Cientistas buscam usar “inteligência espacial” para mapear o mundo em 3D
Tecnologia promete tornar os mapas mais inteligentes, mas sua infraestrutura levanta questões importantes

A inteligência espacial é uma nova abordagem que combina IA e mapeamento para criar representações mais detalhadas do mundo físico. O objetivo é fornecer dados contextuais sobre locais específicos – incluindo ambientes internos e espaços verticais.
Com essa tecnologia, os mapas deixam de ser meras representações bidimensionais e passam a ser modelos tridimensionais dinâmicos, capazes de oferecer informações sobre o ambiente, as pessoas e as atividades dentro dele.
Por décadas, plataformas como Google Maps ajudaram a mapear ruas e rodovias, mas a dimensão vertical – ou eixo Z, que inclui espaços acima e abaixo do solo – ainda é pouco explorada. Isso está prestes a mudar.
A ideia de integrar inteligência dinâmica ao nosso ambiente sempre foi um tema recorrente na ficção científica, inspirando inovações reais no Vale do Silício. Os primeiros celulares da Motorola foram influenciados pelo comunicador de “Star Trek”, assim como hologramas foram inspirados em “Star Wars”.
Agora, com modelos avançados de IA capazes de interpretar e fornecer informações de forma cada vez mais sofisticada, os mapas precisam evoluir para acompanhar essa transformação.
Incorporar inteligência artificial ao mundo físico não apenas melhora a compreensão dos espaços, mas também cria novas maneiras de coletar e analisar dados sobre pessoas, comportamentos e interações.
Isso significa que os mapas não serão mais estáticos. Eles passarão a ser dinâmicos, hiperlocalizados e personalizados, abrindo caminho para um novo nível de monitoramento e análise dos espaços ao nosso redor.
QUEM ESTÁ DESENVOLVENDO A INTELIGÊNCIA ESPACIAL
Várias empresas estão explorando a inteligência espacial de maneiras diferentes. Algumas, como a Descartes Labs, combinam dados de satélites, de clima e de mercado para gerar insights estratégicos. A BlackSky fornece análises para setores militares e comerciais, ajudando a monitorar mudanças geográficas em tempo real.
Outras focam no consumidor. A Mapbox, por exemplo, cria experiências personalizadas que incluem rotas que levam em conta restaurantes, paisagens e até sugestões musicais. Já a Carto ajuda empresas a identificar padrões espaciais e transformar esses insights em estratégia e receita.

Enquanto algumas empresas atuam nos bastidores, fornecendo análises, outras levam a inteligência espacial diretamente para os usuários finais.
O grande desafio para expandir essa tecnologia é a transição do 2D para o 3D. Atualmente, a maioria das análises espaciais ainda se baseia em mapas planos, o que limita seu potencial. Para transformar a forma como interagimos com o mundo físico, o mapeamento precisa considerar objetos tridimensionais, espaços verticais e ambientes altamente detalhados.
Um dos projetos mais ambiciosos nesse campo é o da World Labs, que está desenvolvendo grandes modelos de mundo (LWMs, na sigla em inglês). São sistemas capazes de perceber, gerar e interagir com ambientes 3D completos, incluindo física, semântica e controle. Em essência, essa tecnologia busca criar mundos virtuais ilimitados, sobrepondo dados espaciais ao mundo digital.
O PROBLEMA AMBIENTAL POR TRÁS DA TECNOLOGIA
Criar e operar sistemas de inteligência espacial exige enormes quantidades de energia, e o consumo crescente da IA já está pressionando a infraestrutura elétrica global. Diante disso, grandes empresas de tecnologia estão investindo em energia nuclear como alternativa.
A Microsoft, por exemplo, está financiando a reabertura da usina de Three Mile Island, na Pensilvânia, enquanto a Amazon adquiriu terrenos nas proximidades. A Alphabet, dona do Google, assinou um contrato para comprar energia de pequenos reatores modulares da empresa Kairos Power e a Nvidia está apoiando projetos de IA movidos a energia nuclear em parceria com a PG&E, na usina de Diablo Canyon, na Califórnia.
os mapas não serão mais estáticos, mas sim dinâmicos, hiperlocalizados e personalizados.
A ideia de que as mesmas empresas que popularizaram o lema “mover-se rápido e quebrar barreiras” agora estejam entrando no setor nuclear levanta preocupações – ainda mais porque algumas delas estão vendendo softwares de IA para operar essas usinas.
Além disso, startups com pouca ou nenhuma experiência na área estão propondo a instalação de pequenos reatores próximos a áreas densamente povoadas. Também há dúvidas sobre a segurança e confiabilidade dos softwares de IA usados nesses sistemas e sobre os protocolos de testes, especialmente considerando que se trata de uma infraestrutura crítica.
A inteligência espacial tem um apelo inegável, tanto pelo potencial de uso quanto pelo lucro que pode gerar. A ideia de acessar informações em tempo real e hiperlocalizadas sobre qualquer ambiente – incluindo espaços verticais – é extremamente atraente.

Mas essa tecnologia também traz consigo um dilema: e se todos os lugares forem mapeados e analisados constantemente, até que ponto nossa privacidade será preservada?
O avanço da inteligência espacial, somado à expansão da energia nuclear no setor de tecnologia, pode estar abrindo caminho para um novo modelo de cidades inteligentes, com menos regulação e mais experimentação, e com um consumo energético cada vez maior.
À medida que a demanda de energia da IA cresce, as big techs estão discretamente investindo na reativação de usinas nucleares privadas, assumindo um papel inesperado no setor energético. Os impactos dessa mudança ainda são imprevisíveis, mas uma coisa é certa: as decisões tomadas agora terão consequências que vão afetar o mundo todo.