As empresas não podem ser mais um ofensor na saúde mental

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Renata Rivetti 4 minutos de leitura

Nunca se falou tanto em bem-estar, saúde mental e felicidade no mercado corporativo. Temas que antes eram vistos como superficiais ou tabus estão sendo falados e debatidos por C-levels e grandes empresas passaram a criar diretorias de felicidade corporativa.

Porém, os indicadores continuam preocupantes: em uma pesquisa do Future Forum com 10 mil colaboradores em sete países (Alemanha, Austrália, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido), 42% dos entrevistados relataram sintomas de burnout no último ano.

No estudo State of the Global Workplace: 2023 Report da Gallup, 44% dos colaboradores disseram que passaram por muito estresse no trabalho no dia anterior. Além disso, somente 23% dos colaboradores estão engajados globalmente, segundo o mesmo relatório da Gallup. E 71% consideram que talvez suas reuniões não estejam sendo produtivas, de acordo com o relatório The Cost of Unnecessary Meeting Attendance.

Se a liderança e as empresas não colocarem as pessoas no centro dos negócios vão perder talentos e, com isso, inovação, criatividade e resultados.

Estamos cansados, sobrecarregados, ansiosos, preocupados, deprimidos, solitários e também improdutivos e desengajados. Não estamos bem como indivíduos, mas também não estamos gerando os melhores resultados nas empresas. O óbvio seria entender que temos que mudar algo, certo?

Apesar disso, vivemos em uma sociedade que teme a mudança. Muitos de nós preferem o conforto do conhecido ao risco do desconhecido. Se sempre fizemos assim e de alguma forma deu certo, por que mudar?

Entretanto, a mudança já está acontecendo. É lenta, mas gradual. As novas gerações não aceitam mais o status quo e o pós-Covid nos trouxe reflexões profundas. O trabalho não pode ser mais um ofensor em nossa saúde mental e nem deve ser toda a dedicação da nossa vida.

Queremos um trabalho que traga mais realização e satisfação. Queremos diversidade, inclusão e equidade. Queremos trabalhar em empresas que tenham a ver com nossos valores e que impactem positivamente o mundo. Queremos encontrar sentido em nossas atividades diárias. E queremos flexibilidade, autonomia e harmonia entre vida pessoal e profissional.

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Se a liderança e as empresas não colocarem as pessoas no centro dos negócios vão perder talentos e, com isso, inovação, criatividade e resultados. Não há inovação sem segurança psicológica. E não há sustentabilidade dos negócios sem engajamento do time. Se antes cuidar de pessoas era um adicional, hoje está se tornando essencial.

Segundo pesquisa da Robert Half com a The School of Life que ouviu 700 colaboradores no Brasil, a maior causa dos pedidos de demissão é o ambiente tóxico (42%), assim como a maior causa do burnout (70%), segundo pesquisa da Mckinsey.

Então, não adianta fazer um team building uma vez por ano, uma festa, uma empresa colorida, pingue-pongue, programas de bem-estar. É preciso tratar a raiz do problema e conscientizar a liderança de seu impacto no adoecimento ou florescimento do time.

Queremos trabalhar em empresas que tenham a ver com nossos valores e que impactem positivamente o mundo.

Além da conscientização é preciso dar ferramentas para esses líderes e construir uma cultura saudável para priorizar o tema e o manter na agenda de todos. Uma reunião com a equipe não pode ser preterida porque a alta liderança quer algo com urgência. Neste mundo em que tudo é urgente perdemos muito da nossa humanidade, o que nos impacta como indivíduos, sociedade, mas também em resultados e lucros.

Para construir um mundo corporativo mais saudável e produtivo, são necessários alguns novos hábitos, principalmente na atitude da liderança:

-   Construir um ambiente com segurança psicológica, criando espaço para conversas abertas, colaboração, diversidade e inclusão.

-   Reconhecer e valorizar mais o time, não somente as grandes entregas e resultados, mas evoluções, atitudes e comportamentos. E que seja algo frequente e permanente.

-   Apoiar o desenvolvimento individual e do time. Estar ao lado, inspirar.

-   Redesenhar a jornada de trabalho, revendo a necessidade das reuniões, realizando trabalhos de forma assíncrona, dando autonomia, planejando as atividades, revendo a comunicação e o uso da tecnologia.

-   Cocriando! Hoje ninguém mais se engaja em uma decisão top-down. As pessoas querem ser ouvidas, querem fazer parte, querem cocriar.

- Harmonia entre vida pessoal e profissional. O trabalho não pode ocupar quase toda a nossa vida. Momentos de pausa, de descanso, são essenciais.

E você? O que está fazendo para construir esse ambiente de trabalho mais saudável?

"Poucos terão a grandeza de mudar a própria história, mas cada um de nós pode trabalhar para mudar uma pequena parte dos acontecimentos. É a partir de inúmeros atos de coragem e convicção que a história humana é moldada. Cada vez que um homem se levanta por um ideal, age para melhorar a sorte dos outros ou luta contra a injustiça, ele emite pequenas ondas de esperança que, ao se cruzarem com outras ondas provenientes de diferentes centros de força e coragem, formam uma corrente que pode derrubar os mais fortes muros de opressão e resistência."

Robert F. Kennedy


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, que t... saiba mais