Cada chiclete que você coloca na boca aumenta o plástico no seu corpo

Estudo revela que tanto os chicletes sintéticos quanto os naturais liberam microplásticos na saliva

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Kristin Toussaint 3 minutos de leitura

Mascar chiclete pode parecer algo inofensivo – talvez você só queira um hálito mais fresco, aliviar o estresse ou sentir um gostinho agradável. Mas, sem perceber, pode estar ingerindo milhares de microplásticos.

Isso porque a maioria dos chicletes é feita de plástico. A base usada na fabricação geralmente contém polímeros sintéticos, como acetato de polivinila – um plástico usado em adesivos – e estireno-butadieno, um tipo de borracha plástica encontrada em pneus e solados de sapato.

O plástico já está em toda parte: na água, no solo e até no ar. Ele pode entrar no corpo por meio de alimentos armazenados ou aquecidos em embalagens plásticas. Mas, no caso dos microplásticos no chiclete, essa exposição acontece de forma ainda mais direta.

“Aqui, o próprio alimento é o plástico”, explica Sanjay Mohanty, professor de engenharia na Universidade da Califórnia e principal pesquisador de um estudo piloto que analisou como os microplásticos no chiclete chegam à saliva. O estudo foi conduzido junto com a doutoranda Lisa Lowe.

Mohanty pesquisa microplásticos há anos. Em estudos anteriores, ele analisou como partículas plásticas de fertilizantes podem ser levadas pelo vento e como playgrounds infantis acumulam mais microplásticos do que outras áreas de parques urbanos.

Lowe, que cresceu no Havaí e viu de perto os impactos da poluição, teve a ideia de medir a quantidade de plástico liberada pelo chiclete. Os pesquisadores testaram cinco marcas de chicletes sintéticos e cinco de chicletes naturais, escolhendo as opções mais populares no mercado dos EUA.

Para os testes, Lowe fazia um enxágue bucal antes de mastigar, coletando uma amostra de saliva para medir a quantidade inicial de microplásticos. Em seguida, mascava um chiclete por quatro minutos, cuspindo amostras de saliva a cada 30 segundos.

Os resultados mostraram que, em média, cada grama de chiclete libera cerca de 100 microplásticos – mas algumas unidades chegaram a liberar até 600 partículas. Como a maioria dos chicletes pesa entre dois e seis gramas, um chiclete maior pode liberar até três mil microplásticos.

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Com base nesses números, os pesquisadores estimaram que uma pessoa que masca entre 160 e 180 chicletes pequenos por ano pode ingerir cerca de 30 mil microplásticos.

Antes do estudo, Lowe imaginava que os chicletes naturais liberariam menos microplásticos. No entanto, os testes mostraram que a quantidade era semelhante à dos sintéticos. Ainda não está claro de onde vêm essas partículas, mas uma possível explicação é que elas sejam introduzidas no processo de fabricação.

O plástico já está em toda parte, mas, no caso do chiclete, essa exposição é ainda mais direta.

O estudo também teve algumas limitações: os pesquisadores analisaram apenas microplásticos maiores que 20 micrômetros, que podem ser vistos ao microscópio. Isso significa que partículas menores, conhecidas como nanoplásticos (com menos de 200 nanômetros), não foram contabilizadas. Um fio de cabelo humano tem cerca de 80 mil nanômetros de largura.

Pesquisas anteriores já mostraram que uma única garrafa de água pode conter centenas de milhares de nanoplásticos. “É possível que o chiclete libere muito mais partículas do que conseguimos medir”, afirma Mohanty.

Lowe também testou o impacto do tempo de mastigação, coletando amostras de saliva por mais de 20 minutos. Os dados mostraram que a maior parte dos microplásticos é liberada nos primeiros dois minutos. Após oito minutos, 94% das partículas plásticas já haviam sido expelidas.

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Se você quer reduzir a exposição a microplásticos, mas não quer abrir mão do chiclete, Lowe sugere mascar o mesmo chiclete por mais tempo em vez de pegar um novo com frequência.

Ainda há pouca pesquisa sobre os impactos dos microplásticos na saúde humana. No entanto, há indícios de que eles podem ser prejudiciais ao organismo. “Sabemos que não é algo natural”, diz Mohanty.

Os pesquisadores esperam que este estudo ajude as pessoas a se conscientizarem sobre mais uma forma de exposição aos microplásticos. “Quando você masca chiclete, acha que está apenas sentindo o sabor. Mas, junto com ele, também está ingerindo plástico”, alerta Mohanty.


SOBRE A AUTORA

Kristin Toussaint é editora assistente da editoria de Impacto da Fast Company. saiba mais