Quer saber o que a Geração Z pensa do trabalho? Cheque o Tik Tok
Criadores estão oferecendo uma visão clara e honesta da rotina profissional, em um momento de acerto de contas
No dia do seu aniversário de 29 anos, no início da pandemia, Cece Xie resolveu comemorar a data de uma maneira diferente. Decidiu fazer um vídeo no TikTok contando um pouco sobre sua rotina como advogada de uma grande empresa em Nova York.
Para sua surpresa, o vídeo teve um número enorme de visualizações. Dois anos depois, já com mais de 400 mil seguidores, Cece posta em seu canal dicas para pessoas que desejam ingressar na faculdade de direito, além de propor reflexões importantes, abordando temas como a Grande Demissão.
Conteúdos sobre a vida corporativa sempre existiram, mas os criadores do TikTok, como ela (@cecexie), estão fazendo algo novo: oferecendo uma visão honesta da rotina profissional, em um momento em que tantas pessoas – especialmente jovens – estão repensando sua relação com o trabalho.
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Esses criadores conquistaram centenas de milhares de seguidores com vídeos zombando de certos tipos de colegas de trabalho, dando conselhos de carreira e até criando personagens com alter egos corporativos. Alguns, como Cece, aderiram ao gênero recentemente. Outros, como Ross Pomerantz (também conhecido como @corporate.bro), vêm criticando as normas de trabalho há anos.
Os meios de comunicação e o tipo de conteúdo produzido começaram a mudar nos últimos dois anos, assim como as atitudes em relação ao trabalho. O foco recente no tema no TikTok não apenas reflete as conversas atuais sobre a vida profissional, mas está moldando ativamente nossas relações e os termos que usamos para descrevê-las.
“Os millennials aderiram à nova ‘era da vilania corporativa’, na qual percebemos que o trabalho não define nossa personalidade e que devemos colocar a saúde mental em primeiro lugar”, postou o usuário Rod Thill (@rod), em junho. Desde então, a expressão vem ganhando popularidade no aplicativo, com de vídeos comemorando o fim do expediente ou demonstrando indiferença ao trabalho enquanto retornam da aula de yoga no horário do almoço.
Além disso, uma das mais recentes tendências, o “quiet quitting” (ou desistência silenciosa, em português), tem sido um tema frequente na plataforma. Usado para se referir à prática de fazer apenas o que está descrito na sua função e rejeitar a cultura de “viver para o trabalho”, o termo se tornou bastante popular graças a vídeos, como os do usuário @zaidleppelin, que definiu esta tendência como simplesmente “abandonar a ideia de fazer tudo pelo trabalho”.
A TRANSPARÊNCIA NO TIKTOK E A CLAREZA DA PANDEMIA
Em 2021, a analista jurídica Naeche Vincent fez um mini vlog no TikTok mostrando seu retorno ao escritório, desde o momento em que se arrumava para o trabalho, passando pela fila para pegar seu crachá na recepção até a vista de sua sala.
Anteriormente, ela já havia postado outros vídeos na plataforma, mas este chamou a atenção de muitos usuários. “Não é comum jovens mulheres negras nesse tipo de função, tampouco sabemos o que acontece lá a portas fechadas”, explica Naeche.
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O TikTok facilitou o acesso a esse tipo de conteúdo, enquanto a pandemia “escancarou a realidade do trabalho”, como apontou Cece. Não há mais tempo livre no escritório. Acabaram as conversas entre colegas de trabalho. Há apenas um notebook e uma lista de coisas para fazer, o que, para muitos, significa um momento de repensar a carreira.
O efeito que isso gerou pode ser medido. De acordo com uma pesquisa realizada em 2021 pela Washington Post-Schar School, quase um terço dos trabalhadores com menos de 40 anos consideraram mudar de emprego ou área durante a pandemia.
Cece participou de várias festas de despedida de colegas no Zoom. Por fim, também deixou o emprego. Agora, está escrevendo um livro e cria conteúdo em tempo integral, mostrando aos seus seguidores uma nova rotina: a de uma “advogada que virou escritora”.
UMA MUDANÇA NA DINÂMICA DE PODER
Além de dar aos trabalhadores tempo para reavaliar profundamente suas carreiras, a pandemia também nivelou o campo de certas maneiras, segundo a criadora Natalie (@corporatenatalie, que pediu para usar apenas seu primeiro nome por motivos de privacidade).
“Hoje, não me sinto intimidada durante uma reunião com um diretor sênior, algo que me apavoraria quando comecei meu primeiro emprego, aos 22 anos”, conta.
Com essa nova perspectiva que surgiu durante a pandemia, muitas pessoas se deram conta do que realmente querem, e a forte demanda do mercado de trabalho deu a elas condições de igualdade nas relações profissionais. “Se você é bom e eles querem tê-lo como funcionário, há muita margem para negociação”, diz Pomerantz.
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Hoje, os trabalhadores têm vários meios de encontrar novos empregos ao seu alcance e, com o mercado de trabalho a seu favor (pelo menos por enquanto), encontraram a oportunidade de exigir o que julgam necessário – ou mesmo a autonomia de pedir demissão.
EQUILÍBRIO ENTRE TRABALHO E BEM-ESTAR
Os criadores do TikTok passaram a usar expressões como a “Grande Demissão”, “era da vilania corporativa” e “desistência silenciosa” para falar sobre a insatisfação com o trabalho. De acordo com uma pesquisa realizada pela Deloitte, “46% dos Gen Zs e 45% dos millennials se sentem esgotados devido à intensidade/exigências do trabalho”.
Logo, não é surpreendente que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal esteja acima de todas as outras prioridades para essas gerações quando se trata de aceitar um novo emprego. O trabalho flexível também desempenha um papel fundamental.
Além disso, esses jovens são mais propensos a permanecer no emprego por mais de cinco anos se virem esforços genuínos para causar impactos sociais e ambientais positivos, bem como ambientes diversos e inclusivos.
Já que representam 46% da força de trabalho, o que pensam e sua atitude são muito importantes e, sem dúvida, moldarão o futuro do trabalho. Para as empresas que ainda não entenderam essa nova forma de pensar, as respostas estão no TikTok.