É possível ser criativo em escala industrial?

Criar, ousar e experimentar são atividades que caracterizam algumas das empresas mais adoradas e eficientes do mundo. Em consequência, mesmo empresas bastante tradicionais se sentem obrigadas a exaltar que são criativas em suas equipes, culturas e visões, mesmo que seja só quando convém. 

Sabemos que não é tão simples lidar com pessoas criativas. O resultado é imprevisível e, frequentemente, incômodo – elas questionam, propõem mudanças, desequilibram. E o modelo tradicional de qualquer indústria ou serviço valoriza a previsibilidade: produzir de maneira regular, um produto depois do outro, na mesma velocidade.

Como então ser inovador em um ambiente que é avesso à criatividade? Algumas tentam eliminar ao máximo a criatividade – quando for preciso, criam um grupo de trabalho ou chamam uma consultoria – ou a limitam a laboratórios específicos ou a um time de pessoas que podem fazer coisas “diferentes”. Criatividade, ali, é um produto para ser feito sob demanda, isolado de todo o resto. 

Em outros casos, a criatividade é inteiramente feita por iniciativas pessoais dos funcionários, de forma quase clandestina, e valorizada apenas quando “dá certo”. O ato criativo é tratado como uma atividade de marketing – importa mais a divulgação do que o processo, o aprendizado ou o valor que ele pode trazer. 

Mas qualquer empresa que leve inovação a sério sabe que a criatividade nunca foi sobre o produto final. Ela é extraordinariamente sobre o meio: o processo em si. É uma “ferramenta” que requer tempo, paciência e espaço para respirar.

Às vezes, a criatividade vem de onde menos esperamos, e isso é parte do que a torna tão fascinante.

Ela tampouco surge somente porque existiu uma requisição. Trabalhar com criatividade, mesmo que em um contexto corporativo, é bem mais parecido com o fazer arte –  imprevisível, desafiador e profundamente pessoal. 

O resultado é que o enorme valor que poderia ser obtido com pessoas criativas é desperdiçado. O impacto negativo para a empresa é potencialmente enorme (ainda que nem sempre elas parem para medi-lo). Mas também é gigante o custo para alguns de seus melhores funcionários, tanto em esforço quanto em frustrações e insegurança psicológica. 

Inserir criatividade em uma empresa tem menos a ver com dominar novas tecnologias do que com mudança de mentalidade. É preciso saber lidar com pessoas criativas e dar espaço para que elas tragam resultados. Existem diversas maneiras de se fazer isso, mas trago abaixo algumas práticas que podem ajudar.

1. Abraçar o mistério

Às vezes, a criatividade vem de onde menos esperamos, e isso é parte do que a torna tão fascinante. Em vez de tentar controlá-la totalmente, devemos aprender a conviver com sua natureza imprevisível e aproveitar os momentos em que ela aparece.

2. Cultivo do espaço

Dê ao criativo(a) espaço para se testar. Isso significa tempo livre de distrações e compromissos, onde o único objetivo é explorar ideias sem pressão por resultados imediatos. Espaços físicos que inspiram e estimulam a mente também fazem diferença — ambientes que falam à sua alma criativa.

3. Processo orgânico

É bom ter rotinas, mas é essencial inserir a flexibilidade à consistência. A criatividade muitas vezes surge de um processo não linear, cheio de tentativas e erros. Permita que seu processo criativo mude e evolua naturalmente. 

4. Colaboração inspiradora

A interação com outros criativos pode abrir outras portas e oferecer perspectivas novas, permitir que a equipe criativa cultive colaborações que desafiem e expandam seu pensamento. A criatividade muitas vezes se acende na faísca de ideias compartilhadas.

5. Paciência para perseverar

A calma e o respeito ao tempo são essenciais, pois a maior entrega de um criativo é o processo, e não o final. Não forçar o caminhar é muito importante para nutrir uma mente criativa que possa superar qualquer bloqueio.

6. Ser gentil (consigo mesmo e com os outros)

A criatividade é uma dança delicada entre o conhecido e o desconhecido, entre a estrutura e o caos, entre a persistência e a paciência. Precisamos ver o ato criativo como uma experiência a ser vivida, não como um problema a ser solucionado.