6 lições aprendidas após 3 anos trabalhando com semanas de 4 dias
Como um dia a menos de trabalho pode ser o melhor incentivo para a equipe ser mais produtiva
Imagine que são seis da manhã de uma sexta-feira. Você acorda ainda zonzo e pensa: “falta só mais um dia para chegar o fim de semana”. Mas, de repente, se lembra de que não trabalha às sextas-feiras!
Todo fim de semana é um fim de semana de três dias. E eis o pulo do gato: você continua recebendo um salário equivalente ao tempo integral, mesmo trabalhando apenas quatro dias normais, de oito horas.
Essa tem sido a vida da minha equipe nos últimos três anos na consultoria de mudança de comportamento Inventium. O que começou como um experimento na segunda metade de 2020 se transformou no nosso novo normal: uma semana de trabalho de quatro dias.
Chamamos nossa iniciativa de Gift of the Fifth (ou “o quinto dia de presente”, em tradução livre), o que serve como um lembrete de que, se o funcionário conseguir fazer seu trabalho em quatro dias, receberá de presente o tempo livre na sexta-feira. A seguir, compartilho o que aprendi depois de três anos tirando a maioria das sextas-feiras de folga.
1. Todos precisam mudar a forma como trabalham
Se você só tiver quatro dias para concluir uma carga de trabalho que normalmente levaria cinco, vai precisar mudar
se o funcionário conseguir fazer seu trabalho em quatro dias, receberá de presente o tempo livre na sexta-feira.
a forma como trabalha. Afinal, não é como se durante uma semana de trabalho normal a gente ficasse sentado de braços cruzados, olhando pela janela. Só que não é só você que precisa mudar.
Quando adotamos o regime de quatro dias, rapidamente ficou claro que todos tinham que mudar. Isso requer, por exemplo, que toda a equipe adote como padrão a comunicação assíncrona, e que as reuniões sejam marcadas com moderação, apenas quando necessário. Foi isso que concordamos em fazer na Inventium.
2. É preciso ser egoísta e altruísta na gestão do seu tempo
Uma mudança bem-sucedida para a semana de quatro dias requer uma mistura única de egoísmo e altruísmo. Nos últimos anos, me peguei dizendo “não” com mais frequência a pedidos que não eram essenciais para meus objetivos – o que, em última análise, é egoísta.
Por outro lado, tento colocar o tempo dos outros em primeiro lugar e evito copiar e-mails para pessoas sem necessidade ou convidá-las para reuniões – a não ser que algo, de fato, mereça uma reunião.
3. As metas precisam ser focadas em valor, não em horas
Usar a metodologia de gestão “objetivos e resultados-chave” (OKRs, na sigla em inglês) na hora de definir metas significa que cada membro da equipe saberá especificamente o que precisa alcançar ao longo de um ano.
Assim, eles subdividem essas metas em trimestrais e semanais. O uso desse método ajuda todos a saber se realmente concluíram seu trabalho em quatro dias ou se precisam dedicar um pouco de tempo de trabalho na sexta-feira.
4. O melhor presente que eu poderia dar à minha equipe
Implementar a semana de quatro dias é uma das mudanças mais radicais que você pode fazer na vida profissional das pessoas. Cafezinho e lanches gratuitos são legais, assim como massagens de cortesia no trabalho. Mas a maioria das vantagens não é nada perto de oferecer um dia inteiro de folga a cada semana.
É como dar a alguém 52 dias extras de férias todos os anos. E, ainda por cima, dar um voto de confiança aos funcionários, porque você acredita que eles são tão bons em seu trabalho que continuarão sendo capazes de realizar tudo o que seu papel em tempo integral exige.
5. Como acontece com qualquer benefício de RH, as pessoas vão se acostumar
Nos primeiros dois anos, os desafios foram poucos e espaçados entre si. No entanto, depois de manter essa
Se você está na dúvida sobre liberar a agenda nas sextas-feiras, meu conselho é lidar com isso como um experimento.
política em vigor por tanto tempo, ela começa a ser encarada como um direito adquirido. Assim como qualquer mudança incrível na vida que experimentamos, quando vivemos com ela por tempo suficiente, a sensação de novidade desaparece.
Batizar a iniciativa como “o quinto dia de presente” foi deliberado, pois esse nome lembra às pessoas que se trata de um presente (não um direito). Além disso, descobri que exercícios do tipo falar sobre como usamos nossas sextas-feiras de folga são úteis para garantir que todos continuemos a apreciar a sorte que temos pelo fato de quase todo fim de semana ser prolongado.
6. Seria muito difícil voltar à velha forma de trabalhar
Só para testar, perguntei à minha equipe o quão difícil ou fácil seria voltar a trabalhar em uma semana padrão de cinco dias. Um dos membros, uma mãe que trabalha com dois filhos pequenos, disse: “eu ia preferir aceitar um cargo de meio período ganhando menos do que trabalhar cinco dias por semana”.
Outro descreveu uma possível mudança como sendo extremamente difícil: “não é que eu não seja mais capaz de trabalhar cinco dias por semana. Também não é só por causa dos benefícios no meu estilo de vida. Acho que o que mais me incomodaria é o tempo perdido voltando para a semana de cinco dias sem ter nenhum incentivo para ser mais produtivo.”
Se você está na dúvida sobre adotar a política de liberar a agenda nas sextas para sua equipe ou empresa, meu conselho é: lide com isso como um experimento. Para mim e minha equipe, “o quinto dia de presente” tem sido, de fato, um presente que tenho prazer de oferecer. Não consigo nem imaginar ter que voltar a uma semana de cinco dias.