Está sem tempo? Como fomentar a cultura de aprendizagem mudando 3 atividades do dia a dia

A liderança tem um papel essencial em fomentar a cultura de aprendizagem, ao mesmo tempo em que atua na transformação do negócio

Créditos: Massonstock/ iStock/ Sunder Muthukumaran/ Marvin Meyer/ Unsplash

Clara Cecchini 4 minutos de leitura

Fal-ta-de-tem-po. Essa é a justificativa mais abrangente, versátil e verdadeira que conheço. Qualquer pesquisa que pergunte os motivos que bloqueiam o aprendizado no dia a dia das empresas levará a essa mesma resposta. 

E, veja bem, não é uma desculpa. É fato que as pessoas estão sobrecarregadas de atividades e de demandas emocionais, por terem que fazer mais e de forma diferente do que estão acostumadas. Mas também é fato que fortalecer a cultura de aprendizagem é indispensável para superar os atuais desafios das organizações.

A pesquisa 2024 Workplace Learning Report,do LinkedIn, diz que empresas com cultura de aprendizagem forte têm 57% mais de retenção, e que oito em cada 10 pessoas dizem que aprender traz propósito ao trabalho. São dados que confirmam o que percebemos na prática.

A liderança tem um papel essencial em fomentar a cultura de aprendizagem, ao mesmo tempo em que atua na transformação do negócio. Mas, como cuidar das duas coisas? Entender que é possível integrá-las nas atividades do dia a dia pode não resolver tudo, mas já é um excelente começo. 

Faz parte da atuação de qualquer liderança conseguir tomar perspectiva e sair do modo reativo, usando as possibilidades que o dia a dia traz (mesmo no caos) para transformar a realidade (não controlável) em algo melhor (não perfeito).

Aprender no trabalho não depende de circunstâncias ideais, mas, muitas vezes, a forma que tentam nos ensinar leva a esse entendimento. “Isso não se aplica à minha realidade” – se não falamos essa frase, ao menos pensamos nela em grande parte dos treinamentos de que participamos nas empresas.

Pois bem, quando falamos de cultura de aprendizagem, gestores de equipes têm nas mãos a oportunidade de transformar o dia a dia em um processo contínuo de aprendizado, integrado verdadeiramente ao trabalho. Aplicado à realidade, por essência e por origem. 

fomentar a aprendizagem faz parte da essência do que é ser líder.

Para isso, é fundamental que líderes tenham intenção e técnica, mas não precisa ser PhD em educação. O segredo está em como fazer as atividades cotidianas. Claro que um pouco de investimento de tempo é necessário, mas pode confiar: é fazer devagar para acabar rápido. E para fazer mais rápido da próxima vez.

Agora, dicas de como fomentar a cultura de aprendizagem no dia a dia da sua equipe, trazendo mais intencionalidade de desenvolvimento às atividades que vocês já fazem.

1. Comece pelo básico: organize seus arquivos

As pessoas percebem o próprio aprendizado ao ganhar autonomia para realizar as tarefas, e se elas não conseguem encontrar as informações, continuarão a depender de você. Os impactos da desorganização da liderança na cultura de aprendizagem são relevantes.

Quando o líder não localiza um arquivo e interrompe alguém para solicitá-lo, além do prejuízo da interrupção em si, ele coloca a pessoa no papel de apoio, delimitando um espaço de crescimento.

A disciplina para trabalhar de forma assíncrona é essencial, seja no remoto ou no presencial. O retorno sobre o investimento de tempo aqui é praticamente imediato, porque você logo vai notar os benefícios de encontrar um arquivo de que precisa sem pedir a ninguém. Prosaica essa dica, né? Mas é como manter uma rotina de exercícios: a gente sabe que precisa, mas vive deslizando. 

2. Coloque a lente da aprendizagem nas reuniões recorrentes

Só há duas razões para as pessoas participarem de agendas nas quais não têm responsabilidade direta pela pauta: estarem informadas e contribuírem umas com as outras (formas de aprendizado).

Um cuidado básico é criar estratégias para que as pautas informativas sejam de mais fácil assimilação. Trazer contexto, cuidar da preparação e respeitar o tempo são cuidados simples e efetivos. Mas também é importante ir além do informativo, dedicando tempo a trocas – como a discussão de questões que precisam ser solucionadas – e compartilhamento de aprendizados.

Gestores tradicionais dirão que essa não é pauta para reunião de alinhamento, mas a reunião é sua e você pode desenhar a pauta como melhor funcionar para você e seu time. Costumo separar explicitamente os momentos (informativo e de discussão de questões previamente acordadas). Isso faz uma hora render maravilhas, em resultado e em aprendizado. 

Fazer perguntas curiosas é outra forma de transformar agendas recorrentes em aprendizado. E fomentar que as pessoas também façam perguntas com interesse genuíno – cortando pela raiz e pelo exemplo aquele mal que é a tentativa de exposição disfarçada de pergunta. 

3. Passar uma nova demanda, delegar uma atividade ou tarefa pela primeira vez

Eu sei que você já faz isso de forma organizada ;), mas convido a explicitar os pontos de aprendizado. Mesmo quando a pessoa domina tecnicamente a tarefa, você pode inserir algum ponto de desenvolvimento comportamental.

Por exemplo: “além de fazer o relatório, prepare-se para apresentá-lo na reunião do conselho, trabalhando a objetividade da sua fala, indo mais direto aos pontos relevantes. Faz sentido para você focarmos nesse ponto de desenvolvimento?” E, claro, forneça apoio e dê feedbacks específicos, com exemplos e direcionamentos em relação ao que foi pactuado. 

    Tenho certeza de que, se você calculasse o retorno (de aprendizado e de resultado) sobre o investimento (de tempo) dessas ações, teria um ROI nunca visto. Calcula e me manda! Só por curiosidade, pois eu não preciso de números: sigo acreditando que fomentar a aprendizagem faz parte da essência do que é ser líder.

    A recompensa é a própria realização da tarefa.


    SOBRE A AUTORA

    Clara Cecchini é especialista em aprendizagem organizacional, consultora, escritora e palestrante, além de coautora do livro "Aprendiz... saiba mais