5 perguntas para Jorge Pacheco, CEO do STATE

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Redação Fast Company Brasil 7 minutos de leitura

Desde que apostou no coworking, mesmo antes de o conceito se popularizar no Brasil, Jorge Pacheco vem liderando iniciativas que conectam inovação, criatividade e cidades.

Fundador e CEO do STATE, centro de inovação independente voltado para soluções urbanas, ele ajudou a estruturar espaços colaborativos como a rede PLUG e o Cubo (Itaú), antecipando tendências que hoje definem o ambiente de trabalho e o empreendedorismo tecnológico.

O STATE nasceu da ideia de transformar um antigo galpão industrial da Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, em um ecossistema vibrante de inovação. O espaço começou a operar em esquema de soft opening em 2019 e foi inaugurado oficialmente às vésperas da pandemia, em fevereiro de 2020.

Com 10 mil metros quadrados de área, mais de 60 empresas residentes e um fluxo de mais de duas mil startups, o espaço é um polo de experimentação onde ciência, tecnologia e indústrias criativas se encontram para pensar o futuro das cidades.

Em fevereiro, a Fast Company Brasil passou a ser uma das empresas residentes do espaço e parte do ecossistema do STATE. Nesta entrevista, Jorge Pacheco compartilha sua visão sobre o impacto dos distritos criativos.

FC Brasil – Você vem do mercado financeiro e apostou no modelo de coworking antes de o trabalho híbrido ser um modelo adotado por várias empresas. O que o incentivou a fazer esse movimento?

Jorge Pacheco – Foi uma combinação de fatores. Sempre tive o sonho de criar um ambiente de trabalho que realmente refletisse o que eu acreditava ser ideal – um espaço agradável, inspirador, colaborativo e flexível.

Além disso, eu estava muito interessado em me aproximar do ecossistema de startups. Em 2011, ouvia falar do Silicon Valley e das oportunidades com startups, mas não sabia como me aproximar delas. Criar um coworking para hospedar startups seria a forma de fazer isso. A partir daí surgiu o meu primeiro negócio no setor, a Plug N´Work. 

Também estava de olho no que acontecia no mercado imobiliário dos EUA, onde o movimento de coworking começava a ganhar força. Percebi que havia uma oportunidade de trazer esse conceito para o Brasil, de ser um dos pioneiros por aqui.

E, honestamente? Tudo isso parecia incrivelmente divertido! A ideia de construir algo novo, de criar espaços onde pessoas pudessem trabalhar de forma mais livre e criativa, isso me animava muito.

Então, foi essa mistura de realização pessoal, oportunidade de mercado e, sim, uma boa dose de diversão que me fez dar esse salto. Olhando para trás, com o trabalho híbrido se tornando tão comum hoje, fico feliz de ter seguido essa intuição.

FC Brasil – Qual a relação entre distritos criativos e centros de inovação, como o STATE, e a criação de comunidades inovadoras? Para você, o que não pode faltar em um ambiente propício à inovação?

Jorge Pacheco – Os distritos criativos e centros de inovação, como o STATE, são fundamentais para a formação de comunidades inovadoras. Eles criam um ecossistema colaborativo que reúne uma massa crítica de empreendedores, startups e instituições voltadas para o futuro.

Essa densidade empreendedora favorece a troca de ideias e a colaboração, enquanto a presença de diversos agentes de inovação, como universidades, startups e investidores, facilita o acesso a recursos e conhecimento.

Embora o trabalho remoto continue a crescer, o valor do contato pessoal que os espaços físicos proporcionam permanecerá insubstituível.

Além disso, esses ambientes promovem conexões valiosas entre diferentes atores sociais, aumentando as chances de encontros casuais que podem levar a descobertas inesperadas e inovações disruptivas.

Para que um ambiente propício à inovação seja realmente eficaz, é essencial contar com uma infraestrutura adequada, uma cultura de experimentação que valorize o aprendizado com falhas e diversidade de perspectivas que enriqueçam o processo criativo.

Apoios institucionais e uma boa qualidade de vida também são cruciais, pois integram moradia, trabalho e lazer, promovendo um equilíbrio saudável.

Em suma, distritos criativos e centros de inovação como o STATE atuam como catalisadores da inovação, impulsionando o desenvolvimento econômico local através da colaboração e da criatividade.

FC Brasil – Um dos diferenciais do STATE é a curadoria. Quais são os critérios para a escolha das empresas que entram no ecossistema? 

Jorge Pacheco – No STATE, valorizamos a curadoria como um diferencial fundamental. Nossa comunidade é cuidadosamente composta por áreas de inovação de grandes empresas, startups promissoras, laboratórios e agências criativas.

Buscamos ativamente empresas que são líderes em seus respectivos segmentos e que estão na vanguarda do desenvolvimento de projetos inovadores com potencial para melhorar a vida das pessoas nas cidades.

Nosso foco é a inovação urbana e, por isso, oferecemos condições especiais para startups que desenvolvem tecnologias disruptivas nos setores de mobilidade urbana, energia sustentável, moradia inteligente, saúde digital e economia circular.

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Também buscamos empresas que compartilhem nossa visão e valores. Queremos que nossa comunidade seja composta por pessoas e organizações que se importam com o impacto positivo que podem gerar nas cidades e na sociedade.

Nosso espaço físico, um galpão com 15 metros de pé direito, é um reflexo da dimensão que buscamos em nossa comunidade. Queremos que as pessoas se inspirem não apenas pela arquitetura do espaço, mas também pela energia e criatividade que emanam das empresas e indivíduos que o habitam.

É por isso que somos tão criteriosos na seleção. Buscamos não apenas empresas inovadoras, mas também empresas que se encaixem na nossa cultura e que estejam dispostas a contribuir para o crescimento e desenvolvimento da nossa comunidade.

FC Brasil – Como você imagina os espaços colaborativos e centros de inovação nos próximos 10 anos? O modelo físico ainda será essencial?

Jorge Pacheco – Eles provavelmente evoluirão para ambientes híbridos, combinando elementos físicos e virtuais de forma mais integrada. A tecnologia vai desempenhar um papel crucial, com realidade aumentada e virtual permitindo colaborações imersivas à distância. No entanto, o modelo físico continuará sendo essencial, embora transformado.

Esses espaços físicos se tornarão mais flexíveis e adaptáveis, com design inteligente que facilita tanto o trabalho individual quanto colaborações espontâneas. Eles vão incorporar tecnologias avançadas para melhorar a produtividade e o bem-estar, como sistemas de IA para otimizar o uso do espaço e promover conexões.

Os distritos criativos e centros de inovação são fundamentais para a formação de comunidades inovadoras.

A sustentabilidade será uma prioridade, com edifícios inteligentes e autossuficientes. Os centros de inovação se expandirão além das paredes, integrando-se mais profundamente com as comunidades locais.

Embora o trabalho remoto continue a crescer, o valor do contato pessoal e da serendipidade que os espaços físicos proporcionam permanecerá insubstituível. Esses locais servirão como pontos de encontro para networking, brainstorming e construção de relacionamentos.

FC Brasil – O STATE conecta projetos ligados a inovações urbanas. Existe um setor ou um tipo de inovação que você vê como grande aposta nos próximos anos?

Jorge Pacheco – Sem dúvidas, em praticamente todos os setores que olhamos. Como exemplos, vou falar sobre inovação nos setores de mobilidade, energia e economia circular.

Na mobilidade, os veículos elétricos e autônomos devem ganhar destaque, com avanços em baterias e sistemas de navegação. O transporte público se tornará mais inteligente, com sistemas sob demanda e integração entre diferentes modais. A infraestrutura urbana vai evoluir, incorporando sensores e tecnologias de comunicação para otimizar o tráfego.

No setor energético, a busca por eficiência e sustentabilidade vai impulsionar o desenvolvimento de fontes renováveis e sistemas de armazenamento mais eficientes. A inteligência artificial será aplicada para gerenciar redes elétricas de forma mais eficaz.

Na economia circular, veremos um aumento nas práticas de reciclagem, reutilização e redesign de produtos. A indústria alimentícia adotará princípios de design circular, priorizando ingredientes sustentáveis e embalagens eco-friendly. Novos modelos de negócio, como o "produto como serviço", ganharão força.

Essas inovações visam reduzir o impacto ambiental, otimizar o uso de recursos e melhorar a qualidade de vida nas cidades, alinhando-se com metas globais de sustentabilidade e como os objetivos do STATE.


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