Como o trabalho remoto impacta seu relacionamento com os chefes
Psicólogo explica os prós e contras de estar fisicamente longe de seu gerente
Embora não haja um consenso sobre o retorno em produtividade do trabalho virtual ou sobre o retorno do trabalho em qualquer outro ambiente, as evidências acadêmicas sugerem que, quando os chefes confiam nos funcionários e são capazes de avaliá-los e recompensá-los pelo que eles realmente produzem ou entregam, a abertura ao trabalho virtual aumenta o desempenho e a capacidade de inovação da equipe e da empresa.
Dito isso, a eficácia do trabalho virtual depende de mesclar as modalidades e permitir que as pessoas reabasteçam sua conexão psicológica com algum tempo presencial.
Como o trabalho remoto aumenta a autonomia, o chefe pode sentir uma perda de controle, o que pode parecer perda de poder.
O fato de que trabalhar remotamente pode torná-lo mais produtivo não significa automaticamente que seu chefe vai confiar em você. Na verdade, estudos indicam que, em geral, é mais difícil obter confiança quando se trabalha de casa, principalmente porque os gerentes – como os seres humanos em geral – têm a tendência de acreditar ou confiar naquilo que veem, mesmo que as aparências enganem.
Já antes da pandemia, havia uma tendência bem conhecida de os chefes desconfiarem dos funcionários que trabalhavam de casa, principalmente quando não os consideravam eficientes. Essa visão cética em relação aos trabalhadores remotos foi acentuada pela pandemia, quando as chefias foram forçadas a aceitar o teletrabalho.
NEM TUDO É O QUE PARECE
Há um paradoxo óbvio por trás da crença (alimentada por muitos gerentes) de que os mesmos funcionários que supostamente são desmotivados demais para serem produtivos quando trabalham em casa, de alguma forma se transformarão em máquinas de produtividade se forem forçados a trabalhar no escritório.
A aparência acaba sendo mais forte que a realidade. Quando os chefes veem as pessoas parecendo ocupadas, sentem uma espécie de conforto, ou seja, a ilusão de que sua mera presença pode ter algum efeito motivacional mágico na equipe, levando os funcionários a níveis máximos de concentração e produtividade.
No entanto, o que eles podem estar testemunhando na verdade não é um forte desempenho no trabalho, mas sim gente envolvida em "trabalho performático". É como uma colega minha comentou durante os estágios iniciais da pandemia, quando os escritórios fecharam e ela entrou no esquema de home office: "mas, sem o escritório, como vou fingir que estou trabalhando?"
Ainda assim, há possíveis danos ao relacionamento com o chefe se você decidir ficar trabalhando remotamente com muita frequência. Pesquisas mostram que o teletrabalho reduz a comunicação formal entre o funcionário e seu superior direto, além de aumentar o viés de interpretação, que é o termo acadêmico para mal-entendidos.
Como o trabalho remoto aumenta a autonomia, o chefe pode sentir uma perda de controle, o que, em essência, pode parecer uma perda de poder, em relação a você. Ironicamente, também é menos provável que os funcionários tenham uma opinião positiva sobre os gerentes que trabalham de casa. Ou seja: o sentimento de desconfiança é mútuo.
O fato de que trabalhar remotamente pode torná-lo mais produtivo não significa que seu chefe vai confiar em você.
Se você tem interesse em trabalhar à distância e faz parte da parcela privilegiada da força de trabalho global que pode realmente se dar ao luxo de fazê-lo, trago cinco recomendações para cultivar um bom relacionamento com seu chefe. Ou, pelo menos, para garantir que ele não se deteriore só porque vocês não se veem mais com tanta frequência.
1. Seja muito claro ao delinear suas metas e objetivos
Incentive-o a gerenciar e medir seu desempenho por aquilo que você entrega.
2. Mantenha-o atualizado com frequência sobre o progresso
Permita que monitorem seu progresso sempre que puderem ou quiserem. O ideal é dar acesso a todos os dados ao vivo ou em tempo real sobre o seu desempenho.
3. Agende o tempo presencial necessário
Reunir-se pessoalmente é fundamental para renovar a confiança e reinvestir na conexão emocional e psicológica que pode tornar as reuniões online mais estratégicas, funcionais e orientadas para as tarefas.
4. Não se desconecte da equipe
Independentemente de seus colegas estarem trabalhando em casa ou no escritório – especialmente se eles estiverem no escritório quando você não estiver –, certifique-se de manter contato próximo, entendendo não apenas os detalhes de sua rotina de trabalho, mas também quaisquer aspectos pessoais ou sociais que eles estejam dispostos a compartilhar. Estar fisicamente distante não significa que você precise estar emocionalmente desconectado.
5. Esteja aberto a mudanças
Se houver evidências que sugiram que o trabalho remoto o levou a ser menos eficiente do que era no escritório, admita isso e se ofereça para voltar. A menos, é claro, que você esteja decidido a evitar o presencial (nesse caso, pode considerar uma mudança de emprego).
Em última análise, nada melhor do que uma conversa franca e aberta com seu gerente sobre como ele realmente se sente em relação a você trabalhar remotamente e ajudá-lo a entender por que isso é importante para você.
Lembre-se: tudo se resume a conquistar e aumentar a confiança, que só pode se beneficiar do seu compromisso de ser confiável, acima de tudo.
