Esqueça o futuro da IA: é você quem o inventa agora

Incentivar a criatividade nos próprios modelos de IA é decisivo para garantir que as pessoas participem ativamente na construção dessa nova ordem

Crédito: Deagreez/ Getty Images

Mauro Cavalletti 3 minutos de leitura

O primeiro trimestre é tradicionalmente marcado por grandes eventos como, CES e South by Southwest (SXSW), que revelam tendências e definem as narrativas do mercado de tecnologia para o ano. Porém, mais do que nunca, essas previsões têm sido constantemente recalibradas por avanços tão extraordinários quanto repentinos.

No mundo da inteligência artificial, todos os dias acontecem novidades gigantes – sem exagero –, transformando as previsões sobre o futuro da IA, desviando caminhos pré-estabelecidos. A participação massiva das pessoas encabeça essa transformação.

Enquanto empresas testam soluções, coletam dados e promovem pesquisas em tempo real, a experimentação livre e a geração de novas aplicações pelo público vão reformulando perspectivas de baixo para cima, inspirando novos desenvolvimentos.

O futuro não é algo pronto. Está em construção neste momento e temos um papel fundamental neste processo.

Desde os primeiros movimentos de democratização da inteligência artificial, uma ideia clara e impactante dominou o imaginário coletivo: “tudo vai mudar a partir de agora”.

Essa proposta trouxe consigo uma tensão evidente, questionando se a humanidade estaria caminhando para um novo estágio evolutivo ou acelerando sua própria obsolescência. Um gatilho suficientemente poderoso tanto para disparar sentimentos enormes de ansiedade quanto para inspirar a experimentação em escala.

O discurso colocou em lados opostos a promessa indiscutível de aumentos significativos na produtividade humana e a possibilidade inédita de expandir nossa capacidade criativa. Desenhamos um conflito entre eficiência e criatividade.

Claro, a narrativa da produtividade, aquecida por séculos de revoluções industriais, é dominante. Atualmente, os avanços diários com soluções específicas para cada vertical de negócios vêm separando rapidamente as empresas que compreendem e adotam essas tecnologias daquelas que correm risco de ruptura por perda de competitividade.

Agora, ideias complexas podem ser testadas e prototipadas em minutos. Da imaginação à execução em um salto.

Esse movimento gera alertas importantes, como os do Fórum Econômico Mundial, destacando que não estamos preparando os trabalhadores para as novas realidades tão rápido quanto as tecnologias substituem o trabalho humano.

A “promessa” de futuro da IA era que os profissionais – por exemplo, programadores e desenvolvedores – usassem o ganho de eficiência para focar em inovações. Em outras palavras, usar o tempo criativamente.

Conheço poucas empresas que tenham formalizado esse processo. Na maior parte dos casos demitem e vão perdendo a oportunidade única de usar seus talentos internos para gerar ideias que poderiam revolucionar seus negócios.

O FUTURO DA IA E DA CRIATIVIDADE HUMANA

Enquanto isso, uma revolução criativa ganha força, alimentada pela inteligência artificial. É que a popularização dos sistemas e componentes passa, na maior parte das vezes, por seu uso criativo.

O lançamento recente de uma nova ferramenta para geração de imagens atraiu mais de um milhão de novos usuários ao ChatGPT em apenas uma hora – um volume muito fora da curva.

Curiosamente, parte desse movimento ocorreu devido à "giblitização", a criação de imagens na estética (não licenciada) do Studio Ghibli, de Hayao Miyazaki, um forte crítico do uso da IA na criatividade.

agentes de IA serão o futuro da IA?
Crédito: Foto Maximum/ Getty Images

Paralelamente, os modelos com capacidade de raciocínio no nível de um PhD, como o Gemini 2.5, já começam a aparecer. Ouço repetidas vezes sobre assistentes de IA funcionando no lugar de estagiários. Agora, podem funcionar como executivos, orientadores e mentores de negócios. A substituição atinge outro nível.

Agora, ideias complexas podem ser testadas e prototipadas em minutos. Da imaginação à execução em um salto.

Embora o foco ainda esteja na parte produtiva da cadeia, incentivar a criatividade nos próprios modelos de IA é decisivo para garantir que as pessoas não sejam apenas substituídas, ultrapassadas, mas participem ativamente na construção dessa nova ordem.

Estamos moldando coletivamente, interação por interação, um futuro que ainda não está definido.


SOBRE O AUTOR

Mauro Cavalletti, designer de interações e experiências, escreve sobre a interseção da criatividade, design e novas tecnologias. É fun... saiba mais