O segredo para exercer influência: validar os sentimentos do outro

A validação mostra que você está presente, que entende e se importa. É diferente de simplesmente elogiar ou concordar

Crédito: Freepik

Caroline Fleck 5 minutos de leitura

O segredo para influenciar os outros não está no seu poder de persuasão, e sim na sua capacidade de demonstrar validação. Reconhecer e validar as experiências da outra pessoa pode fortalecer relacionamentos, aliviar conflitos e até aumentar a autocompaixão.

Veja a seguir cinco conselhos de como aproveitar o impacto transformador da validação.

1. VALIDAÇÃO NÃO É O QUE VOCÊ PENSA

Minha definição técnica de validação é que ela é uma forma de comunicar atenção plena, compreensão e empatia, transmitindo aceitação. Se eu fosse traduzir isso em uma frase, seria “a validação mostra que você está presente, que entende e se importa.”

Validação não é elogio

Elogio é um julgamento. É dizer algo do tipo “gosto da forma como você se apresenta ou como você faz algo.” Já validar é demonstrar aceitação. É dizer “aceito quem você é, independentemente de como se apresenta ou age.” Quando as pessoas dizem que não devemos depender da “validação externa”, elas estão confundindo validação com elogio.

Validação não é resolução de problemas

Resolver problemas geralmente significa tentar mudar a reação de alguém, sugerindo soluções. A validação, por outro lado, foca em reconhecer a dureza de uma situação e a validade da resposta de alguém a ela.

Validação não é concordância

Se a ideia de validar uma opinião com a qual você discorda te deixa nervoso, fique tranquilo. Validar a perspectiva de outra pessoa não significa necessariamente reforçá-la. Pelo contrário, as pessoas tendem a se enfiar ainda mais na bolha das suas visões quando sentem que precisam defender sua posição ou atacar a posição contrária.

Uma resposta validante de sua parte apenas reconhece que você compreende como o outro chegou àquela opinião, mas não cria ambiente para você ser atacado, muito menos coloca em disputa algo a ser defendido.

2. VALIDAÇÃO É COMO UM BÁLSAMO PARA OS RELACIONAMENTOS

A validação melhora os relacionamentos ao mudar como nos sentimos, aumentando a confiança e a segurança psicológica. Pesquisas mostram que a validação está entre os maiores fatores de previsçao de bons resultados em relacionamentos, que vão desde o compromisso até a qualidade em diversos tipos de relações.

O mais importante é que a validação é essencial para todos os nossos relacionamentos, inclusive o que temos com nós mesmos. Saber como validar suas próprias emoções é essencial para desenvolver o amor próprio e melhorar a maneira como você se relaciona consigo mesmo.

3. VALIDAÇÃO É UM CATALISADOR PARA A MUDANÇA

A questão de saber se validar alguém pode levar essa pessoa a mudar seu comportamento depende do quanto a validação é percebida como algo satisfatório. Qualquer coisa que seja gratificante tem o potencial de funcionar como “reforço positivo” – uma recompensa dada após um comportamento que aumenta a probabilidade de ele ser repetido.

Crédito: rawpixel

O reforço positivo ativa o centro de recompensa do cérebro, liberando neurotransmissores como a dopamina, que geram sensações de prazer. Estudos de neuroimagem demonstraram que se sentir compreendido estimula esses mesmos centros de recompensa, além de áreas relacionadas à conexão social.

4. VALIDAÇÃO É UM CONJUNTO DE HABILIDADES QUE SE PODE APRENDER

Terapeutas são treinados em habilidades específicas que os ajudam a comunicar validação de maneira confiável e autêntica. Adaptei essas habilidades de terapeutas, para que elas pudessem ser usadas por qualquer pessoa em qualquer relacionamento.

O modelo se chama Escada da Validação. Ele inclui três conjuntos de habilidades que correspondem às três principais qualidades da validação. Você tem duas habilidades para transmitir atenção plena, três para compreensão e três para empatia.

Atenção plena

Um exemplo de habilidade de atenção plena é quando você se concentre em responder duas perguntas: qual seria uma maneira melhor de expressar o ponto de vista daquela pessoa e por que isso é importante para ela.

Essas perguntas servem para guiar a forma como você ouve. Ao focar nelas, você tende a demonstrar mais engajamento e a fazer perguntas mais direcionadas de forma natural, em vez de se concentrar em formular uma resposta ou deixar sua mente divagar.

Compreensão

Para aplicar habilidades de compreensão é preciso ver de verdade a lógica na resposta do outro. Por exemplo, se você consegue imaginar que reagiria de maneira semelhante ao que a outra pessoa está vivenciando, é só dizer algo como "talvez eu tivesse pensado o mesmo.”

Ao indicar que a reação de alguém é condizente com o que você pensaria, sentiria ou faria naquela situação, você transmite que aquilo é compreensível.

Empatia

As habilidades de empatia são as mais validadoras, pois transmitem atenção plena, compreensão e consideração de uma só vez. Por exemplo, você pode se emocionar se alguém estiver contando uma história triste ou pular de alegria quando compartilham boas notícias.

Muitas das habilidades na Escada da Validação são coisas que você provavelmente já ouviu falar ou já praticou antes. O poder transformador delas só se torna aparente quando você aprimora a sua capacidade de saber quando usá-las.

Oferecer validação a alguém é como assar um bolo: o passo a passo parece simples, mas se um iniciante e um mestre padeiro seguirem a mesma receita, o resultado será bem diferente. O tempo, a técnica e saber como mudar de direção quando necessário – esses pequenos ajustes determinam se a pessoa será ou não incentivada pela validação que você oferece.

Crédito: Freepik

5. SEJA SINCERO

Você deve validar a experiência de alguém na medida em que realmente considere que ela é válida. O objetivo é encontrar o “cerne da verdade” na experiência de alguém e validá-lo. De modo geral, a experiência de uma pessoa é composta pelos seus pensamentos, emoções e comportamentos.

Psicólogos consideram os pensamentos válidos se forem lógicos ou razoáveis com base nos fatos da situação. Os comportamentos são considerados válidos se forem eficazes em relação aos objetivos de longo prazo de alguém.

a validação mostra que você está presente, que entende e se importa.

Quanto às emoções, bem, você pode deduzir que as emoções são sempre válidas. E, vai por mim, ninguém quer entrar na seara de discutir com os outros sobre como eles se sentem.

Reconhecer o que é válido não significa que você não pode trabalhar para mudar o que é inválido ou problemático. Pelo contrário, se os últimos 30 anos nos ensinaram algo, é que as pessoas são muito mais receptivas para colaborar, receber críticas e até mudar quando sentem que foram vistas e validadas em sua experiência.

Este artigo foi publicado no Next Big Idea Club e reproduzido com permissão. Leia o artigo original


SOBRE A AUTORA

Caroline Fleck é psicóloga, consultora corporativa e professora clínica adjunta na Universidade de Stanford. saiba mais