5 perguntas para Renata Gomide, CMO do Grupo Boticário

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Redação Fast Company Brasil 8 minutos de leitura

À frente da estratégia de marketing do Grupo Boticário, Renata Gomide tem colocado em prática uma visão que alia inovação tecnológica, escuta ativa e impacto social – pilares que transformam a beleza em uma plataforma de mudança cultural.

À Fast Company Brasil, a executiva fala sobre projetos como o Batom Inteligente, criado com apoio de inteligência artificial para promover autonomia a pessoas com deficiência, e o recém-lançado Centro de Pesquisa da Mulher, que desafia o viés masculino da ciência ao investigar as especificidades da fisiologia feminina.

Com um time majoritariamente formado por mulheres – 60% do quadro total e mais da metade em cargos de liderança –, a cultura da companhia é moldada por uma perspectiva diversa e colaborativa. “A transformação começa dentro de casa”, diz Renata.

Ela também detalha como os dados e a tecnologia têm guiado decisões estratégicas em um cenário de consumo em constante mutação, no qual autenticidade e personalização são exigências básicas. “Hoje, não basta entregar um bom produto: é preciso gerar valor e relevância cultural.”

Em um mercado que cobra mais responsabilidade das marcas, Renata defende alianças duradouras com agentes da sociedade civil, escuta ativa de grupos minorizados e um olhar intencional sobre as relações humanas. “Liderar é cuidar. E cuidar é garantir que, onde houver um elo do nosso ecossistema de beleza, haja também conexão humana, propósito e bem-estar.”

Fast Company – De que forma iniciativas como o Batom Inteligente e o Centro de Pesquisa da Mulher se alinham à estratégia de marca do Grupo Boticário? Como vocês mensuram o impacto de ações como essas, tanto para a sociedade como para a empresa?

Renata Gomide – Projetos como o Batom Inteligente e o Centro de Pesquisa da Mulher são exemplos de como unimos tecnologia, propósito e escuta ativa para transformar o papel da beleza na sociedade.

Eles não apenas se alinham à nossa estratégia de marca – que tem como pilares inovação, centralidade no consumidor e impacto social – como também traduzem nossa ambição de construir um ecossistema de beleza que transcende o produto.

O Batom Inteligente, por exemplo, é fruto de uma cocriação com CESAR, Neurobots e Embrapii, que une visão computacional, robótica e inteligência artificial em um protótipo inédito no mercado de beleza.

Mais do que um avanço tecnológico, é uma resposta direta às necessidades de pessoas com deficiência motora ou visual, promovendo autonomia e acesso ao autocuidado. A iniciativa foi vencedora no People’s Choice Awards, na categoria de Design e Inovação. 

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Já o Centro de Pesquisa da Mulher nasce com a missão de transformar a forma como a ciência entende a fisiologia feminina. Aprofundamos o conhecimento sobre as especificidades biológicas, hormonais e emocionais das mulheres, com foco em desenvolver soluções cosméticas alinhadas às diferentes fases da vida. É uma iniciativa que rompe com décadas de um viés científico masculino e coloca a mulher no centro da inovação em beleza.

Para mensurar o impacto dessas iniciativas, adotamos uma abordagem dual. Do ponto de vista do negócio, acompanhamos indicadores como aumento de consideração de marca, crescimento da base ativa de consumidoras e performance de vendas de produtos nascidos a partir desses insights.

O consumidor quer se sentir representado, ouvido e respeitado.

Do ponto de vista social, avaliamos a profundidade das conversas que provocamos, o nível de engajamento gerado e, principalmente, a transformação cultural que ajudamos a impulsionar.

Não trabalhamos com o dia de hoje. O Grupo Boticário se posiciona como uma startup de 48 anos que inova constantemente porque entende que o futuro da beleza está nas conexões genuínas que criamos com as pessoas.

Iniciativas como essas reafirmam nosso compromisso em ser um agente ativo de mudança na sociedade – sempre colocando a beleza como uma plataforma de impacto positivo.

Fast Company – Nos dois casos, vocês trabalharam com parceiros - CESAR e Hospital Albert Einstein. Há outras iniciativas em parceria, seja com organizações da sociedade civil ou agentes de transformação? Quais são os critérios para a escolha desses parceiros?

Renata Gomide – Temos a convicção de que nenhum impacto relevante é construído de forma isolada. Iniciativas como o Batom Inteligente e o Centro de Pesquisa da Mulher refletem nossa escolha por caminhar ao lado de instituições que compartilham dos nossos valores e ampliam nossa capacidade de gerar transformação real.

Outro exemplo potente é o lançamento dos pincéis acessíveis de Quem Disse, Berenice? e a primeira linha de pincéis articulados de Make B., iniciativas cocriadas com a Comunidade Beleza Livre.

Renata Gomide, CMO  do Grupo Boticário
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A Comunidade Beleza Livre foi criada pelo Grupo Boticário em parceria com a Ipsos, com o objetivo de codesenvolver produtos diretamente com consumidores pertencentes a grupos minorizados.

Por meio dessa escuta ativa e contínua, conseguimos incorporar mais representatividade desde a concepção até a entrega final das nossas marcas de consumo. A iniciativa dos pincéis acessíveis de Make B., por exemplo, foi premiada pelo iF Design Award 2025, um dos prêmios de design mais prestigiados do mundo.

Buscamos instituições, agentes da sociedade civil e especialistas que compartilhem da nossa visão de futuro para que, juntos, possamos gerar inovação com impacto.

Mais do que colaborações pontuais, nosso foco está na construção de alianças estratégicas e duradouras, que reforcem o nosso papel como um ecossistema de beleza comprometido com inclusão, escuta e transformação social.

Fast Company – Quais movimentos recentes no comportamento do consumidor mais impactaram a estratégia de marketing de vocês? Como os dados têm guiado a tomada de decisão na sua área?

Renata Gomide – O comportamento do consumidor tem evoluído em uma velocidade sem precedentes, e essa transformação tem sido o principal vetor da nossa estratégia de marketing.

Hoje, não basta entregar um bom produto: é preciso gerar valor, construir relevância cultural e estar presente de forma significativa na vida das pessoas.

Um dos movimentos mais relevantes que observamos é a busca por experiências personalizadas e autenticidade. O consumidor atual quer se sentir representado, ouvido e respeitado. Por isso, investimos fortemente em dados, tecnologia e escuta ativa para que as nossas decisões sejam baseadas em insights reais.

o Centro de Pesquisa da Mulher é uma iniciativa que coloca a mulher no centro da inovação em beleza.

Essa profundidade de conhecimento nos permite antecipar tendências e criar estratégias de portfólio e comunicação mais conectadas com os desejos e necessidades do público. O uso de inteligência artificial, ferramentas de social listening e análise preditiva tem sido fundamental para guiar desde o desenvolvimento de produtos até as campanhas que lançamos.

A tecnologia nos permite ser mais ágeis, mas também mais humanos, porque conseguimos estar mais próximos do consumidor em toda a sua jornada. A omnicanalidade, por exemplo, deixou de ser um diferencial para se tornar uma exigência básica. Integramos cada vez mais os canais físicos e digitais.

Em resumo, o marketing que fazemos hoje no Grupo Boticário é um reflexo de um consumidor que é diverso, exigente e em constante movimento. Nossa missão é acompanhar esse ritmo com estratégia, criatividade e propósito.

Fast Company – 60% do quadro de colaboradores do grupo é formado por mulheres e mais de 50% estão em cargos de liderança. De que maneira isso molda a cultura da companhia? 

Renata Gomide – Essa presença feminina molda não só o que fazemos, mas principalmente como fazemos. Impacta desde a forma como desenhamos nossos produtos até o modo como nos comunicamos, como lideramos times e como construímos marcas com propósito. Essa pluralidade é o que torna o nosso ecossistema de beleza mais potente e relevante.

Buscamos instituições, agentes da sociedade civil e especialistas que compartilhem da nossa visão de futuro

Além disso, essa representatividade interna fortalece a nossa cultura de escuta ativa, colaboração e inovação — porque mulheres carregam um repertório único que amplia nossas possibilidades criativas e estratégicas.

No Grupo Boticário, acreditamos que a transformação começa dentro de casa. Por isso, promover a liderança feminina não é um projeto isolado: é parte do nosso DNA, da forma como enxergamos o presente e, sobretudo, do futuro que queremos construir.

Fast Company – Um tema em alta é a saúde social, junto com saúde física e mental. Como líder, o que tem feito para garantir a qualidade de relacionamentos
de colaboradores a fornecedores?

Renata Gomide – A saúde social está nas relações que cultivamos, nos ambientes que criamos e na forma como escolhemos nos conectar com as pessoas. Como líder, essa consciência precisa ser intencional.

Garantir a qualidade das relações no dia a dia passa por criar ambientes seguros, onde os mais de 50 mil colaboradores possam se expressar, inovar e até errar com autonomia e acolhimento. Também passa por reconhecer que boas lideranças inspiram times mais engajados e colaborativos. 

Com nossos parceiros e fornecedores, o olhar é o mesmo: relações baseadas em respeito mútuo, ética e responsabilidade compartilhada. Temos mais de três mil fornecedores ativos, e entendemos que o impacto social que geramos só é possível porque existe uma rede comprometida com os mesmos valores que defendemos.

No fim do dia, liderar é cuidar. E cuidar é sobre garantir que, onde houver um elo do nosso ecossistema de beleza, haja também conexão humana, propósito e bem-estar.


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