Como se recuperar de uma crise de burnout sem trocar de emprego

Comece estabelecendo limites e não fazendo do trabalho a coisa mais importante da sua vida

Crédito: Treety/ GettyImages

Anisa Purbasari Horton 5 minutos de leitura

Parece que todo mundo está se sentindo esgotado com o trabalho. A reação contrária à cultura de trabalhar o tempo todo, a tendência de “fazer apenas o necessário” e a Grande Renúncia são indícios de que cada vez mais as pessoas estão deixando de colocar a carreira no centro de suas vidas.

A pandemia fez com que muitos reavaliassem o que querem da vida. Alguns abriram seu próprio negócio, outros fizeram pausas na carreira ou mudaram para uma completamente diferente. Muitos mudaram drasticamente o estilo de vida, indo para outra cidade ou aproveitando o trabalho remoto para virar nômades digitais.

Mas nem todo mundo pode se dar ao luxo de fazer uma mudança tão drástica. Seja por causa de questões financeiras, compromissos familiares, problemas de saúde ou outros motivos, há casos em que o único caminho viável é permanecer no emprego.

Em um mundo ideal, ninguém deveria ter que continuar em um trabalho que prejudica sua saúde mental. Mas, se você não tiver escolha, há coisas que pode fazer a respeito.

IDENTIFIQUE O BURNOUT

Para se recuperar do burnout, primeiro é preciso reconhecer que está sofrendo desse mal. É um distúrbio que vai além do cansaço. “A exaustão é um dos componentes do burnout, mas há três ao todo”, explica Joe Grasso, diretor sênior de transformação da força de trabalho da plataforma de serviços de saúde mental Lyra Health.

O segundo componente é um “senso de cinismo”. Ele pode se manifestar com a sensação de que “suas contribuições no trabalho não importam, [ou] o que sua equipe ou empresa faz não é importante”. Isso faz com que nos sintamos cansados e acreditemos que nosso papel não é relevante.

O terceiro diz respeito a uma sensação de desalinhamento. “Existe um perfil de pessoas com burnout que realmente desejam causar impacto e são altamente engajadas. Mas, quando se deparam com mais do que conseguem lidar, a sensação de ineficiência torna-se sua fonte de esgotamento.”

Em um mundo ideal, ninguém deveria ter que continuar em um trabalho que prejudica sua saúde mental.

É possível identificar o burnout prestando atenção ao seu humor e níveis de energia quando está no trabalho em comparação com quando não está. Ele também pode se manifestar por sintomas psicológicos, como dores de cabeça, problemas gastrointestinais, náuseas e distúrbios do sono.

REFLITA SOBRE QUAL SERIA A SITUAÇÃO IDEAL

Não há uma única solução que sirva para todos. Mas quem consegue se curar do burnout geralmente é quem tem acesso a recursos e o tempo necessário – seja tirando folga ou recebendo suporte da empresa.

No entanto, nem todos os ambientes de trabalho oferecerão esse apoio. Então, vale a pena considerar qual seria a situação ideal para você, se tivesse uma varinha mágica para realizar seus desejos. É possível, por exemplo, que chegue à conclusão de que, mesmo com recursos ilimitados, você ainda não gosta das atividades que são exigidas nessa função. Isso é um sinal de que o trabalho em si não é adequado.

Por outro lado, esse exercício pode fazê-lo perceber que realmente gosta do seu trabalho, mas que, na verdade, é o ambiente, o arranjo organizacional ou o próprio burnout que está causando problemas. Tara Jaye Frank, estrategista de ações, explica que a pandemia fez com que muitos funcionários subrepresentados ficassem mais conscientes do estresse e das microagressões no local de trabalho.

O burnout pode se manifestar por sintomas psicológicos, como dor de cabeça, problemas gastrointestinais, náusea e distúrbios do sono.

Embora trabalhar de casa tenha seus desafios, alguns descobriram que resulta em menos pressão no trabalho, menos microagressões e menor necessidade de parecer mais profissional. Frank aponta que essa percepção fez com que muita gente visse que, essencialmente, estava “sobrevivendo”, em vez de crescendo.

APRENDA A IMPOR LIMITES

Depois de descobrir de onde vem a fonte do esgotamento, o próximo passo é definir os limites para ajudá-lo a se manter saudável (ou, pelo menos, aliviar a fonte do problema). Frank chama isso de estabelecer “contratos psicológicos” com as pessoas no trabalho.

Como estas são conversas complicadas e delicadas, Frank e Gasso recomendam abordá-las com um tom de “isso é o que me ajudará a ter um melhor desempenho”. Por exemplo, se você está tendo dificuldades com o volume de trabalho, diga ao seu gerente: “gostaria de um suporte sobre como priorizar meu trabalho, para saber no que focar e o que delegar. Se eu não tiver ninguém para delegar, preciso que você me ajude a decidir o que é mais importante.” Dessa forma, você não está apenas jogando o problema no colo do seu superior, mas também propondo soluções.

Se todo o resto falhar, aprenda a separar sua identidade do seu trabalho.

Se o trabalho em si é a fonte de burnout (mas você não tem como procurar um novo emprego), um limite que pode definir é reservar um tempo para pausas mentais. “Se não arranjarmos tempo para nos recuperar, esses fardos se acumulam com o tempo, até ultrapassarmos o limite que podemos suportar”, diz Frank.

DESASSOCIE SUA IDENTIDADE DO TRABALHO

Se todo o resto falhar, Grasso recomenda aprender a separar sua identidade do trabalho. Isso é particularmente importante para grandes empreendedores e perfeccionistas, porque correm maior risco de vincular seu bem-estar emocional e identidade ao sucesso profissional.

Para esses indivíduos, Grasso recomenda ter alguém por perto que possa alertá-los quando estiverem “investindo demais no trabalho” e começando a se afastar de aspectos da vida pessoal.

No fim das contas, Grasso reconhece que problemas relacionados ao trabalho são tanto uma questão organizacional sistêmica quanto individual. “Os empregadores têm a responsabilidade legal de avaliar os riscos à saúde ocupacional de um funcionário, mas geralmente não se atentam à saúde mental”.

“Uma das melhores ferramentas que os empregadores podem oferecer é um programa de gestão que inclua o monitoramento proativo de diferentes perigos e riscos no local de trabalho e a capacidade de agir antes que seus funcionários entrem em um estado de estresse.”


SOBRE A AUTORA

Anisa Purbasari Horton é escritora e editora freelance. Ela cobre a interseção entre trabalho e vida, desenvolvimento pessoal, dinheir... saiba mais