu gênero?’, na verdade se viu que essas pessoas que tinham dificuldade para falar e se expressar, se expor, tinham baixa noção de seu poder pessoal. E então ficava em uma dessas situações – nenhuma das duas boas: ou a pessoa não fala nada e passa despercebida, ou fala muito e tende a ser tomada como exibida”, afirma.
“Perfeccionistas escolhem pensar que não vão dar conta em termos de tempo, organização e voltam ao desafio dos papeis anteriores”
Geralmente, pessoas acometidas pela síndrome têm um desafio tanto na vida pessoal quanto na profissional, diz Ana. Quanto mais sobem na carreira, mais tempo terão de se dedicar para ter sucesso no que têm de fazer. Com isso, manejar tempo e planejamento se colocam como desafios. Por serem perfeccionistas, escolhem pensar que não vão dar conta em termos de tempo, organização e voltam ao desafio dos papeis anteriores achando que serão felizes do jeito que eram. “São pessoas que deixam de reconhecer atributos próprios e são solapadas por uma ou outra coisa que acham que são defeitos. É um erro de percepção”.
Três exercícios podem ser colocados em prática para tentar driblar isso:
PLANEJAR E ORGANIZAR TEMPO DISPONÍVEL – como vou conseguir fazer o que preciso fazer? A atenção e o tempo, nosso e dos outros, são os maiores bens que temos. Crie uma recompensa para cada etapa do caminho, incentivo e recompensa;
ANÁLISE DE AUTOCONHECIMENTO – ouvir com mais atenção diálogo interno;
TROCAR IMPULSO POR INTENÇÃO E PROPÓSITO – como vou conseguir fazer o que preciso fazer? Funcionamos em um estado de atenção livre, em que a pessoa é espontânea e fala sem cuidado, o que vem à cabeça. Para mudar, precisa de um estado de atenção direcionado. Para quem deseja transformar sua comunicação, precisa ter intuito, propósito e estratégia.
E como encontrar o equilíbrio entre o assertivo e as soft skills? Segundo ela, em ambos os casos, é preciso controlar os sentimentos e gerenciá-los. Se a pessoa frequentemente diz ‘não’ a um funcionário que pede ajuda, pode fazer um exercício para incluir o verbo “preferir” nas falas. Por exemplo: “prefiro que você me envie um e-mail”. Além disso, parar para ouvir o outro.
Veja algumas ações de comunicação que podem ser postas em prática no dia a dia:
– Use verbos de ação ativa gatilhos da imitação, os neurônios-espelho: sinalizam que algo precisa ser feito;
“Funcionamos em um estado de atenção livre, em que a pessoa é espontânea e fala sem cuidado, o que vem à cabeça. Para mudar, precisa de um estado de atenção direcionado”
– Evite frases negativas e com excessos de “mas”, “porém” e “contudo”. As pessoas se defendem de afirmações negativas, mesmo sem querer;
– Troque o “você” acusatório pelo “eu” responsável. Isso contribui para a harmonia do diálogo, em vez de passar para o outro a responsabilidade por um evento que envolveu pelo menos duas pessoas;
– Emoções destrutivas estão relacionadas à ignorância, compaixão é uma emoção construtiva relacionada à inteligência;
– Em videocalls, faça uma introdução do que vai falar: “tenho uma ideia”, posso contribuir com um ponto de vista sobre este tema” – 7% da eficiência de uma conversa é atribuída ao conteúdo. Linguagem corporal, facial, a respiração, o ritmo, o tom de voz e pausas integram os outros 93%;
– Bastam dois segundos de contato visual para que seu interlocutor faça uma ideia sobre você e vice-versa. O olhar é um instrumento de poder. Inicie uma conversa com o olhar preso no interlocutor, tanto ao falar como ao ouvir;
– Inteligência empresarial = liderança compartilhada. Se não dominar a linguagem persuasiva, corre o risco tornar-se autoritário ou passivo. Qualquer decisão que precise ser tomada por mais de uma pessoa pressupõe uma troca de pontos de vista:
– Impasses se resolvem com estratégias: ofereça 3 opções, uma neutra, uma absurda (serve como distração) e a que você deseja. A absurda fará com que a sua opção se torne a mais viável e seja a escolhida.
– Defenda interesses alheios. Será mais fácil fazer um pedido contando com apoio dos outros presentes “na sala”;
– Peça conselhos. Pessoas se sentem reconhecidas quando expressamos humildade;
– Faça elogios verdadeiros. Criar vínculos de simpatia favorece uma atitude colaborativa.