Como tornar a IA inclusiva para um Brasil mais longevo
Investir no "age-proofing" da inteligência artificial não é apenas uma questão ética ou social, é um movimento estratégico essencial para as empresas

A inteligência artificial já é realidade nas empresas de todo o mundo, inclusive nas brasileiras, revolucionando processos, impulsionando produtividade e inovação. Mas, à medida que avançamos tecnologicamente, um desafio crucial vem à tona: garantir que essas ferramentas sejam inclusivas também em relação à idade.
Será que estamos preparados para uma sociedade que envelhece rapidamente, fazendo com que tanto a força de trabalho quanto o consumidor sejam cada vez mais maduros?
Atuando há mais de 10 anos com inclusão e capacitação de profissionais 50+ à frente da Maturi, percebo claramente que as empresas ainda têm muito a evoluir na inclusão tecnológica dessa faixa etária.
Muitos profissionais maduros têm demonstrado uma capacidade surpreendente de adaptação tecnológica quando recebem o suporte adequado, derrubando mitos sobre resistência ou dificuldade com novas ferramentas digitais.
De acordo com a ONU, o mundo terá mais de dois bilhões de pessoas acima dos 60 anos até 2050, número que no Brasil pode representar quase 30% da população.
Paralelamente, soluções de IA têm ganhado força em recrutamento, gestão de desempenho e tomadas de decisão organizacionais. Nesse contexto, assegurar que essas tecnologias sejam "age-friendly" é essencial para uma estratégia sustentável e inclusiva.
Os desafios da IA inclusiva diante da diversidade etária são reais. Abaixo elenco alguns deles:
1. Reforço dos vieses etários
A IA pode, inadvertidamente, reproduzir preconceitos etários existentes. Um exemplo é o uso de algoritmos em processos seletivos que acabam favorecendo candidatos mais jovens, excluindo profissionais experientes e qualificados.
Empresas no Brasil precisam agir preventivamente, implementando auditorias rigorosas nos sistemas de IA e revisando regularmente suas bases de dados para evitar exclusões injustas.
Além disso, é fundamental a participação ativa de equipes multidisciplinares (e multigeracionais) no desenvolvimento desses algoritmos para garantir uma visão mais abrangente e evitar vieses involuntários.
2. Mitos sobre a adaptabilidade dos maduros
É comum a percepção errônea de que trabalhadores mais velhos têm dificuldade com novas tecnologias, incluindo IA. No entanto, estudos e a própria experiência da Maturi demonstram que profissionais maduros não só se adaptam rapidamente, como frequentemente oferecem insights mais estratégicos e visão contextual que enriquecem os processos de inovação tecnológica.

Uma pesquisa da Generation & OECD (2023) revelou que 83% dos empregadores reconhecem que trabalhadores maduros têm igual ou maior capacidade de aprender rapidamente em comparação com seus colegas mais jovens, fortalecendo ainda mais o argumento da alta adaptabilidade tecnológica desse grupo.
Eles têm excelente repertório e vocabulário tanto para criar prompts quanto para fazer a análise crítica no uso de IA. As empresas devem, então, desafiar esses estereótipos por meio de comunicação interna e exemplos concretos de sucesso, criando ambientes psicológicos seguros para a aprendizagem contínua dos trabalhadores mais experientes.
3. Velocidade da transformação tecnológica
O ritmo acelerado das mudanças tecnológicas requer um cuidado especial das empresas na inclusão dos profissionais maduros. A falta de treinamento adequado pode afastar profissionais valiosos que poderiam contribuir com sua experiência única.
Programas personalizados de capacitação são fundamentais para garantir que todos se beneficiem igualmente das novas tecnologias.
Investir em educação digital contínua e na criação de redes internas de apoio e troca de experiências pode acelerar bastante a adoção tecnológica pelos profissionais maduros. É fundamental, portanto, investir no “famoso” lifelong learning.
IA INCLUSIVA E ESTRATÉGIAS "AGE-FRIENDLY"
Um novo termo que está sendo usado para tornar processos, tecnologias e políticas organizacionais à prova de preconceitos relacionados à idade é o "age-proofing".
Trata-se de assegurar que pessoas de todas as idades tenham condições iguais para interagir, aprender e se beneficiar das inovações tecnológicas, especialmente da inteligência artificial. Essa prática garante que profissionais maduros não sejam excluídos ou prejudicados pelo avanço das novas tecnologias.
Algumas estratégias para o "age-proofing" da IA nas empresas brasileiras são:
- Design inclusivo: profissionais mais velhos devem participar ativamente do desenvolvimento de soluções tecnológicas, garantindo usabilidade e acessibilidade. Métodos como testes de usabilidade frequentes com grupos diversos e feedback contínuo ajudam a assegurar que a tecnologia seja intuitiva e prática para todas as gerações.
- Gerenciamento ético de dados: implementar políticas rigorosas de gestão e análise de dados para garantir que algoritmos não reforcem preconceitos etários. As auditorias regulares e transparentes dos sistemas utilizados em processos decisórios são essenciais para identificar e corrigir eventuais desvios rapidamente.
- Flexibilidade no trabalho: oferecer modelos de trabalho mais flexíveis, permitindo que profissionais maduros sigam contribuindo ativamente conforme suas necessidades evoluem. Exemplos incluem horários flexíveis, trabalho remoto ou híbrido e opções de jornada reduzida que permitam uma transição gradual para a aposentadoria.
- Capacitação direcionada: criar programas específicos de treinamento que considerem o perfil de aprendizado e experiência dos profissionais acima de 50 anos. Esses treinamentos devem ser desenhados com foco prático, destacando aplicações concretas da IA inclusiva no dia a dia e abordando diretamente eventuais inseguranças tecnológicas.
- Mentorias bidirecionais: incentivar programas de mentoria tradicional e reversa, promovendo trocas de conhecimento e experiência entre gerações. Essa dinâmica favorece a inclusão tecnológica dos profissionais mais maduros e, ao mesmo tempo, oferece aos mais jovens o acesso a uma valiosa experiência prática e estratégica.
é preciso garantir que a IA seja inclusiva também em relação à idade.
Investir no "age-proofing" da inteligência artificial não é apenas uma questão ética ou social, é um movimento estratégico essencial para as empresas que desejam inovar continuamente e se destacar no cenário competitivo do mundo corporativo, aproveitando ao máximo todo o potencial da diversidade etária.
Ao agir de forma proativa, as empresas poderão não apenas reduzir o impacto negativo do envelhecimento populacional, mas também criar uma cultura organizacional mais rica, diversa e preparada para enfrentar os desafios do futuro com inovação e sustentabilidade, transformando o envelhecimento populacional em oportunidade e resultados positivos concretos.