Colossal revive lobo-terrível extinto há 15 mil anos com biotecnologia; veja vídeo

Ben Lann, criador da Colossal Biotechnologies, falou sobre os experimentos da companhia à Fast Company Brasil no South by Southwest (SXSW) 2025

Empresa "revive" filhotes da espécie lobo-terrível
Filhotes estão com cerca de cinco meses de idade e vivem em um centro de preservação da vida selvagem nos Estados Unidos. Créditos: Colossal Biosciences.

Guynever Maropo 3 minutos de leitura

A empresa americana Colossal Biosciences anunciou na última segunda-feira (7) a recriação dos primeiros filhotes com características genéticas semelhantes ao lobo-terrível (dire wolf, em inglês), também conhecido como lobo-gigante (Aenocyon dirus), uma espécie que desapareceu há cerca de 15 mil anos, no fim da última era glacial.

De acordo com a companhia, três filhotes nasceram a partir de modificações genéticas realizadas em lobos modernos, usando como base o DNA antigo extraído de restos fossilizados. O feito marca um avanço significativo no projeto de “desextinção” que a empresa vem liderando desde 2021.

A empresa é conhecida por seus esforços em trazer de volta espécies extintas, como o mamute-lanoso, o tigre-da-Tasmânia e o dodô, utilizando biotecnologia de ponta e ferramentas de edição genética como o CRISPR.

O objetivo vai muito além de simplesmente “reviver” animais do passado: segundo seus idealizadores, recriar espécies resilientes pode ajudar no enfrentamento das mudanças climáticas, na preservação da biodiversidade e até mesmo na prevenção de doenças zoonóticas.

DNA pré-histórico e filhotes inspirados na cultura pop

Os três filhotes foram batizados com nomes emblemáticos: Rômulo e Remo, em alusão aos lendários fundadores de Roma que teriam sido amamentados por uma loba, e Khaleesi, em referência à personagem Daenerys Targaryen, da série Game of Thrones.

As imagens divulgadas mostram os animais com uma pelagem densa e branca. Segundo os cientistas, os filhotes devem alcançar o porte do lobo-gigante original, que pesava até 70 quilos, cerca de 25% mais do que um lobo-cinzento atual , além de possuir mandíbulas mais robustas, pernas musculosas e uma vocalização mais grave e potente.

Atualmente, os filhotes estão com cerca de cinco meses de idade e vivem em um centro de preservação da vida selvagem nos Estados Unidos. A Colossal planeja, em breve, expandir o programa para testar a reintegração desses animais em habitats controlados e, eventualmente, em áreas naturais.

Modificação genética com precisão cirúrgica

Ainda segundo a Colossal, o DNA utilizado foi extraído de dois fósseis da espécie extinta, datados de 72 mil e 13 mil anos, ambos encontrados nos Estados Unidos. A partir dessas amostras, os geneticistas selecionaram 20 modificações específicas em 14 genes diferentes, aplicando-as no genoma de lobos modernos para obter traços físicos e comportamentais semelhantes aos dos lobos-terríveis.

Essa tecnologia, apelidada de “tesoura genética”, permite editar trechos exatos do DNA, ativando ou desativando genes responsáveis por determinadas características.

"Nosso experimento mostra que é possível modificar múltiplos genes ao mesmo tempo para criar espécies mais adaptadas a ambientes extremos”, afirmou Ben Lamm, fundador da Colossal, em entrevista à Fast Company Brasil, durante o South by Southwest (SXSW) 2025.

Biodiversidade global

A proposta da Colossal é ambiciosa: usar a biotecnologia para reconstruir espécies-chave que desempenham papéis vitais em seus ecossistemas originais. Segundo Lamm, a biodiversidade global está em risco, e a engenharia genética pode ser uma forma de acelerar a recuperação ambiental.

"Sou um otimista nato. Se acreditarmos que já passamos do ponto de não retorno, por que ainda tentaríamos?”, questiona Lamm. “Sabemos que a conservação funciona, mas não na velocidade necessária. Por isso, precisamos de novas ferramentas. Se não formos rápidos o suficiente para proteger essas espécies, podemos recriá-las para que resistam ao futuro”, concluiu o fundador.

O renascimento dos lobos-terríveis não representa apenas um feito impressionante da ciência moderna, mas também reacende o fascínio por uma das criaturas mais enigmáticas e poderosas da pré-história. Mais fortes, maiores e mais adaptados à caça do que os lobos modernos, os Aenocyon dirus dominaram a América do Norte por milênios, e agora, graças à engenharia genética, voltam a caminhar sobre a Terra. 


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais