5 perguntas para Paddy Cosgrave, co-fundador do Web Summit
Paddy Cosgrave cresceu em uma fazenda no condado de Wicklow, na Irlanda. Estudou Negócios e Ciências Sociais na Trinity College Dublin. Na época, liderou um projeto que preparava as pessoas para falar em público e sempre foi um entusiasta da tecnologia. Essa combinação teve como resultado a criação do Web Summit.
Cosgrave está à frente do evento desde quando a iniciativa ainda era modesta. Na edição de 2010, em Dublin, reuniu pouco mais de mais de 100 pessoas. Entre elas, um dos fundadores do Twitter, Jack Dorsey.
Em 2016, quando passou a ser realizado em Lisboa, o salto foi grande. Reuniu 50 mil participantes de diferentes lugares do mundo. De lá para cá, o evento se tornou um dos mais relevantes do mundo na área de tecnologia, inovação e empreendedorismo.
A partir desta segunda-feira (01 de maio), o Rio sedia a primeira edição do Web Summit fora da Europa. “É incrível que os 20 mil ingressos tenham esgotado tão cedo”, celebra o empreendedor.
Nesta conversa com a Fast Company Brasil, ele dá algumas dicas dos principais conteúdos e palestras e conta das suas expectativas para o evento.
Quais são suas expectativas para a primeira edição do Web Summit Rio?
O Web Summit Rio reunirá milhares de líderes empresariais e gigantes da tecnologia de todo o mundo na cidade. Investidores internacionais estão de olho na América Latina e no Brasil, atraídos por algumas das startups mais impressionantes da região. O evento será uma plataforma para empresas brasileiras apresentarem seus produtos e para investidores internacionais descobrirem novas empresas brasileiras.
De repente, os BRICS se tornaram a bola da vez e é de lá que todo o crescimento está vindo. E continuará a vir na próxima década.
Vamos aprender muito este ano. A primeira edição receberá mais de 20 mil participantes de todo o mundo no Riocentro – um dos centros de convenções mais versáteis do Brasil. Será a primeira fora da Europa e dará início à expansão para novas regiões, incluindo África e Oriente Médio, nos próximos anos.
É incrível que os ingressos tenham esgotado tão rápido. Há quase um mês antes do início do evento – um tempo recorde para o Web Summit. A segunda edição no Rio de Janeiro (2024) estará pronta para receber um público ainda maior, aumentando a capacidade para 30 mil pessoas.
O potencial impacto econômico, com a estimativa de impacto direto de turistas estrangeiros, brasileiros e locais, além de trabalhadores, é de R$ 11,6 milhões por dia na primeira edição, e tende a crescer ano a ano até atingir R$ 54,3 milhões, em 2028.
Por que o Rio foi escolhido para sediar o evento?
Nos últimos anos, temos observado a participação de empresas sul-americanas, particularmente do Brasil, aumentar significativamente no nosso principal evento anual, o Web Summit Lisboa. O Brasil é agora o país com o maior número de startups e participantes fora do mundo ocidental.
Está bastante claro que, pelo menos nos últimos cinco anos, algo substancial tem acontecido na América do Sul, especialmente no Brasil. E há uma quantidade enorme de atividade em mercados que tradicionalmente eram ignorados por investidores e jornalistas de negócios de Nova York e de outros lugares.
Investidores internacionais estão de olho na América Latina e no Brasil, atraídos por algumas das startups mais impressionantes da região.
De repente, os BRICS se tornaram a bola da vez e é de lá que todo o crescimento está vindo. E continuará a vir na próxima década. As coisas estão acontecendo aqui e acredito que quem ainda nega isso terá que reconhecê-lo, mais cedo ou mais tarde.
O Brasil é um lugar onde você tem que estar. As pessoas estão de olho nele. Francamente, não esperávamos esse número tão alto de participantes (acreditávamos que cinco mil já era uma expectativa ambiciosa, e a cidade achava o mesmo).
Pensamos: “vamos tentar chegar a esse número”, sabendo que talvez não conseguiríamos. Atingir a marca de mais de 20 mil ingressos vendidos no primeiro ano é simplesmente incrível.
A questão para nós era decidir para onde, no Brasil, levaríamos o evento. Analisamos muitas cidades e várias delas estavam muito interessadas em sediar a primeira cúpula fora da Europa. Mas nos apaixonamos pelo Rio, mesmo havendo outras cidades com recursos financeiros maiores.
No final das contas, o Rio é extremamente atraente. O ambiente empresarial é incrível. A comunidade de startups aqui está florescendo e é excelente para fundadores e investidores internacionais.
Em um lugar com tamanha desigualdade social como o Brasil, como o Web Summit poderia contribuir para o ecossistema de empreendedorismo e negócios no país?
Estamos muito empenhados em tornar os eventos do Web Summit o mais inclusivos e acessíveis possível.
Oferecemos vários programas para melhorar o acesso aos nossos eventos. Um deles é o Amplify, que é o nosso compromisso em continuar empoderando fundadores e comunidades sub-representadas na tecnologia, principalmente no Rio, mas também em todo o Brasil. Buscamos ativamente investidores e fundos que priorizam esses grupos e, nos bastidores, fazemos o que podemos para enriquecer a experiência de quem participa do programa.
Embora haja muita empolgação em relação à inteligência artificial atualmente, também há um certo ceticismo. Sempre me interessei em ouvir as vozes dissonantes.
Também buscamos parcerias com diversas organizações maiores, como o Senac. Trabalhamos com elas para desenvolver programas que ajudam no acesso aos eventos, além de oferecer treinamento adicional ou suporte relacionado de alguma maneira a eles ou à tecnologia de forma mais ampla. Esperamos que isso tenha um impacto positivo para aqueles que não estão na posição privilegiada de poder comprar um ingresso.
Há quase oito anos, oferecemos o programa Women in Tech, para ajudar a alcançar a paridade de gênero nos nossos eventos. Empoderamos mulheres promovendo networking, oferecendo programas de mentoria e através da nossa comunidade online de mulheres na tecnologia.
Outro programa que oferecemos é o Scholarship Programme. Ele ajuda estudantes universitários, especialmente recém-formados, que de outra forma não conseguiriam participar dos eventos. São 300 participantes ao todo. Alguns deles virão do exterior, mas a maioria virá de diversas cidades no Brasil. Além de comparecer ao evento, eles também poderão participar de um programa de mentoria que os ajudará a criar sua rede de contatos.
Jovens desenvolvedores que não têm condições de participar do evento podem enviar seus códigos para o GitHub e solicitar um ingresso subsidiado. Continuaremos criando e desenvolvendo iniciativas focadas no Rio e no Brasil, conforme o Web Summit Rio cresce nos próximos anos.
Você poderia citar alguns destaques do Web Summit 2023? Quais são os novos empreendedores e empresas que as pessoas precisam conhecer?
Embora haja muita empolgação em relação à inteligência artificial atualmente, também há um certo ceticismo. Sempre me interessei em ouvir as vozes dissonantes. Em momentos como este, podemos ficar um pouco iludidos e cegos pelo hype, que nem sempre é real. Também tendemos a deixar de considerar os potenciais riscos.
O Brasil é um lugar onde você tem que estar. As pessoas estão de olho nele.
No meio de toda essa agitação em torno da IA, estou particularmente animado com o Impact. É um movimento que incentiva empresas e empreendedores no Web Summit Rio a se concentrarem em como podem usar a tecnologia para beneficiar suas indústrias, suas comunidades e todo o planeta, tendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU como guia.
Nesta primeira edição, celebraremos os agentes de mudança que estão na vanguarda desse movimento. Eles estão trabalhando em soluções incríveis para lidar com as mudanças climáticas, direitos humanos, educação e muito mais.
Algumas das principais palestras no Web Summit Rio são sobre como usar a tecnologia para o bem. Bianca Andrade – influenciadora e empresária com mais de 18,4 milhões de seguidores no Instagram e 5,7 milhões de inscritos no YouTube – conversará com a editora-chefe da Vogue Brasil, Paula Merlo, sobre como impactar positivamente outras pessoas através das plataformas sociais.
Como você vê o futuro dos negócios?
Isso não cabe a mim dizer. Vou deixar para os fundadores e CEOs que vêm ao Web Summit Rio debaterem.