Por que grandes empresas estão investindo em “mentoria reversa”

Como a mentoria reversa pode ajudar os líderes a ampliar suas visões, reconhecer seus preconceitos e promover mudanças

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Patrice Gordon 3 minutos de leitura

Enquanto nos programas normais de mentoria um gerente sênior costuma orientar os funcionários mais jovens, na mentoria reversa acontece o oposto: trata-se de um líder que expõe a própria vulnerabilidade, estabelece uma conexão com um funcionário com pouca representatividade e amplia as vozes das pessoas marginalizadas dentro da empresa.

Como coach de carreira e empresária, descobri que a mentoria reversa é uma das ferramentas mais poderosas no arsenal de um líder para superar alguns de seus maiores obstáculos e formar equipes saudáveis.

Ignorar as boas ideias que os grupos mais jovens ou minoritários trazem para a discussão não é apenas um descuido, é um erro estratégico. Gigantes corporativos como Accenture, Target, Cisco, Fidelity e Estée Lauder são exemplos da mudança que os programas de mentoria reversa podem proporcionar.

Veja por que a mentoria reversa é tão importante e como a sua equipe pode estabelecer um programa desse tipo.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE AGORA

Uma pesquisa recente da Gallup constatou que 59% das pessoas estão "desistindo silenciosamente" de seus empregos (o tal movimento "quiet quitting"). São trabalhadores estão nessa situação por vários motivos, mas um dos principais é o fato de não se sentirem ouvidos.

Além disso, uma pesquisa da Better-up revelou que 69% dos funcionários não estão satisfeitos com as oportunidades de conexão no ambiente de trabalho, 52% querem sentir mais conexão humana no escritório e 38% não confiam em seus colegas.

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Além disso, em uma força de trabalho em rápida evolução, as equipes estão lidando com dinâmicas complexas que exigem atenção imediata, principalmente:

- Diferenças entre gerações:  como o mercado hoje promove a convergência de baby boomers até a geração Z, é possível encontrar até cinco gerações compartilhando o mesmo ambiente profissional. Essa mistura diversificada de perspectivas e experiências oferece uma oportunidade única de colaboração e crescimento.

- Equidade de gênero: é preciso abordar as disparidades existentes e criar um ambiente mais inclusivo, onde cada pessoa tenha as mesmas chances de prosperar.

- Etnia e representação cultural: com uma força de trabalho diversificada, dá para aproveitar a riqueza de ideias e promover a criatividade.

- Economia gig: as previsões sugerem um aumento nos contratos de curto prazo e no trabalho autônomo, principalmente entre os mais jovens.

- O papel da IA e da tecnologia: os avanços tecnológicos levantam questões sobre o futuro de funções que antes eram exclusivas de humanos, forçando a reavaliação e adaptação das estratégias.

Ignorar as boas ideias que grupos mais jovens ou minoritários trazem para a mesa é um erro estratégico.

A capacidade dos líderes e das organizações de criar e manter uma conexão humana autêntica será crucial para que as empresas prosperem ou sobrevivam nesse ambiente de negócios cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.

Uma solução para isso é a mentoria reversa, quando um líder sênior é orientado por uma pessoa de origem minoritária. Esse processo pode ajudar os líderes a se inspirar em outras mentalidades sobre crescimento, a reconhecer seus próprios preconceitos e a promover mudanças no que diz respeito à equidade.

COMO CRIAR UM PROGRAMA DE MENTORIA REVERSA 

Os detalhes de um programa de mentoria reversa são decisivos para que tenha sucesso. As características indispensáveis para os participantes desse tipo de iniciativa incluem:

- Curiosidade: pessoas curiosas aprendem com entusiasmo, fazem perguntas e buscam conhecimento, o que os torna participantes ideais para a mentoria reversa.

- Coragem: é preciso coragem para compartilhar experiências, desafiar hierarquias e admitir suas vulnerabilidades. As pessoas com coragem contribuem ativamente para o crescimento pessoal e coletivo.

- Ser aberto a mudanças: os participantes precisam aceitar novas ideias, abordagens e pontos de vista. A disposição para se adaptar permite o sucesso em ambientes complexos e em constante mudança.

- Autoconhecimento: ao compreender melhor a si mesmos, os participantes podem se envolver em uma autorreflexão profunda, identificar áreas de crescimento e de melhoria contínua.

- Desejo de ser um agente de mudanças: as pessoas com forte desejo de serem agentes de mudança desafiam as normas e promovem transformações significativas.

Ao se concentrar nesses atributos, os programas de mentoria reversa podem criar um ambiente de aprendizado diversificado, incentivando o desenvolvimento de habilidades, ampliando os horizontes e promovendo uma cultura de crescimento contínuo.


SOBRE A AUTORA

Patrice Gordon é fundadora da Eminem, consultoria de mentoria reversa e programas de liderança inclusiva. saiba mais