Guerra comercial de Trump vai pegar no bolso dos americanos
Tarifaço do governo republicano sobre Canadá, México e China poderá impactar os preços de alimentos, carros, casas, entre outros itens, "comendo" de 1% a 2,2% do orçamento das famílias

Os Estados Unidos entraram em uma guerra comercial. A decisão do presidente republicano Donald Trump de impor tarifas de 25% sobre produtos do México e Canadá, bem como uma tarifa de 20% sobre produtos chineses, pode ter impactos de longo alcance e duradouros nos lucros de milhões de americanos.
A decisão de deflagrar a guerra comercial segue a estratégia da reciprocidade, em que os EUA igualam as tarifas que outros países cobram por produtos importados dos EUA, impostas no mês passado pela Casa Branca. Canadá e China já retaliaram com tarifas próprias.
As taxas não são nenhuma surpresa. Trump deixou evidente sua intenção de impor tarifas a muitos países desde a campanha. Apesar da promessa, o presidente americano adiou essa rodada há um mês.
Em uma nova rodada de recuos, a Casa Branca anunciou nesta segunda-feira (5) que vai protelar por um mês a aplicação das tarifas sobre as importações das montadoras americanas vindas do México e Canadá,.
Trump também utilizou tarifas durante seu primeiro mandato na Casa Branca. O mandatário afirmou que as tarifas têm benefícios econômicos para os EUA, embora haja ampla discordância entre especialistas econômicos sobre essa teoria.
TAMANHO DO IMPACTO
A Tax Foundation - organização apartidária e sem fins lucrativos voltada à política tributária - estima que as tarifas de Trump reduzirão em 2,2% as rendas dos americanos após impostos. Para uma família que ganha US$ 100.000, o percentual representa um corte de US$ 2.200.
O Tax Policy Center, organização que trabalha com análises independentes sobre impostos e políticas fiscais, é um pouco menos pessimista, dizendo que as tarifas reduzirão as rendas após impostos em 1%.
Um relatório de novembro da National Retail Federation, associação comercial de varejo, declarou: "Um crescente corpo de pesquisa econômica tentou avaliar os impactos das tarifas propostas na economia dos EUA. Em quase todos os casos, a conclusão foi a mesma: um impacto líquido negativo nos Estados Unidos com resultados que variam até US$ 7.600 em custos adicionais anualmente por família."
EMPRESAS MANDAM A CONTA
Algumas empresas já estão alertando os clientes de que serão forçados a aumentar os preços, enquanto outras insistem que não o farão. É provável que seja uma lista em constante evolução. Trump, por exemplo, já ameaçou aumentar as tarifas do Canadá depois que o país anunciou uma taxa retaliatória na terça-feira, 4 — e já ameaçou a União Europeia com uma tarifa de 25%.
O ponto principal é este: as tarifas impactarão as finanças dos americanos, possivelmente mais do que se imagina. Aqui estão algumas maneiras pelas quais eles poderiam forçar um aperto de cinto.
CONTA DO SUPERMERCADO
O impacto mais imediato da guerra comercial provavelmente será sentido no supermercado. Cerca de metade dos vegetais consumidos nos EUA e 40% das frutas importadas são do México. Além disso, cerca de 90% de todos os abacates consumidos vêm do México.
Nas últimas duas décadas, o volume de vegetais frescos importados pelos Estados Unidos, principalmente do México e do Canadá, aumentou quase 200%, de acordo com um relatório de 2021 do Departamento de Agricultura dos EUA.
Enquanto isso, os EUA e o Canadá têm o maior comércio bidirecional de gado vivo e carne bovina do mundo. Aumentos de preços podem ocorrer rapidamente em ambos os lados da fronteira.
BATATA FRITA E CHURRASCO MAIS CAROS
Até as batatas fritas provavelmente ficarão mais caras. O Canadá enviou cerca de US$ 1,7 bilhão em batatas fritas congeladas e outros produtos de "batata preparada" para os EUA em 2023.
Além disso, os bebedores de tequila e cerveja provavelmente pagarão mais, já que o México é o coração do negócio de tequila e a Modelo é a marca de cerveja mais vendida nos EUA.
As exportações em 2023 de carvão vegetal (e outros produtos de madeira) do Canadá para os EUA ultrapassaram US$ 11,5 bilhões. Com isso, os churrascos de verão de quem vive em território americano serão duplamente atingidos.
Eletrônicos, brinquedos, roupas e equipamentos esportivos são todos mercados fortemente dependentes da China. O gigante asiático já demonstrou capacidade de produzir em massa brinquedos que atendem aos padrões de segurança dos EUA.
IMPACTO NAS BOLSAS E NA APOSENTADORIA
Desde que Trump confirmou seus planos de impor tarifas ao Canadá e ao México, os mercados de ações estão em queda livre. Tem sido assim com índices como o Nasdaq e o S&P 5. O Dow Jones é outro índice que tem sentido o golpe.
É claro que os mercados de ações oscilam naturalmente ao longo do tempo e as contas de aposentadoria são veículos de poupança de longo prazo. Mas para as pessoas que estão usando-as agora ou planejam em breve, grandes quedas no mercado podem ter um impacto direto no dinheiro que terão disponível para a aposentadoria.
CASAS E O TARIFAÇO
O Canadá é um dos principais fornecedores de madeira para os EUA (e os contratos futuros de madeira atingiram uma alta de 30 meses com as notícias das tarifas). Para compensar e aumentar a produção americana de madeira, Trump assinou uma ordem executiva para expandir o corte de árvores em grandes áreas de parques nacionais, terras públicas e algumas das florestas mais valiosas do país.
Enquanto isso, a maior parte de drywall usado pela construção civil americana vem da China e do México. Os construtores de casas já disseram que podem ter de aumentar os preços como resultado. A decisão que ameaça impactar não apenas o preço de novas construções, mas também as casas existentes no mercado.
VEÍCULOS SENTIRÃO GUERRA COMERCIAL
Muitos fabricantes de automóveis montam veículos vendidos nos EUA no México. Segundo algumas estimativas, os preços de carros e caminhões podem aumentar em até US$ 12.000 - a depender do que Trump vai decidir depois do respiro temporário anunciado nesta quarta-feira.
"O aumento dos custos devido às tarifas sobre importações deixará os construtores com poucas opções", disse Danielle Hale, economista-chefe da Realtor.com, em uma declaração.
Ainda segundo a economista, os construtores podem escolher repassar os custos mais altos para os consumidores, "o que significará preços mais altos de casas, ou tentar usar menos desses materiais, o que significará casas menores. . . . Podemos ver a disposição dos compradores em pagar [custos mais altos] por casas existentes, à medida que as casas recém-construídas ficam mais caras.”