Um simples parafuso está turbinando a revolução dos robôs humanoides
Parafusos planetários estão se tornando uma peça essencial – e cara – nos robôs da nova geração. E a China está saindo na frente para dominar a produção

A era dos robôs humanoides está prestes a chegar. Modelos de teste já estão em operação em fábricas pelo mundo, trabalhando lado a lado com seres humanos, enquanto empresas de inteligência artificial desenvolvem novos modelos que ajudam esses robôs a se locomover com a mesma facilidade que nós.
Mas um “cérebro” artificial não serve para muita coisa sem um corpo. E a estrutura dos robôs humanoides é feita de vários componentes que precisam ser fabricados.
Além de rolamentos (que ajudam a reduzir o atrito), motores e engrenagens, cada robô humanoide depende de dezenas de parafusos – peças que são fundamentais para transformar o movimento giratório dos motores em movimentos lineares.
Até agora, os parafusos de esferas eram os mais comuns na robótica. Mas um novo tipo está ganhando destaque e pode se tornar indispensável: os parafusos planetários.
“Com o tempo, eles devem representar a maioria dos parafusos usados em robôs humanoides”, dizem os pesquisadores do Morgan Stanley em um relatório publicado em fevereiro deste ano.
Esses parafusos são uma versão mais avançada dos modelos de esferas: aguentam cargas maiores e duram mais – duas características essenciais para conter o desgaste que os robôs vão enfrentar ao longo de sua vida útil.
Os atuadores – descritos como “a joia da coroa das peças móveis dos robôs” – são responsáveis por transformar o movimento rotacional em linear. Essa é uma função extremamente importante na robótica, principalmente nos robôs humanoides, como explica Jonathan Aitken, especialista em robótica da Universidade de Sheffield, na Inglaterra.
“Eles são muito precisos, porque fazem a conversão de ângulo em distância linear percorrida”, diz Aitken. “Em geral, atuadores lineares não lidam bem com carga. Já os rotacionais sim. É uma tecnologia que une o melhor dos dois mundos.”
PARAFUSOS PLANETÁRIOS CUSTAM CARO
Até agora, o grande obstáculo tem sido o custo. Fabricar essas peças com precisão exige uma série de conhecimentos técnicos que poucas empresas no mundo dominam.
“O maior custo de um robô humanoide está nos atuadores”, aponta Scott Walter, consultor técnico da empresa Visual Components e um dos maiores especialistas em design de robôs do mundo. “Cada robô precisa de 40 ou mais deles – ou seja, é uma demanda enorme.”
Pesquisadores do J.P. Morgan estimam que os redutores e os parafusos planetários representam cerca de 33% do custo total das peças de um robô humanoide. Segundo o banco, cada parafuso pode custar de US$ 1,3 mil a US$ 2,7 mil.

Walter admite que, em teoria, seria mais simples usar apenas atuadores rotacionais em todas as articulações, já que seu próprio eixo pode servir como junta. Mas, por enquanto, o preço ainda é um problema.
Isso, no entanto, deve mudar com o tempo. À medida que cresce a demanda e a especialização na fabricação dessas peças, a tendência é que os custos caiam. E a China parece estar liderando essa corrida para dominar o fornecimento global de parafusos planetários.
“Graças à indústria de drones, a China já contava com uma base sólida de fabricantes de atuadores pequenos”, aponta Walter. “As exigências não eram exatamente as mesmas, mas próximas o suficiente para viabilizar a produção em escala dos primeiros protótipos de robôs.”
Fabricar essas peças com precisão exige conhecimentos técnicos que poucas empresas dominam.
As empresas chinesas estão apostando alto no potencial dessa tecnologia. Em outubro de 2024, por exemplo, a Shanghai Beite Technology – que tradicionalmente fabricava peças automotivas – anunciou um investimento de 1,85 bilhão de yuans (cerca de US$ 260 milhões) para construir uma fábrica dedicada exclusivamente à produção de parafusos planetários.
Com isso, os países ocidentais terão que correr para criar suas próprias cadeias de produção. Sobretudo devido à crescente escalada tarifária dos EUA e das tensões comerciais com a China, principal produtora dessas peças.
Mas há uma questão importante a ser considerada. “Ainda não existe uma cadeia de suprimentos estruturada porque os projetos de robôs ainda não estão definidos”, lembra Walter. “Também não há consenso sobre o tamanho dessa cadeia.”
Mesmo assim, pode ser necessário agir rápido, caso a revolução dos robôs humanoides seja realmente tão grande quanto muitos especialistas estão prevendo.