Mundo corporativo pode ser mais produtivo e mais saudável ao mesmo tempo
A semana de quatro dias traz mais produtividade, mais bem-estar e melhora na saúde mental das pessoas. E, no fim, mais felicidade
O mundo passou por mudanças significativas desde 1926, quando Henry Ford reduziu a semana de trabalho para cinco dias com oito horas diárias. Ford percebeu que reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais não só aumentava a produtividade como também permitia que as pessoas tivessem mais tempo livre para o lazer – o que era essencial para aumentar as vendas de carros.
Ele observou que, quando os trabalhadores tinham apenas um dia livre, geralmente o usavam para descansar. Mas, com dois dias de folga, começavam a buscar atividades de lazer, o que aumentava a importância de possuir um carro.
o Brasil é o país mais ansioso do mundo, o quinto em depressão e o segundo em síndrome de burnout.
Em 1926, o trabalho era caracterizado pelo esforço repetitivo e braçal, enquanto que em 2023 – quase 100 anos depois –, o sucesso no mercado de trabalho dependerá da capacidade de ser criativo, inovador e humano.
Um estudo feito em 2017, no Reino Unido, mostrou que, em média, somos realmente produtivos apenas de 2 horas e 57 minutos por dia, o que sugere que as empresas precisam repensar sua forma de medir produtividade e resultados.
Em um contexto de crescente adoção da inteligência artificial, a presença humana por trás da tecnologia é cada vez mais importante para os negócios.
Além disso, quando olhamos os indicadores de saúde mental, também temos visto grandes desafios: o Brasil é o país mais ansioso do mundo, o quinto em depressão e o segundo em síndrome de burnout.
Então, por que tentamos manter um modelo que talvez já não funcione neste novo mundo corporativo, mais tecnológico e menos fordista?
PROJETO PIONEIRO
Em 2018, Andrew Barnes, fundador da empresa financeira Perpetual Guardian, da Nova Zelândia, passa por essas reflexões e começa a buscar formas de aumentar a produtividade de sua empresa. Dentre seus questionamentos, surge a hipótese: será que essa forma de atuar "always on" está nos prejudicando em vez de aumentar a produtividade?
Com essa hipótese, Barnes inicia em sua empresa um piloto no qual os colaboradores, caso aumentassem a baixa produtividade diária, ganhariam um dia para ter mais tempo livre.
O modelo é 100/ 80/ 100: 100% de pagamento do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade. O piloto foi medido e acompanhado pela Universidade de Auckland para garantir a acuracidade dos dados.
Em um contexto de crescente adoção da IA, a presença humana por trás da tecnologia é cada vez mais importante para os negócios.
O piloto teve resultados positivos e, com isso, ganhou um olhar global, principalmente neste mundo pós-pandemia, que trouxe tantas mudanças em nossas vidas.
Além disso, as novas gerações passam a questionar o trabalho e a priorizar sua saúde mental, bem-estar e felicidade. Em 2023, não queremos um trabalho somente para pagar as contas. Queremos ser felizes, e o trabalho pode ser fonte de realização, significado, boas relações e satisfação – e não mais um fardo.
A jornada de trabalho de quatro dias tem foco principal no aumento da produtividade. Não é tirar um dia da semana, mas redesenhar nossa forma de atuar, fazendo uma melhor gestão de tempo, automatizando processos, delegando e, principalmente, revendo prioridades.
BOM PARA TODO MUNDO
Nos últimos anos, aumentamos o tempo em frente às telas, o tempo em reuniões e passamos quase o dia todo conectados. Está na hora de assumirmos que essa sociedade que não para não é produtiva e está caminhando para o esgotamento.
Será que precisamos de tantas reuniões? Será que conseguimos ser objetivos com a pauta da reunião? Será que precisa de tantos participantes?
A semana de quatro dias traz mais produtividade, mais bem-estar e melhora na saúde mental das pessoas. E, no fim, mais felicidade.
A jornada de quatro dias será uma revolução no mundo do trabalho, possibilitando mudanças na forma de atuarmos.
É bom para a empresa, bom para os clientes e bom para os colaboradores. Bom para a sociedade, também, já que hoje temos grandes desafios em saúde mental. Segundo pesquisa da McKinsey com 15 mil funcionários de 15 países, 59% passaram ou estão passando por um desafio de saúde mental.
A pesquisa aponta ainda que funcionários que estão enfrentando desafios na saúde mental têm uma chance quatro vezes maior de sair da empresa e duas vezes maior de estar desengajados no trabalho. Ou seja, os desafios de saúde mental estão impactando e custando muito para as organizações, além dos impactos na sociedade.
A jornada de quatro dias será uma revolução no mundo do trabalho, possibilitando mudanças na forma de atuarmos, de modo mais produtivo e saudável. No Brasil, o piloto será realizado pela Reconnect Happiness at Work, em parceria com a 4 Day Week Global e o Boston College, e tem início em setembro de 2023.
Mudar certamente não é fácil. Traz desafios, obstáculos e é preciso dedicação e determinação. Mas continuar parados sofrendo também não é. O próximo passo é escolher qual dor queremos enfrentar.