Depois do “quiet quitting”, agora chegou a vez do “silent firing”

Corte de empregos é uma das medidas que as empresas estão adotando para conseguir dinheiro para pagar os investimentos feitos em inteligência artificial

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George Kailas 3 minutos de leitura

Pode ser que seja necessário inventar um novo termo para a onda de empregos que serão perdidos devido à IA. Para quem não acompanhou, o "quiet quitting" (demissão silenciosa) ganhou força durante a pandemia. As pessoas faziam o mínimo – ou menos – para garantir um salário fácil ou serem demitidas com uma indenização.

Mas o inverso pode estar ganhando força agora. O "silent firing" (que em português também de traduz como “demissão silenciosa”, só que do lado do empregador) é quando as empresas tornam os trabalhos mais difíceis na esperança de que os funcionários peçam demissão, para que seus cargos possam ser automatizados.

O investimento em IA tem todas as características de uma despesa de capital: altos custos iniciais, retorno sobre o investimento (ROI) realizado a longo prazo, e, seguindo o espírito da Lei de Moore, qualquer ativo criado rapidamente perde valor.

Pela minha experiência do lado comprador em fundos de hedge, esses fatores tornam a redução de funcionários inevitável. As empresas precisarão demonstrar retorno nesses investimentos em IA, e, pela perspectiva de ROI, isso significa substituição de empregos.

Isso não é apenas teoria. Se você pensar em uma grande empresa que se preparou para a automação mais do que qualquer outra, colocaria a Amazon ou talvez a Tesla no topo. Quando a Amazon impõe uma semana de trabalho presencial de cinco dias – apesar de 90% dos funcionários se dizerem "insatisfeitos" e 73% estarem pensando em se demitir –, isso não combina com o estilo de escritório "legal" de tecnologia de antigamente.

Será que uma das empresas mais inteligentes e orientadas por dados do mundo esqueceu como usá-los? Esqueceram que, segundo a Global Workplace Analytics, 65% dos empregadores relatam que o trabalho remoto aumentou a produtividade e que 95% relatam que o trabalho remoto aumentou a retenção de funcionários?

Não podemos assumir que a Amazon é ingênua, especialmente quanto a esse último número. Talvez a empresa esteja silenciosamente demitindo funcionários ao tornar o ambiente de trabalho desagradável. Porque a melhor maneira de reduzir a retenção enquanto economiza em indenizações seria remover o trabalho remoto.

Após aumentar o número de funcionários em mais de 5% em 2022, as big techs reverteram todo esse crescimento (e mais) nos últimos 18 meses, de acordo com dados fornecidos pela Live Data Technologies. Esses empregos se foram para sempre?

Em março, as contratações de grandes empresas de tecnologia nos EUA começaram a crescer novamente, após 13 meses de taxas de contratação historicamente baixas. Mas, a partir de maio, as contratações começaram a superar as demissões.

O número de funcionários de big techs ainda está abaixo dos níveis de janeiro de 2022. Cerca de 18% das pessoas que deixaram empresas de tecnologia no ano passado ainda estão desempregadas. As empresas simplesmente não estão valorizando ex-talentos como costumavam fazer.

Fora do segmento de IA e das startups em estágio inicial mais quentes, as contratações de tecnologia estão lentas ou inexistentes, mesmo para ex-alunos de grandes escolas de tecnologia, que antes conseguiam "ser contratados em qualquer lugar" ao se formarem.

Esse cenário pinta um quadro bastante claro: a IA está em ascensão, enquanto o resto do mercado de trabalho está estagnado e/ ou em declínio se olharmos os números de desemprego. O que torna isso ainda mais alarmante é que ainda nem arranhamos a superfície da curva de adoção da IA.

Empresas de tecnologia reduzindo as contratações e criando razões convincentes para as pessoas pedirem demissão é apenas a primeira fase. O que pode vir a seguir?


SOBRE O AUTOR

George Kailas é CEO da plataforma de investimentos Prospero.AI. saiba mais