O que vem primeiro: felicidade ou sucesso?
É como a velha questão do ovo e da galinha. O que vem primeiro: felicidade ou sucesso? O sucesso faz você feliz ou a felicidade aumenta a probabilidade de você ter sucesso?
Foi essa a pergunta que mobilizou a pesquisa de Paul Lester, professor associado de administração da Escola de Pós-Graduação Naval; Martin Seligman, diretor do Centro de Psicologia Positiva da Universidade da Pensilvânia; e do falecido Ed Diener, um influente psicólogo norte-americano.
Por cinco anos, os pesquisadores acompanharam quase um milhão de funcionários do Departamento de Defesa dos Estados Unidos em todas as funções de trabalho. Mediram sua felicidade e otimismo relativos com base em perguntas do Programa de Afeto Positivo e Negativo e no Teste de Orientação de Vida (ferramentas usadas pelos militares para medir o bem-estar) e compararam com o número de prêmios que cada funcionário ganhou. As descobertas foram publicadas no MIT Sloan Management Review, em artigo intitulado Happy Soldiers Are High Performers (Soldados felizes rendem mais, em tradução livre).
“Quando os líderes decidem premiar alguém, há um processo bastante rigoroso a ser realizado antes de o prêmio realmente ser entregue”, diz Lester. “Dos cerca de um milhão de funcionários, apenas 12,6% receberam algum prêmio. Não estamos falando de prêmios apenas por participação; receber um prêmio por reconhecimento de performance é raro.”
O IMPACTO DA FELICIDADE
O grupo com os maiores efeitos positivos teve quase quatro vezes o número de reconhecimentos em prêmios que o grupo com as pontuações mais baixas de bem-estar. Os pesquisadores também descobriram que, embora a manifestação de sentimentos negativos – como tristeza e raiva – estivesse relacionada a receber menos prêmios, apresentar baixos níveis de emoções positivas também tinha esse mesmo efeito.
“Conseguimos focar no impacto da felicidade como um marcador de desempenho”, explica Lester. “Sentimentos muito negativos interferem no bom desempenho. Por outro lado, o forte otimismo prediz maiores chances de desempenho acima da média no trabalho.”
Sentimentos muito negativos interferem no bom desempenho. Por outro lado, o forte otimismo prediz maiores chances de desempenho acima da média.
A conclusão do estudo é que você não precisa ter sucesso para ser feliz e não precisa ser feliz para encontrar o sucesso. As pessoas que poderiam ser consideradas infelizes em comparação com seus pares ainda ganhavam prêmios por desempenho, mas em uma taxa menor do que a das pessoas que eram felizes em geral.
“A felicidade pode aumentar as suas chances de ser bem-sucedido”, conclui Lester. “Mas habilidades, conhecimento, formação – tudo isso importa muito. Não estamos dizendo que a felicidade é mais importante do que todas essas outras coisas. Estamos tão somente demostrando que a felicidade é um indicador mensurável de desempenho.”
COMO INCORPORAR ESSE RESULTADO NA GESTÃO
Os resultados do estudo têm aplicações no mundo civil. O Departamento de Defesa norte-americano é o maior empregador do mundo, com cerca de 190 tipos diferentes de funções, que vão desde motoristas de caminhão e pilotos a médicos e advogados. Os pesquisadores foram capazes de analisar uma ampla gama de campos e dados demográficos, ou seja, pessoas de diferentes raças, gêneros, cargos e cujo trabalho tem características muito variadas.
Como ficou provado que a felicidade pode ser um precursor do sucesso, Lester e seus colegas pesquisadores incentivam as empresas a se concentrar no bem-estar e no otimismo dos funcionários. “A felicidade importa e deve ser medida”, defende ele. “De certa forma, a felicidade de cada funcionário representa a saúde da própria empresa. Há valor em medi-la e estimulá-la.”
Em vez de confiar na sua intuição gerencial, comece aplicando ferramentas de avaliação com funcionários atuais e durante possíveis contratações, para avaliar o bem-estar, o otimismo e a felicidade geral. Muitas empresas já usam triagem comportamental para avaliar candidatos a emprego. Se você ainda não faz perguntas sobre felicidade e otimismo, deve considerar esse fator nas entrevistas.
Se você ainda não faz perguntas sobre felicidade e otimismo, deve considerar esse fator nas entrevistas de emprego.
As organizações também devem prestar atenção à liderança e aos funcionários tóxicos, que podem causar infelicidade nos colegas, impactando o desempenho e levando a um maior desgaste. Um bom treinamento das lideranças ajuda, embora medidas mais severas, como demissão, possam ser necessárias para proteger a saúde mental geral da equipe.
Outro passo a tomar é estimular a felicidade nas equipes. Os pesquisadores sugerem a implementação de exercícios simples, como incentivar os funcionários a darem depoimentos que testemunhem sua gratidão a pessoas que já mudaram suas vidas para melhor. Ou então, peça a eles que escrevam três coisas que, na última semana, correram bem todos os dias. Pesquisas anteriores de Seligman mostraram que essas intervenções positivas podem aumentar a felicidade e diminuir os sintomas depressivos.
Finalmente, Lester diz que os líderes devem desenvolver um foco personalizado no bem-estar. “Se querem melhorar a felicidade dos funcionários, eles devem adaptar o que é ensinado para que isso se torne parte integrante do léxico e da cultura da empresa”, sugere. A felicidade dos funcionários é importante. Medidas objetivas de desempenho contam muito e é isso que a empresa precisa buscar, antes de mais nada. “Mas, no fim das contas, avaliar quão bem sua organização está se saindo é também um modo de aferir a felicidade de seus funcionários como um todo”, resume o acadêmico.