Por que a Selic está subindo e a alta afeta o seu bolso?

Taxa básica de juros é usada para tentar frear a inflação e tem ligação com o desenho de uma série de ativos financeiros e no custo do dinheiro, como no caso dos financiamentos

Rmcarvalho via Getty images

Maira Escardovelli 5 minutos de leitura

A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne para definir a taxa básica de juros, a Selic. Ela é considerada por boa parte dos economistas como o principal instrumento de controle da inflação no Brasil.

Na última reunião, realizada entre os dias 28 e 29 de janeiro, a taxa alcançou 13,25%. Foi o quarto aumento seguido do ciclo de alta, que deve se manter pelo menos até a reunião de 18 e 19 de março.

O ritmo da aceleração está no radar de investidores e tomadores de decisão. O último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (10), feito junto a alguns dos principais agentes financeiros do país, aponta para uma expectativa média de taxa básica de juros de 15% ao final do ano. A projeção é recuar até chegar a 12,5% em dezembro de 2026.

O QUE FAZ A SELIC AUMENTAR?

A justificativa para a elevação da Selic é trazer a inflação para a meta de 3%, estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em 2024, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação do país, encerrou o ano em 4,83%. Em janeiro, houve uma desaceleração de 0,16%, trazendo a inflação para 4,56%. 

O número, mesmo com o recuo, ainda está acima do teto, que tem margem de tolerância de 1,5% para cima - ou seja, até 4,5%. O último Focus, no entanto, apontou para uma inflação estimada em 5,58% para 2025.

O Copom informou na ata que o ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo mostram a demanda interna crescendo em ritmo intenso

Ainda de acordo com a ata, o mercado de trabalho aquecido, a política fiscal expansionista e as fortes concessões de crédito amplo têm provocado suporte no consumo e na demanda agregada do país.

E COMO A SELIC AGE?

Neste cenário, segundo Andre Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), a taxa básica de juros elevada ajuda a frear o processo inflacionário. No caso das famílias, elas são levadas a postergar o consumo presente para o consumo futuro. No caso dos empresários, o efeito é adiar o investimento no país porque o custo do capital é alto. 

“Esse adiamento do consumo faz com que os preços caminhem mais devagar, porque há diminuição da demanda”, afirma Braz. 

Na prática, a Selic encarece, por exemplo, o financiamento de bens duráveis - como um imóvel ou um carro. 

A taxa básica de juros também corrige títulos do governo e orienta os juros de mercado, encarecendo o empréstimo.  Por isso, o objetivo final é que quem não tem recursos não se comprometa com novas dívidas e adie os gastos.

INFLUÊNCIA TAMBÉM NO BOLSO

Por outro lado, com a taxa básica de juros elevada, incentiva-se que quem possui capital priorize a alocação em investimentos. 

“Da mesma forma que os juros sobem, a remuneração pelo dinheiro investido também aumenta”, explica o economista ao referenciar a compra de títulos públicos que rendem mais com o ciclo de alta da Selic.

Quando os juros caem, influenciam o rendimento de investimentos de renda fixa - como o Tesouro Direto, em particular o Selic. Nesse cenário, por outro lado, aumenta ao potencial de ganhos com ativos de renda variável.

A poupança também é influenciada pela taxa básica de juros. Se a meta da Selic ao ano for superior a 8,5%, a remuneração é de 0,5% ao mês.

No entanto, se a meta da Selic ao ano for igual ou inferior a 8,5%, a remuneração é de 70% dessa meta, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento.

IMPACTO NA ATIVIDADE ECONÔMICA

O problema está no fato de que, apesar de ser capaz de conter a inflação, o aumento da Selic pode levar a diminuição da geração de emprego e de renda

Isso porque, com a tomada de risco mais alta,  as empresas deixam de priorizar investimentos voltados à atividade produtiva do país. Por exemplo, em infraestrutura, e privilegiam a alocação de recursos no mercado financeiro

“Quando o juro está baixo, o empresário que quer aumentar a sua riqueza vai arriscar mais na atividade econômica”, pontua o economista.

Isso significa que a Selic alta pode diminuir o Produto Interno Bruto (PIB) do país. De acordo com Braz, os juros tendem a fazer com que a economia cresça menos, já que eles também influenciam na intenção de investimento do empresariado. 

O mesmo vale para as companhias que querem captar recursos no mercado financeiro para aumentar a produtividade, porque, com a Selic alta, o dinheiro “está mais caro”. Logo, os planos são postergados.  

EXISTE SAÍDA

Segundo o economista do FGV IBRE, os juros mais altos podem convencer os agentes econômicos de que o país está comprometido em controlar a inflação e levá-la para o teto, esforço reconhecido como algo positivo. E isso pode melhorar o câmbio brasileiro.

Isso porque a desvalorização cambial significa o aumento da incerteza em relação à economia brasileira. Quem investe no país passa a acreditar menos que o BC vai cumprir a meta, o que desvaloriza a moeda nacional e encarece as importações. 

Mas, com o ciclo de alta da Selic, os analistas tendem a avaliar que se diminui um pouco o risco de investimento, o que também pode ajudar a expectativa de a inflação começar a baixar.

“Ao longo do início de 2025, a projeção de inflação para esse ano e para o ano que vem tem aumentado, porque ninguém está acreditando muito que a política monetária vai, de fato, cumprir bem o seu papel de conter a oscilação de preços com os juros”, pontua Braz. 

Por outro lado, o economista lembra que, nas últimas semanas, a moeda brasileira se recuperou, o que pode representar uma melhora na credibilidade do país

“Pode ser que isso venha a ser visto como uma redução das expectativas de inflação ao longo das próximas semanas. Isso pode significar uma melhora e uma diminuição de risco já se materializando também em uma expectativa de inflação mais baixa no futuro”, conclui. 


SOBRE A AUTORA

Maira Escardovelli vive entre palavras, números e uma boa dose de poesia. É jornalista e gosta de ter um olhar atento para o que a soc... saiba mais