Por que os homens ganham mais crédito que as mulheres pelo mesmo trabalho

Como as mulheres podem ser reconhecidas por suas realizações, negociar melhor e lidar com a política no ambiente de trabalho

Crédito: SvetaZi/ iStock

Alison Fragale 7 minutos de leitura

No momento em que as pessoas te conhecem (ou mesmo ouvem falar de você), elas já constroem todo um imaginário em torno da sua figura. Já tiram conclusões com base nas poucas informações que têm sobre seu status e poder. Presumem coisas como sua profissão, cargo, origem, etc.

A partir daí, o viés de confirmação – a tendência de interpretar novas informações de uma forma que confirme as crenças que já temos – entra em cena. As diferenças nas imagens criadas inicialmente, somadas a esse viés, ajudam a explicar por que duas pessoas com o mesmo comportamento podem receber respostas completamente diferentes.

O simples fato de ser homem, especialmente um homem branco, traz consigo todo um conjunto de qualidades que os coloca em uma posição de vantagem, enquanto as mulheres são frequentemente vistas como doces e submissas – ou autoritárias e mandonas. Isso ajuda a formar as primeiras impressões que acabam influenciando como os comportamentos futuros serão interpretados.

Também significa que construir uma imagem positiva que todos admiram exige mais esforço para algumas pessoas do que para outras. Aqueles cujo ponto de partida já os coloca à frente em termos de como são vistos só precisam manter esse status – algo que não é muito difícil, graças ao viés de confirmação. Já quem começa atrás nessa corrida precisa desfazer a percepção negativa sobre si, o que requer uma estratégia mais elaborada.

Um bom exemplo disso é a história de Joan Roughgarden. Joan, mulher trans, fez sua transição enquanto lecionava biologia na Universidade de Stanford, na Califórnia. Antes, sua competência nunca havia sido questionada por seus colegas.

Mas, após a transição, ela percebeu que precisava se provar de uma forma que os homens nunca precisariam. “Eles são considerados competentes até que se prove o contrário, enquanto as mulheres são automaticamente vistas como incompetentes e precisam provar que não são”, lembra Joan.

Também é perturbador ver que, conforme as mulheres avançam na carreira, acabam enfrentando mais maus-tratos, em vez de menos. Um exemplo disso é um estudo brilhante (e bastante deprimente) conduzido por Jennifer Chatman, que analisou 15 anos de avaliações de professores de administração de uma universidade nos EUA.

construir uma imagem positiva que todos admiram exige mais esforço para algumas pessoas do que para outras.

Chatman e sua equipe descobriram que, no caso de professoras mulheres, as docentes mais velhas recebiam avaliações piores do que suas colegas mais jovens. Isso parece surpreendente à primeira vista, já que se espera que professores melhorem com o tempo e que isso se reflita nas opiniões dos alunos – algo que, de fato, aconteceu, mas apenas com os homens.

Contudo, esse resultado é previsível quando consideramos o status e o poder das mulheres ao longo de suas carreiras. Lembre-se de que pessoas com pouco status e poder são vistas como calorosas, mas submissas. Por mais que não te vejam como muito competente e capaz, ainda gostam de você.

Não ter status torna ainda mais difícil conquistar uma posição de poder. Mas supomos que, se conseguirmos, de alguma forma, superar os obstáculos e alcançar um cargo ou salário melhor, tudo será mais fácil. Infelizmente, acontece o contrário. No momento em que somos vistas como detentoras de poder, somos rotuladas como assertivas e frias – e as críticas surgem.

Crédito: Freepik

Foi exatamente o que aconteceu com as professoras. Aquelas que tiveram a sorte de progredir na carreira ganharam poder, mas, com isso, a percepção sobre elas piorou. Quando somos jovens e não temos poder, somos vistas como doces e inofensivas, mesmo que nosso status seja baixo. Porém, se nosso status não muda e nosso poder aumenta, somos julgadas e tratadas de forma muito mais dura do que antes.

Mas este não é um fenômeno exclusivo do mundo acadêmico. Em 2021, um número recorde de líderes mulheres abandonou seu cargo, em comparação com seus colegas homens. Para cada mulher promovida ao nível de diretora, duas outras pediram demissão.

Um dos principais motivos citados: maior incidência de situações envolvendo desrespeito, como ter suas decisões questionadas ou insinuações de que não são qualificadas para o cargo. E essas “microagressões” são ainda mais frequentes para mulheres negras em posições de liderança.

quem começa atrás nessa corrida precisa desfazer a percepção negativa sobre si, o que requer uma estratégia mais elaborada.

Para qualquer pessoa que já tenha estado em uma posição de poder com baixo status, isso pode soar bastante familiar. Também explica por que podemos ser maltratadas em um ambiente e adoradas em outro.

Alguns estudos mostram que as mulheres enfrentam mais desrespeito do que os homens, enquanto outros apontam que o gênero não faz diferença. Embora o gênero possa afetar o status e, consequentemente, a maneira como somos tratadas, isso nem sempre acontece.

É totalmente possível que mulheres se tornem figuras de poder com alto status. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que os outros prestem menos atenção ao gênero e mais às qualidades excepcionais que você possui.

Às vezes, isso significa buscar um novo ambiente que valorize mais as suas contribuições. Em outros casos, pode ser uma questão de permanecer onde está, mas ajustar a forma como você se apresenta. As mulheres fortes e admiradas ao nosso redor provam que isso é possível – desde que sigamos dois princípios.

SOMAR, NÃO SUBTRAIR

Quanto mais difícil o desafio, mais a estratégia importa. Diante das dificuldades, precisamos aproveitar todas as vantagens para conquistar a reputação de mulher forte e competente que merecemos, sem cometer erros.

Um erro comum é o que os pesquisadores chamam de “gestão de impressão compensatória” – ou seja, nossa tendência de sacrificar uma característica para destacar outra. 

Isso acontece, por exemplo, quando queremos ser vistas como simpáticas e acabamos diminuindo nossa assertividade. Ou quando queremos ser assertivas e deixamos de lado a simpatia. Esse comportamento é bastante comum, mas problemático, especialmente para quem já começa com um status mais baixo.

Costumamos ser rotuladas como assertivas ou simpáticas, nunca ambos. O que não podemos fazer é reforçar esses estereótipos com as nossas próprias ações.

Por ser uma estratégia de autoproteção tão comum, muitas vezes nem percebemos que estamos nos comportando de uma forma que nos impede de ser vistas como fortes e ser admiradas da maneira que merecemos. E acabamos acreditando que isso não é possível.

Vejo isso acontecer o tempo todo. Lembro de uma amiga que me contou como sua tentativa de “gestão de impressão compensatória” quase a fez perder uma venda.

Como muitas mulheres, ela já havia recebido feedbacks ao longo da carreira dizendo que era “muito intensa” e estava preocupada em passar essa impressão na primeira reunião com um cliente em potencial. Para tentar parecer amigável e agradável, decidiu ser menos assertiva.

Alguns estudos mostram que as mulheres enfrentam mais desrespeito do que os homens, enquanto outros apontam que o gênero não faz diferença.

Ela fez isso mantendo uma postura receptiva, ouvindo mais do que falando e sorrindo bastante. Tentou não “exagerar” ao falar das suas conquistas. No meio da reunião, o cliente comentou que não achava que ela tivesse as qualificações necessárias para a função, o que a deixou frustrada e chocada. Quando mostrava confiança, era “demais”; quando se continha, “não era o suficiente”.

Quando ouvi essa história, achei totalmente previsível e evitável. Minha amiga queria ser bem aceita e, para isso, decidiu se mostrar menos assertiva do que seria normalmente. Como resultado, o cliente a viu como pouco assertiva. Uma estratégia perfeitamente executada. O único problema é que não trouxe o resultado desejado.

Felizmente, assim que o cliente fez esse comentário, ela conseguiu corrigir a má impressão, mudar sua postura pelo restante da reunião e, no fim, fechar a venda. Ainda assim, eu lhe dei um conselho para situações futuras: some, não subtraia. Comece sendo você mesma e depois adicione mais assertividade ou simpatia, conforme for necessário.

JOGUE NO ATAQUE, NÃO NA DEFESA 

Para mulheres, ou qualquer outra pessoa que tenha herdado uma reputação indesejada ou distorcida, o segredo é agir o mais rápido possível. Quanto mais tempo as pessoas passarem vendo você de uma determinada maneira, mais difícil será mudar essa percepção.

Construir uma boa imagem é mais fácil e mais divertido do que mudá-la. Infelizmente, vejo muitas mulheres talentosas que só percebem isso quando se veem presas a uma imagem que não querem ter.

Só então começam a procurar soluções, e é aí que sou obrigada a dar a má notícia: mudar a forma como você é vista é possível, mas requer muito mais tempo e esforço. O caminho mais simples é construir uma imagem de mulher forte e simpática desde o início, sempre que estiver em um novo ambiente.

Trecho extraído do livro “Likeable Badass: How Women Get the Success They Deserve”, de Alison Fragale, e reproduzido com permissão da editora Doubleday.


SOBRE A AUTORA

Alison Fragale é pesquisadora na área de psicologia, professora, escritora e palestrante internacional. saiba mais