O diálogo como tecnologia para lidar com a complexidade do nosso tempo
É papel da liderança de uma organização criar espaços seguros para conversas transparentes e incentivar a escuta ativa
“A melhor arma é sentar e conversar”, declarou o líder sul-africano Nelson Mandela em um documentário sobre sua vida, produzido em 2003, exatamente uma década depois de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz.
Desde então, a complexidade do nosso tempo só aumentou, e o diálogo segue tão ou ainda mais necessário. Afinal, uma conversa com respeito, equidade, inclusão e curiosidade pode resolver conflitos. Uma comunicação deficiente pode criá-los.
Além disso, construir pontes em vez de afastar aquilo que te contradiz ou causa estranheza e incômodo abre oportunidade para que algo novo e extraordinário surja.
Então, por que se dialoga tão pouco?
Nos mais variados tipos de relação, quando alguém polariza, se fecha para a opinião do outro. Ouvir atentamente é um dos princípios universais do diálogo. O contexto digital contemporâneo contribui para que ideias e crenças divergentes se distanciem em bolhas de informação e estimula as reações mais impulsivas.
As frequentes distorções da realidade no ambiente virtual, mal-entendidos e interações que carecem de nuances e tons fundamentais para a comunicação eficaz tornam mais difícil o entendimento mútuo.
E se tem algo que não mudou com a evolução sócio-tecnológica é a necessidade humana de se sentir compreendido. A psicóloga norueguesa Hedvig Montgomery, em entrevista ao Nobel Peace Center (organização que promove a conscientização sobre o poder do diálogo), explicou que toda pessoa, desde o recém-nascido até idosos, precisa se sentir compreendida.
Cada vez que conseguimos proporcionar essa experiência uns aos outros é uma pequena contribuição para tornar o mundo um lugar melhor.
Agir como agente de diálogo e da escuta ativa é um grande desafio, porque envolve criar conexão e encontrar similaridades com aquilo e aqueles que são diferentes. Pode ser uma jornada desconfortável e cansativa, mas extremamente poderosa em seus resultados.
Pegue um ambiente de negócios, por exemplo. Diariamente, um profissional precisa compreender, se fazer entender, negociar, incentivar e convencer pessoas de origens, faixas etárias, conhecimentos, necessidades e valores heterogêneos, sejam elas clientes, parceiros, colaboradores ou concorrentes.
construir pontes em vez de afastar aquilo que te contradiz abre oportunidade para que algo novo e extraordinário surja.
Quantas vezes não se evitam as conversas difíceis, se remói o que está mal resolvido, não se consegue dar o feedback que gostaria?
Relações que não estão muito azeitadas, silos que se formaram, decisões que não envolveram todos que precisavam ser envolvidos podem eventualmente acontecer.
Ter condições de falar sobre tudo isso é fundamental. Dentro do universo dos negócios, fica claro que o diálogo não é apenas uma habilidade, mas uma tecnologia social que permite a inovação e a prosperidade a partir de diferentes perspectivas e interesses.
COMO PROMOVER O DIÁLOGO?
Precisamos criar espaços seguros, física e psicologicamente, nos quais todos se sintam à vontade para falar com transparência e sem receio das consequências.
É uma responsabilidade, acima de tudo, da liderança da organização promover a convivência que gera confiança e a compreensão de como cada pessoa funciona, age e reage nas variadas situações, por meio de ferramentas de autoconhecimento. Trata-se de fazer perguntas, ousar falar sobre questões desafiadoras e contribuir para o perdão e a reconciliação.
Por trás das companhias que propagam um bom clima de trabalho, existem líderes dispostos a seguir os passos do bom diálogo, a ter critério nas decisões e a compartilhar as escolhas e a visão da empresa.