Teste: o que acontece quando o ChatGPT fica responsável pelo RH

Uma equipe de especialistas em RH quis verificar se a IA seria capaz de aprimorar seu trabalho - ou se roubaria seus empregos

Crédito: Peter Howell/ iStock

Susan Anderson 4 minutos de leitura

Diante da rápida evolução da inteligência artificial, as empresas vêm sendo confrontadas com uma questão fundamental: será que a IA vai aprimorar nossas capacidades humanas ou vai ameaçar a nossa existência? Ou, será, talvez, que ela vai fazer as duas coisas ao mesmo tempo?

Quando usei o ChatGPT pela primeira vez, minha reação foi uma mistura de ceticismo e curiosidade. Os riscos eram altos – a IA seria mesmo capaz de igualar ou até mesmo superar a compreensão cheia de nuances e as habilidades de resolução de problemas de uma profissional de RH experiente?

Impulsionada por uma mistura de medo e fascínio, minha equipe – composta por especialistas em RH com uma média de mais de 18 anos de experiência – decidiu colocar o ChatGPT à prova. Nosso objetivo era claro: avaliar se a IA era capaz de lidar com as questões complexas e muitas vezes delicadas inerentes à área de recursos humanos, desde as questões de legislação até as relações com os funcionários.

As implicações dessa investigação foram significativas: se a IA pudesse, de fato, igualar a proeza de um especialista em RH, ela poderia transformar a forma como o setor opera no futuro.

COLOCANDO O CHATGPT À PROVA

Começamos esse trabalho conduzindo um experimento de seis semanas em 2023, nos EUA. Usando as versões 3.0, 3.5 e 4.0 do ChatGPT, nós as testamos em quatro áreas de conformidade de RH: Lei de Normas Trabalhistas Justas (FLSA, na sigla em inglês), Lei de Licença Médica e Familiar (FMLA), Lei dos Americanos Incapacitados (ADA) e vários aspectos de imigração.

Projetamos situações de teste que variavam desde transparência salarial a políticas complexas de demissão e licença de funcionários. Cada versão de IA foi avaliada por nossos especialistas quanto à precisão, relevância, consistência, concisão, parcialidade e aplicabilidade.

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Os resultados iniciais foram esclarecedores e mistos: o GPT-3 apresentou dificuldades substanciais. Ele carecia de detalhes e nuances essenciais para o RH, especialmente em cenários legalmente sensíveis. Isso deixou clara uma limitação importante da IA: a falta de compreensão profunda e de percepção contextual que os profissionais de RH humanos, esses sim, trazem para situações complexas.

Mas, à medida que testávamos as versões mais avançadas da tecnologia, as melhorias ficaram evidentes. O GPT-4, em particular, demonstrou um salto significativo no desempenho. Ele lidou com todas as 10 perguntas nas categorias de avaliação com um aumento significativo de precisão e relevância. 

Essa progressão do GPT-3 para o GPT-4 confirmou os rápidos avanços nos recursos de IA, sugerindo um futuro promissor em que a inteligência artificial poderia aumentar efetivamente a experiência humana.

CRIANDO UMA IA PERSONALIZADA

Incentivados por esses avanços, começamos a desenvolver uma versão personalizada do ChatGPT especificamente adaptada às nossas necessidades. Essa IA foi projetada para auxiliar nossos especialistas em RH a gerenciar as mais de três mil consultas de conformidade de RH que recebemos a cada semana. As consultas variam de leis trabalhistas estaduais a regulamentações federais sobre contratados independentes e procedimentos de demissão.

se a IA pudesse igualar a proeza de um especialista em RH, ela poderia transformar a forma como o setor opera no futuro.

Durante uma fase de prova de conceito de três semanas, nossos consultores utilizaram o ChatGPT personalizado em cenários em tempo real. Eles avaliaram as respostas da IA usando uma rubrica detalhada e forneceram feedback por meio de pesquisas semanais. Além disso, coletamos feedback quantitativo e qualitativo por meio de pesquisas de opinião semanais entre nossos avaliadores.

Os resultados dessa fase foram surpreendentemente positivos. Embora tenha havido uma ligeira diminuição na eficiência, a qualidade das respostas do nosso ChatGPT personalizado melhorou muito durante o período de teste.

Mais importante ainda, a satisfação dos funcionários com a integração da IA foi alta e o feedback dos clientes sobre os casos tratados durante o teste de conceito foi extremamente positivo.

MANTENDO OS HUMANOS NO RH

Esses experimentos ressaltaram um aspecto essencial: a importância de manter os humanos no circuito. A conversa em torno da IA geralmente se concentra no medo do desemprego, especialmente para aqueles que desempenham funções voltadas para o atendimento ao cliente. Mas nossa experiência mostrou que a IA é melhor usada como um agente de aperfeiçoamento, e não como um substituto.

Nossos especialistas em RH puderam aproveitar a IA para lidar com consultas de rotina, permitindo que eles se concentrassem em interações mais complexas e de mais valor, que exigem empatia e julgamento humanos.

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Nossa jornada com o ChatGPT também nos deixou lições importantes sobre gerenciamento de mudanças e sobre engenharia de prontidão (a arte de projetar consultas de IA para produzir as informações mais úteis). 

Ao projetar a maneira como interagimos com a ferramenta, aprendemos que a forma como estruturamos as perguntas é tão importante quanto as perguntas que fazemos. Por exemplo, usamos entradas detalhadas para orientar a interação e fornecemos instruções específicas sobre como queremos receber os resultados gerados. 

A experiência fortaleceu nossa crença no potencial transformador da IA para aprimorar as operações comerciais. O futuro do RH não é escolher entre IA ou seres humanos, mas sim integrar ambos para obter os melhores resultados para empresas e equipes.


SOBRE A AUTORA

Susan Anderson é líder global de desenvolvimento de negócios na Uber. saiba mais