Você é bom de papo? Este recurso torna as conversas mais claras e produtivas
Se você quer evitar mal-entendidos e situações constrangedoras, descubra maneiras de planejar conversas importantes no ambiente de trabalho
Se você já saiu de uma conversa querendo abrir um buraco no chão e sumir, então já sabe que conversar com alguém e chegar a um entendimento mútuo pode ser mais complicado do que parece.
As conversas são como jogos de coordenação, parecidos com aquele jogo em que dois carros vão em direção um ao outro para ver quem desvia primeiro. É como se duas pessoas tentassem alinhar seus comportamentos, explica Alison Wood Brooks, professora da Harvard Business School e autora do livro Talk: The Science of Conversation and the Art of Being Ourselves (Conversa: A Ciência do Diálogo e a Arte de Sermos Nós Mesmos).
“Você está tentando se coordenar e chegar a um resultado que seja bom para os dois lados”, diz ela. “Mas conversas são ainda mais complicadas, porque você faz escolhas a todo momento, tentando alinhar seus objetivos e preferências com os da outra pessoa.”
Por exemplo, durante uma conversa, você precisa decidir sobre os temas que vai abordar e as perguntas que vai fazer ou deixar de fazer. Deve escolher entre fazer uma piada ou um elogio. Quando é melhor falar e quando é hora de escutar? São diversas decisões e ajustes constantes.
Quando acontecem mal-entendidos ou momentos constrangedores, geralmente é por problemas de coordenação. Alguns são mais evidentes, como ter uma linguagem corporal que não combina com o que você está sentindo. Outros problemas são mais sutis e ocorrem abaixo da superfície.
“Imagine que eu estou animada e você está triste. Nós íamos precisar alinhar essas diferenças emocionais. Além disso, temos nossos próprios objetivos. Talvez eu queira te dar um conselho, mas você não queira ouvir conselhos. Esse é outro tipo de problema de coordenação”, explica Brooks.
TRANSFORMANDO CONVERSAS EM COORDENAÇÃO
O sucesso de uma conversa depende dos objetivos dos envolvidos. Por exemplo, às vezes você só quer se divertir. Outras vezes, está apenas matando tempo. Talvez sua intenção seja convencer alguém a concordar com você, ou queira aprender mais sobre a outra pessoa.
Para organizar essa variedade de metas, Brooks sugere entrar em uma conversa com clareza sobre o que é importante para você, o que quer alcançar, quais são suas prioridades e como seria o sucesso dessa interação. Ela sugere usar uma "bússola de conversação" para mapear esses objetivos.
A bússola funciona como uma ferramenta que nos lembra de nossos objetivos.
O eixo X representa os objetivos relacionais. Em uma ponta, estão os objetivos altamente relacionais, que são coisas que beneficiam a relação ou a outra pessoa com quem você está falando. Na outra ponta, estão os objetivos pouco relacionais, que são voltados para seus próprios interesses.
O eixo Y representa os objetivos informativos. Objetivos altamente informativos envolvem trocar informações precisas. “Isso é frequentemente considerado o principal propósito das conversas e a razão pela qual os humanos desenvolveram a linguagem”, explica Brooks.
Já os objetivos pouco informativos envolvem proteger a si mesmo, gerenciar seu tempo ou apenas querer matar o tempo ou se divertir. “Muitos objetivos não têm nada a ver com troca de informações. É importante lembrar o quanto esses objetivos podem ser importantes enquanto conversamos.”
Um exemplo de conversa com alta informação e baixa relação pode ser sobre como avançar na sua empresa. Já uma conversa com alta informação e alta relação pode ser sobre se conectar mais profundamente com alguém.
Conversas com alta relação e baixa informação podem demandar seu tempo e a abertura da sua intimidade, enquanto conversas com baixa relação e baixa informação podem ser apenas para ser educado.
COMO A BÚSSOLA AJUDA
Brooks ressalta que todos os quadrantes são válidos. “Você pode até achar que deveria estar sempre no quadrante superior direito, que é altamente informativo e altamente relacional”, diz ela. “Mas essa não é a ideia da bússola. Ela é apenas um modelo para descrever o que é importante para você, e as diferentes situações vão se encaixar em todos os quadrantes.”
O sucesso de uma conversa depende dos objetivos dos envolvidos.
A bússola funciona como uma ferramenta que nos lembra de nossos objetivos. No ambiente de trabalho, ela pode ajudar a alinhar as expectativas ao ser explícito sobre o que você espera da conversa. Você pode perguntar: “o que seria sucesso para você nesta conversa, reunião ou projeto?”. Isso também ajuda a outra pessoa a esclarecer o que ela considera um bom resultado.
Às vezes, os objetivos mudam no meio da conversa e é preciso se adaptar. Pode ser que você nem perceba o que realmente importa até o momento em que a coisa já está acontecendo. Nesses casos, Brooks diz que a autoconsciência pode ser uma grande aliada.
“Conversar é surpreendentemente complicado. Enxergar isso como um jogo de coordenação que se desenrola com o tempo pode te dar mais paciência e compreensão, tanto com você mesmo, por não ser perfeito, quanto com os outros, por também não serem perfeitos”, conclui.