Gosta de conversar com o ChatGPT? Ele pode nos deixar ainda mais solitários

Novo estudo sugere que a dependência emocional de chatbots pode agravar o isolamento social

Crédito: tohamina/ Freepik

Eve Upton-Clark 2 minutos de leitura

Pesquisadores do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e da OpenAI realizaram estudos para analisar o uso do ChatGPT e descobriram um padrão preocupante: os usuários que mais recorrem ao chatbot também relatam os maiores níveis de solidão.

Mas fica a dúvida: será que o chatbot causa esse isolamento ou ele simplesmente atrai pessoas que já se sentem solitárias?

As pesquisas examinaram milhões de interações e revelaram que, embora apenas uma pequena parcela dos usuários utilize o ChatGPT para suporte emocional, aqueles que o fazem estão entre os que mais usam a ferramenta.

O estudo do MIT revelou que o uso mais intenso do chatbot está associado a uma maior solidão, dependência emocional e dificuldades para socializar. Como a solidão é subjetiva e difícil de medir, os pesquisadores avaliaram tanto a percepção dos usuários sobre seu próprio isolamento quanto seus níveis reais de interação social.

Os resultados também apontaram que os usuários mais assíduos tinham maior tendência a considerar o ChatGPT um “amigo” ou mesmo a projetar emoções humanas na IA. Além disso, aqueles que mantinham conversas pessoais com o chatbot relataram sentir-se ainda mais solitários – especialmente quando usavam o modo de voz ajustado para um gênero oposto ao seu.

IA E DEPENDÊNCIA EMOCIONAL

Desde o lançamento do ChatGPT, há mais de dois anos, cresce o debate sobre os impactos dos chatbots na vida das pessoas – tanto no mundo digital quanto fora dele.

Atualmente, cerca de 400 milhões de usuários interagem com o ChatGPT semanalmente. Enquanto alguns utilizam a ferramenta para vencer debates ou até substituir a terapia, contrariando os alertas de especialistas, outros chegam a descrevê-lo como seu “melhor amigo”.

Para Sandra Matz, professora da Columbia Business School e autora do livro “Mindmasters: The Data-Driven Science of Predicting and Changing Human Behavior” (Mindmasters: A ciência baseada em dados para prever e mudar o comportamento humano), essa dependência emocional pode ter consequências de longo prazo:

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“Conversar com um chatbot que sempre se adapta às suas preferências e responde de forma educada e encorajadora pode parecer reconfortante no momento. Mas, com o tempo, isso pode enfraquecer sua capacidade de lidar com o mundo real e com as complexidades das relações humanas”, explica.

Para entender melhor esse fenômeno, seria necessário um estudo mais rigoroso, no qual um grupo de pessoas usasse chatbots enquanto outro não, para comparar os efeitos na solidão. “O problema é que isso levanta questões éticas, pois estaríamos interferindo diretamente na experiência de solidão dessas pessoas”, explica Matz.

Os impactos negativos da interação com chatbots vêm sendo cada vez mais questionados, e por um bom motivo. Até hoje, cientistas tentam compreender totalmente os efeitos das redes sociais na saúde mental. Quando o assunto é inteligência artificial, talvez só possamos avaliar as consequências daqui a alguns anos.


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais