5 perguntas para Laurie Santos, do podcast Laboratório da Felicidade

Créditos: Cortesia da Pushkin Industries

Jenna Abdou 6 minutos de leitura

Feche os olhos e imagine que você está sentado em frente a si mesmo daqui a 20 anos. Como isso poderia mudar as decisões que você toma hoje?

A professora da Universidade Yale Laurie Santos fez essa experiência para encontrar sua própria resposta. Inspirada pela pesquisa do professor Hal Hershfield, da Universidade da Califórnia, ela gerou imagens de si mesma aos 60 e 70 anos e conversou com seu futuro eu.

“Estamos vivendo, no momento presente, o que nosso eu futuro gostaria que tivéssemos feito. Mas, muitas vezes, temos uma perspectiva ruim do nosso eu futuro”, explica a professora.

“A pesquisa de Hal Hershfield descobriu que apenas ver uma foto do seu eu futuro pode fazer com que a ideia fique mais palpável. Isso ajuda no processo de tentar descobrir o que [você no futuro] realmente quer. É profundo”, afirma.

“Recomendo que as pessoas experimentem. Você vê uma imagem de si mesmo muito mais velho e pensa: ‘não quero que ela esteja doente ou tenha diabetes. Não quero que os joelhos dela estejam destruídos’. Isso mudou minha relação com atividade física e alimentação. Tornou mais fácil fazer escolhas que ajudariam meu futuro eu, em vez de prejudicá-lo.”

Depois de criar o curso mais popular da história da Universidade de Yale – Psicologia e a Boa Vida –, Laurie Santos se tornou a mais procurada especialista em felicidade.

Seu podcast, The Happiness Lab (O Laboratório da Felicidade), foi baixado mais de 100 milhões de vezes e mais de 4,5 milhões de pessoas fizeram seu curso gratuito A Ciência do Bem-Estar no Coursera.

Laurie Santos/Crédito: Divulgação

O experimento que ela propõe reflete uma questão central que seu trabalho explora: como tomamos decisões que levam à felicidade a longo prazo?

Fast Company – Em sua conversa com [o ator-comediante] Tony Hale, você discutiu como a falácia do “ser bem-sucedido” faz a gente pensar que não tem o suficiente ou não foi longe o suficiente, o que impede nosso bem-estar. O que é “suficiente” para você e como isso mudou sua relação com o sucesso?

Laurie Santos – Estudar a ciência da felicidade e as coisas que realmente nos fazem felizes mudou como eu penso sobre essas coisas. Parte disso é reconhecer que a nossa felicidade vem da felicidade dos outros – quando é menos sobre você, é menos sobre suas próprias conquistas pessoais e mais sobre como as coisas estão afetando outras pessoas.

Encontrar métricas que indiquem como o que eu estou fazendo está afetando outras pessoas tem sido muito útil.

As métricas típicas de sucesso de um podcast são números de downloads ou quanto ele arrecadou com publicidade. Isso não me parece tão importante quanto um e-mail de alguém dizendo “isso realmente mudou minha vida.” Então, tentar encontrar métricas que indiquem como o que eu estou fazendo está afetando outras pessoas tem sido muito útil.

Além disso, perceber que às vezes o suficiente é a capacidade de estar presente – ter a chance de descobrir coisas boas e de se conectar com as pessoas de quem eu gosto. Tenho dito não a muitos convites ótimos que me fazem. Mas percebi que, se eu preencher minha agenda, terei menos oportunidades para as coisas que realmente importam e que realmente valorizo.

Fast CompanyVocê diz que a nossa percepção do estresse não só altera a nossa experiência e desempenho, mas também nos afeta mais tarde. Ainda assim, uma coisa é elaborar essa reinterpretação e outra é incorporá-la. Quais mudanças de mentalidade e comportamento nos ajudam a alcançar isso?

Laurie Santos – Uma grande mudança que aprendi está relacionada a como falamos com nós mesmos sobre o estresse. Este é um campo no qual nossa voz interior pode ser um amigo ou um inimigo.

Se sei que algo estressante está chegando e fico pensando nisso, essa voz não está apenas afetando como penso sobre o que está por vir, mas também afeta fisiologicamente o que está acontecendo comigo. Meu corpo está aumentando o nível dos hormônios do estresse e ainda nem aconteceu nada.

Podemos escolher como encarar situações estressantes e reconhecer que a forma como as encaramos tem efeitos duradouros.

Por outro lado, você pode dizer para si mesmo “tenho um dia inteiro de reuniões, vai ser muito, mas o cortisol vai entrar em ação. Vai trazer glicose para minha corrente sanguínea e assim eu vou conseguir lidar com isso.” Há momentos em que enfrentamos situações estressantes com empolgação.

Portanto, vamos lembrar que podemos escolher como encarar essas situações e reconhecer que a forma como as encaramos tem efeitos duradouros sobre a ativação do nosso sistema de luta ou fuga, desencadeando uma cascata hormonal de estresse. A maneira como falamos com nós mesmos importa muito para o que acontece com nossa fisiologia.

Fast CompanyO que você faz quando está tentando recontextualizar algo, mas parece que está apenas fingindo até conseguir?

Laurie Santos – A beleza é que o “fingir até conseguir” funciona de algumas maneiras. Seu cérebro não consegue evitar ouvir essas afirmações, especialmente se você as disser em voz alta. De certa forma, nossa mente é meio boba. Se ela ouve “ei, vai ficar tudo bem”, não consegue deixar de processar isso, pelo menos um pouco.

Uma das técnicas que menciono no podcast e ensino aos meus alunos para a autocompaixão é dar a si mesmo um toque de carinho: segure seu ombro, dê uma leve acariciada e diga: “vai ficar tudo bem.”

Parece tão brega, mas, novamente, a mente é boba. Ela não sabe que não é um amigo carinhoso ou sua mãe vindo lhe dar um abraço. Você pode fingir muitas coisas com seu cérebro, mas, fisiologicamente, ele acompanha.

Fast CompanyVocê explicou que suprimir as emoções diminui o desempenho e a saúde física. Ainda assim, muitas vezes suprimimos nossas emoções para evitar a dor. Quais alternativas promovem o bem-estar e a saúde dos relacionamentos?

Laurie Santos – Assumimos que suprimir nossas emoções evita a dor. Pode evitar a dor no momento, mas, quando a luz do combustível acende, tenho que parar e abastecer. Então, há uma dor momentânea ao lidar com isso. Mas a dor a longo prazo será pior se eu ficar sem combustível na estrada.

É importante reconhecer que nossas emoções funcionam assim. Uma coisa é perceber quando você está se sentindo um pouco ansioso e dizer "vou lidar com isso, em vez de ignorar, levar isso para o trabalho e dizer algo desagradável a alguém". Não percebemos que há uma consequência a longo prazo em não permitir nossas emoções e lidar com elas, pelo menos no curto prazo.

Seja bom consigo mesmo. Pense: “o que posso tirar da minha agenda? Como posso cuidar de mim?”

Fast CompanyVocê destacou que somos melhor servidos quando nos motivamos através da autocompaixão. Qual o impacto disso e qual prática recomenda experimentar?

Laurie Santos – É importante reconhecer que a autocompaixão tem algumas partes. Há um trabalho de Kristen Neff, em que ela fala sobre autocompaixão como sendo parcialmente sobre atenção plena.

Então, primeiro reconheça quais emoções você está enfrentando, como “estou passando por um momento difícil agora.” Depois, reaja a essa emoção negativa dizendo “todo mundo enfrenta isso. Sou humano. Vou passar por essas coisas.” Por fim, seja bom consigo mesmo. Pense: “o que posso tirar da minha agenda? Como posso cuidar de mim?”

Esses três passos podem ser uma maneira poderosa de atualizar seu diálogo interno para que você seja mais gentil consigo mesmo.


SOBRE A AUTORA

Jenna Abdou é criadora e apresentadora do portal 33Voices. saiba mais