A economia da atenção desafia a lógica de como pensamos as relações de trabalho
Com a fragmentação da atenção, o propósito organizacional precisa competir por atenção com as redes sociais
Houve um tempo em que as empresas chamavam a atenção das pessoas pela marca, segmento de negócio ou até mesmo pelo tipo de produto. Trabalhar em algumas empresas era quase como uma medalha de honra ao mérito.
Com o passar do tempo, essa premissa deixou de ser uma verdade absoluta. Mesmo na era das piscinas de bolinha, comida de graça e videogames, as pessoas seguem pedindo demissão e adoecendo mentalmente.
Com a pandemia, o trabalho remoto se consolidou. A possibilidade de não mais precisar trocar as horas de sono por horas no trânsito, além de outros benefícios, foi rapidamente aceita, nos fazendo até questionar o ‘porquê’ de não termos feito isso antes.
Porém, toda mudança vem recheada de desafios e, nesse caso, para a cultura das organizações – o que tem deixado profissionais de RH de cabelo em pé. Construir e fortalecer uma cultura exige atenção para o porquê, mas atenção está em falta no mercado.
Veja se isso já aconteceu com você: você pega o celular para mandar uma mensagem importante e, uma hora depois, percebe que passou um bom tempo e já não lembra mais para que havia tirado o celular do bolso.
Se identificou? Pois bem, estamos hackeados pelas telas e seus sofisticados algoritmos que nos mantém presos em um scroll infinito e viciante. Esse fenômeno, potencializado pela popularização do celular – que costumo caracterizar como uma "arma de desatenção em massa" –, tem nome: economia da atenção. E é o maior desafio para a cultura das organizações, hoje.
Em 1970, Herbert Alexander Simon, economista, psicólogo e cientista político, refletiu sobre como a atenção humana viraria algo extremamente valioso e que, por isso, seria capitalizada e transformada em mercadoria.
Na ocasião ele disse que “a riqueza de informação cria a pobreza de atenção” e, 54 anos depois, sua teoria se confirma. Vivemos imersos em uma avalanche de informação e desinformação vinda de todos os lados e a todo o tempo, o que o sociólogo e futurólogo Alvin Toffler, também em 1970, no livro "Future Shock" (O Choque do Futuro) chamou de infotoxicação.
Isso tem surtido efeitos diversos na saúde mental, no foco e, consequentemente, na produtividade das pessoas, potencializada pela desconexão da cultura. Como em muitos aspectos da vida, Freud explica por que essa fragmentação acontece.
Esse cenário, de excesso de informação e desatenção em massa desafia a lógica de como pensamos as relações de trabalho até aqui.
No livro "O Mal-Estar na Civilização" (de 1930), o psicanalista afirma que as tensões e conflitos inerentes à vida em sociedade – que inclui, obviamente, o mercado de trabalho – impactam o bem-estar psicológico dos indivíduos e, consequentemente, as interações em seu entorno.
Saímos de uma ideia de atenção coletiva para uma atenção individual e fragmentada, um conflito entre o indivíduo e a cultura. É possível fazer uma fácil conexão como um dos fatores para a falta de engajamento no trabalho.
Com a fragmentação da atenção, o propósito organizacional precisa competir por atenção com as redes sociais. A cultura que busca conexão, colaboração, engajamento e propósito, agora precisa priorizar a captura da atenção para que as pessoas possam se conectar, colaborar com o propósito.
Esse cenário de excesso de informação e desatenção em massa desafia a lógica de como pensamos as relações de trabalho até aqui.
O desafio está posto e vamos precisar olhar para fora das nossas bolhas com o objetivo de refletir sobre como vamos superá-lo e, principalmente, entender para onde caminha o trabalho, do presente e do futuro. Tentarei responder a essas e outras perguntas nos próximos artigos aqui na minha coluna. Conto com a sua atenção.