Legado e inovação: o poder da experiência 50+ no futuro do trabalho

A experiência dos profissionais 50+ é um dos maiores ativos que uma empresa pode ter

Créditos: Barbara Olsen/ Pexels/ Freepik

Mórris Litvak 4 minutos de leitura

A transformação que vivemos nas empresas brasileiras tem sido impulsionada por duas forças que, à primeira vista, podem parecer antagônicas: a evolução tecnológica acelerada e a necessidade de preservar o conhecimento acumulado pelos profissionais 50+.

Como especialista no mercado 50+ à frente da Maturi há 10 anos, tenho acompanhado de perto como a saída dos colaboradores seniores – em meio a um cenário de aposentadorias em ritmo acelerado – vem afetando a capacidade de inovação e a continuidade dos negócios.

De acordo com um relatório da Gartner, estamos diante de uma verdadeira “crise de oferta de expertise”: em 2025, a maior proporção da força de trabalho já registrada atingirá a idade de aposentadoria nos EUA, drenando as organizações de funcionários que, com anos de vivência e aprendizado, são pilares na transmissão do conhecimento institucional.

A tecnologia, por sua vez, vem substituindo muitas tarefas que antes serviam como ponto de partida para o aprendizado prático dos novatos, intensificando ainda mais o gap de conhecimento entre gerações. Por aqui, temos visto cada vez mais as empresas citarem a falta de mão de obra qualificada como empecilho para crescer, bem como a crise do alto turnover em diversos setores. 

O problema

  • Enquanto os profissionais mais experientes deixam as empresas, a tecnologia – especialmente a IA – tem assumido diversas funções que antes eram essenciais para o desenvolvimento inicial dos colaboradores juniores.
  • Isso significa que os novos talentos muitas vezes não têm a oportunidade de aprender na prática, pois atividades rotineiras e de suporte, antes executadas por eles, agora são automatizadas.

O impacto

  • Com menos profissionais 50+ disponíveis para treinar a próxima geração, as empresas correm o risco de não formar novos especialistas na velocidade necessária.
  • A pesquisa da Gartner, realizada em maio de 2024, mostrou que seis em cada 10 colaboradores não recebem o coaching necessário para sustentar suas habilidades principais, o que compromete a capacidade de inovar e manter a competitividade.
  • Esse vácuo de expertise prejudica tanto a produtividade quanto a capacidade de adaptação da organização em um mercado em rápida evolução.

A oportunidade

  • As empresas podem mitigar essa perda de conhecimento ao adotar programas de mentoria e de “apprenticeship”, que promovem a troca de experiências e asseguram a formação de novos especialistas.
  • O uso de ferramentas de inteligência coletiva, como sistemas de gestão do conhecimento, possibilita mapear as áreas mais afetadas pelas aposentadorias e documentar práticas valiosas que não podem se perder.
  • Investir em benefícios e políticas que apoiem a força de trabalho sênior, como por exemplo apoio para quem está passando pela menopausa e investimento em lifelong learning, entre outros. Lá fora, até a licença para avós (grandparent leave) já é uma realidade crescente, e mostra um comprometimento em manter profissionais maduros ativos e motivados. Ao mesmo tempo, reconhece a realidade familiar de quem precisa conciliar trabalho com cuidados aos netos. No Brasil é muito comum a geração sanduíche, de mulheres maduras que cuidam de pais idosos e filhos adolescentes ao mesmo tempo.

A INTEGRAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E TALENTO HUMANO

O cenário de aceleração tecnológica abre inúmeras oportunidades, mas também pode reduzir os momentos de aprendizado prático dos novatos. Ferramentas de IA podem e devem ser usadas de forma estratégica para ampliar a inteligência coletiva, permitindo que o conhecimento flua entre diferentes níveis hierárquicos.

Ao mesmo tempo, é crucial criar espaços e processos para o contato humano, nos quais profissionais 50+ atuem como mentores, garantindo que o know-how acumulado não se perca (gestão do conhecimento).

Retenção e transferência de conhecimento dos profissionais 50+

  • Programas de mentoria: permitem que colaboradores mais experientes orientem os mais jovens de forma estruturada, preservando a memória institucional.
  • Microaprendizagens: conteúdos curtos e objetivos, que podem ser criados a partir de soluções digitais, transformando a expertise dos sêniores em conhecimento acessível a toda a organização.
  • Políticas de benefícios familiares: a adoção de iniciativas relacionadas a longevidade pessoal e profissional reforça a ideia de que a experiência do profissional 50+ é valiosa, e de que a empresa entende suas necessidades.
  • Identificação de áreas críticas: o mapeamento das funções ou setores onde há maior risco de aposentadoria iminente ajuda a priorizar a documentação de processos e a formação de sucessores.

A FORÇA DO MERCADO 50+


No Brasil, o mercado de trabalho 50+ oferece oportunidades únicas, mas ainda enfrenta desafios como o etarismo e a falta de programas de formação continuada.

Ao reconhecer que esses profissionais trazem não apenas expertise técnica, mas também inteligência emocional e visão estratégica, as empresas podem criar ambientes de trabalho mais inclusivos, diversificados e inovadores.

profissional sênior analisa um  relatório  com cara de dúvida

Quando transformamos a saída dos colaboradores seniores em um processo de legado e aprendizado contínuo, não apenas preservamos a história da organização, mas também impulsionamos uma nova era de competitividade.

Nesse contexto, a licença para avós exemplifica como políticas de RH mais abrangentes podem apoiar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, possibilitando que colaboradores maduros continuem a contribuir com toda a sua experiência, sem abrir mão de suas responsabilidades familiares.

Em resumo, diante da intensificação do gap de expertise e do ritmo acelerado das aposentadorias, cabe aos líderes empresariais adotar uma postura proativa e visionária. Programas de mentoria, sistemas de inteligência coletiva e políticas de suporte à vida familiar são caminhos que podem transformar esse cenário de risco em uma oportunidade de crescimento sustentável.

Afinal, a experiência dos profissionais 50+ é um dos maiores ativos que uma empresa pode ter – e valorizá-la é fundamental para assegurar inovação, resiliência e sucesso em um futuro de constantes mudanças.


SOBRE O AUTOR

Mórris Litvak é fundador e CEO da Maturi, plataforma líder no Brasil para profissionais 50+. Engenheiro de Software pela FIAP, com pós... saiba mais